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Água se acumula embaixo da torneira de cobre e se torna uma gota que caí dentro da banheira de cerâmica, se tornando parte de inúmeras outras gotas que cobrem o corpo nu da jovem mergulhada em calor.

Suas pernas estão encolhidas e seus braços as abraçam. Seus olhos estão vidrados na torneira que pinga a cada 10 segundos, o som das gotas caindo se repete no fundo da sua mente.

No doce declínio de sua lucidez, imagens inventadas passam diante dos seus olhos. Ela se vê em um delicado vestido rosa de cetim de ombro a ombro, a saia rodada na altura de seus joelhos balança com fluidez à medida que ela gira.

Em seu cabelo, um laço de mesmo tom do vestido prende metade dos fios num penteado que valoriza seus traços angelicais. Charles está sentado em frente ao seu grande piano preto, deslizando seus dedos nas teclas, fazendo uma suave melodia ecoar pela vasta sala de pisos nas cores branco e preto.

Seu pai, John Cárpio, está sentado em sua confortável poltrona. O azul royal de sua camisa realça a cor dos seus olhos que brilham de forma serena na direção oposta à em que ela se imagina dançar.

Um jovem de pele negra e sorriso encantador se junta a ela na dança, rodopiando com entusiasmo. As roupas dele são de cores vivas que pintam o monocromático da sala de estar.

Ela sente a presença de mais alguém, tenta ajustar sua atenção na pessoa sentada ao lado do seu pai, mas não consegue distinguir os traços dela. Com esforço, sua visão fica nítida, é uma mulher... Sem rosto.

Katherine emerge rapidamente da água repleta de ilusões adoráveis, seu frágil coração parece querer escapar por sua boca, a água em seus olhos embaça sua visão, espalhando o sofrimento por todo seu ser.

Coça seus olhos na tentativa de ajudá-la a enxergar o ambiente ao seu redor e suas inúmeras tentativas trazem resultado. Depois de alguns segundos encarando as paredes de azulejos do banheiro, um suspiro repleto de alívio é solto.

ㅡ Estou enlouquecendo... ㅡ murmura, se levantando da banheira com dificuldade. Ela tinha pegado no sono e mergulhado na banheira sem perceber.

Enrolou seu corpo molhado na toalha macia enquanto secava seus pés no tapete em frente à banheira, tentando evitar causar rastros de água pelo chão.

Antes de sair, admirou sua imagem no reflexo do espelho, se atentou às manchas escuras que escorriam de seus olhos, restos de maquiagem borrada que ainda estavam ali em seus cílios.

Após vestir qualquer roupa que encontrara perdida em seu closet, permitiu que seu corpo relaxasse sobre o colchão macio de sua cama.

(Memórias de Kate)

No momento em que ela mencionou que havia fugido na calada da noite de sábado para domingo, conseguiu ver uma sombra dominar a íris cor de mel dos olhos de Charles ao citar os três homens no beco.

- Você tem apenas 16 anos! Nem deveria estar lá! - gritou assim que ela terminou de se explicar.

Seu pai se colocou entre eles: - Filho, não é o momento - a voz de John era calma, mas ela sabia que Charles jamais ignoraria sua autoridade.

- O senhor sabe que o que ela fez foi errado - a voz dele saiu mais baixa dessa vez.

- Ela precisa mais de apoio e cuidado do que julgamento - seu pai justificou sua oposição, mantendo Kate atrás dele em uma postura protetora.
- Vou levá-la para descansar. Mais tarde, conversamos - afirmou, se virando e colocando as mãos nos ombros dela. Kate foi guiada até a entrada da casa por ele, que se manteve firme atrás dela.

Minha tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora