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Seus pés descalços eram levemente arranhados pela grama úmida do jardim, cada passo causando uma leve ardência na pele. Ao erguer o queixo, seus olhos se arregalaram ao reconhecer a fachada à sua frente: uma casa tradicional norte-americana, com a pintura amarela vívida contrastando com as janelas brancas impecáveis. Um nó formou-se em sua garganta quando reparou no céu, tingido pelo mesmo tom acinzentado das cinzas que restam após a madeira ser consumida pelo fogo.

Ela deu um passo vacilante para trás. As pernas tremiam, enfraquecidas pelo peso do que estava sentindo, mas se recusavam a ceder, sustentando-a contra a vontade imensa de desabar sobre a grama em um ato de desespero. As mãos trêmulas mal podiam conter a onda crescente de pânico que tomava seu corpo, e seu coração batia de forma irregular, como se estivesse comprimindo seus pulmões e impedindo que o ar fluísse.

Tomada pela necessidade de escapar, virou-se bruscamente, querendo fugir dali o mais rápido possível. No entanto, assim que seus olhos encontraram o horizonte, ela o viu. Um homem de cabelos ralos e platinados, parado no caminho, Edgar. Seu olhar era cruel, carregado de algo maligno e perturbador. Ele a observava com um sorriso macabro nos lábios, como se estivesse esperando por ela o tempo todo.

Edgar deu um passo à frente, inclinando a cabeça de leve, seus olhos penetrantes não desviavam dos dela, e, com uma voz fria e arrastada, sussurrou:

- Você nunca vai se livrar de mim, praga...

Aquelas palavras ecoaram em sua mente, como se rasgassem sua sanidade. Kate sentiu o chão se abrir debaixo de seus pés, e a pressão em seu peito ficou insuportável. Seus olhos se arregalaram ainda mais, e a respiração travou na garganta. Ela quis gritar, mas nenhum som saiu. Edgar deu mais um passo à frente, sua figura ameaçadora quase tocando a dela, quando...

Kate acordou com um sobressalto, o corpo inteiro encharcado de suor. Suas mãos apertavam os lençóis com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. O quarto escuro parecia estranho à luz fraca da madrugada, e ela ofegava, lutando para se desvencilhar das imagens horríveis que ainda assombravam sua mente. O coração batia tão forte que ela sentia como se fosse rasgar seu peito. Por mais que tentasse respirar fundo, o ar parecia não vir.

Foi só então que percebeu: era apenas um sonho... ou melhor, mais um pesadelo para a sua coleção.

***

O sol suave da manhã iluminava o caminho enquanto Kate e Vini caminhavam lado a lado pela calçada em direção ao colégio. O vento leve balançava os cabelos encaracolados de Vini, que, como de costume, falava animadamente sobre uma variedade de assuntos, a maioria sem muita importância.

- ...e aí, você não vai acreditar, eles trocaram o ator principal no meio da temporada! Tipo, quem faz isso? - Vini gesticulava energicamente, os olhos esbugalhados, claramente indignado.

Kate seguia ao lado dele, os passos sincronizados, mas sua mente estava a quilômetros de distância. As palavras de Vini pareciam ecos distantes, abafadas pela confusão que ainda pairava sobre sua cabeça desde o pesadelo da noite anterior. A lembrança da sua antiga casa, o olhar diabólico de Edgar, e aquelas palavras perturbadoras... "Você nunca vai se livrar de mim, praga." Algo sobre aquilo parecia ainda mais real do que ela gostaria de admitir, como se o passado a estivesse perseguindo, mesmo nas horas em que deveria estar segura em seus próprios sonhos.

Ela cruzou os braços, esfregando-os levemente, numa tentativa de afastar a sensação desagradável que ainda latejava em sua pele. O céu estava de um azul perfeito, os pássaros cantavam, e a brisa da manhã era refrescante, mas nada disso conseguia dissipar o peso que sentia nos ombros.

Minha tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora