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(1 mês depois da mudança...)

Seus olhos passeavam atentamente pela obra Adão e Eva no Paraíso, como se fosse a primeira vez que a via. Cada detalhe parecia um ímã para sua curiosidade, e sua mente viajava, imaginando-se dentro da pintura moldada em dourado.

Algumas pessoas que passavam por perto não deixavam de reparar na jovem solitária de vestido reto floral, com uma camisa creme por baixo. Seu cabelo rebelde estava mais cheio, repleto de ondas douradas que quase alcançavam sua cintura.

Algo ao seu redor alertou sua cabeça. Aquela estranha sensação incômoda de estar sendo observada atentamente. Ela se virou e, sim, algumas pessoas a olhavam por curiosidade, mas não era a fonte de sua estranheza.

Apressou os passos para sair dali à procura de Vini. A cada passo, seu coração palpitava mais rápido, uma agonia inexplicável a cada vez que procurava por um rosto familiar entre inúmeros desconhecidos nas salas repletas de arte.

Gradualmente, sua visão desfocou, e sua respiração ficou cada vez mais falha. Tudo girava, girava, girava e girava...

- Kate? - ela se virou e viu Vini à sua frente, com a testa levemente enrugada.

- Está tudo bem?

"Tudo péssimo."

- Está - forçou ao máximo para que sua voz soasse confiante.

Obviamente, ele não se convenceu. Sabia que algo a incomodava. Decidiu tentar uma estratégia diferente para lidar com a situação.

- Que bom - sorriu de forma singela. - Já vi muitos pintinhos de gesso por hoje, bora tomar um sorvete?

Ela não conseguiu segurar a gargalhada que escapou de sua garganta.

- Qual o seu problema com as estátuas?

- Não é um problema, é só... é esquisito - concluiu.

- Se fossem do tamanho real, seria erótico demais para uma exposição.

Ele franziu o cenho numa careta icônica em resposta ao comentário dela.

- E como a mocinha sabe o tamanho "real"? - questionou com tom de malícia. - Não me diga que você...

- Não!

- Oia! Kate, Kate... - zombou, dando leves esbarradas em seu ombro.

- Para, Vinícius!

Ele fingiu estar magoado, colocando a mão sobre o peito de forma dramática.

- Chamar pelo nome é pegar pesado!

O rosto dela estava sério enquanto caminhavam lado a lado. A mente dele acendeu como uma lâmpada; ele havia se esquecido do acontecimento na boate e se culpou um pouco pela brincadeira.

- Aqueles homens... - murmurou baixo, chamando a atenção dela.

- Não, eu não vi nada - afirmou, interrompendo a possível pergunta dele.
- Mas... - sua mente ficou nublada, mas conseguia sentir todos aqueles toques repugnantes pelo seu corpo.

Ele alcançou sua mão, puxando-a para perto. Kate o encarou e sentiu conforto nas íris cor de chocolate. Sentiu sua pequena mão ser coberta pelo calor das dele, e sua mente foi afastando aqueles toques indesejáveis aos poucos.

- Sabe que pode contar comigo, né? - ela assentiu. - Seja o que for que esteja perturbando essa cabecinha, iremos superar juntos!

"Tão doce e sonhador..."

Mesmo incerta e não tão confiante quanto ele, ela apenas assentiu novamente, com um esboço de sorriso no rosto.

Saíram do Museu de Belas Artes e caminharam em passos descontraídos em direção ao Amorino Gelato. Kate olhava de soslaio para o jovem ao seu lado, vestindo uma blusa amarela, e ele retribuía o olhar desconfiado.

Minha tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora