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Kate sentia o pedaço de gaze pressionar levemente sua pele, bem na região sensível do nariz.

ㅡ Precisa mesmo disso? ㅡ ela perguntou, enquanto observava o rapaz que nem sequer piscava enquanto limpava o sangue seco de seu rosto.

ㅡ Caramba! Vai ficar roxo ㅡ ele comentou, pegando um pedaço de gelo envolto em um pano.
ㅡ Pelo menos não quebrou ㅡ acrescentou em tom de alívio, pressionando o pano contra o nariz e a bochecha dela, o olhar totalmente focado em seu rosto.

ㅡ Ai! ㅡ Kate resmungou de dor.

ㅡ Foi mal ㅡ ele pediu, claramente atrapalhado, sua expressão se suavizando em desculpas.

A mão dela se estendeu para segurar o pano, fazendo-o parar com os movimentos hesitantes.

ㅡ Tudo bem, eu faço ㅡ ela afirmou, e ele se afastou, consentindo em silêncio, mas com um ar de frustração contida.

Michael a havia levado para seu apartamento, pequeno e simples, mas estranhamente bem organizado. Os tons neutros e agradáveis aos olhos contrastavam com a falta de decoração. Totalmente diferente do que ela imaginava para alguém como ele, alguém que parecia sempre viver fora das regras.

Kate estava sentada em um sofá de dois lugares de cor amarronzada, enquanto Michael ocupava um móvel baixo estofado, que servia como uma mesa de centro improvisada onde os controles remotos se empilhavam. Ele ficou parado, encarando-a por alguns segundos, uma expressão que ela não conseguia decifrar estampada em seu rosto. Talvez fosse preocupação?

Seus olhos passearam pela jaqueta jeans de Michael, quase completamente abotoada, mas foi a gola branca da camisa por baixo que chamou sua atenção.

ㅡ É sangue? ㅡ a voz dela saiu baixa, quase num sussurro, enquanto encarava as pequenas manchas próximas ao pescoço dele.

Michael ficou claramente desconcertado, tentando esconder as manchas disfarçadamente com a jaqueta. Que ele havia batido violentamente naqueles homens não era segredo para ela; Kate tinha visto o exato momento em que ele acertou um deles na cabeça com um pedaço de madeira velha.

A questão que martelava em sua mente era: até que ponto ele foi? Michael não a deixou assistir ao resto, e essa dúvida insistente não a deixava em paz.

ㅡ Os cuzões estragaram uma das minhas blusas favoritas ㅡ ele resmungou com voz amarga enquanto se levantava.

ㅡ Cameron ㅡ ela o chamou, e ele a fitou nos olhos.ㅡ O que fez com eles?

Qual seria a resposta correta? Dizer que os deixou viver com sequelas ou admitir que quase se deixou levar pelos seus pensamentos mais sombrios?

ㅡ Resolvi o problema ㅡ foi tudo o que ele disse, evitando entrar em detalhes.

Kate ficou atônita com a resposta. Nunca, em sua vida, poderia imaginar que o despreocupado e mulherengo Michael Cameron seria capaz de algo assim. Sua mente se enredava ainda mais nas palavras dele, tentando entender o que realmente havia acontecido.

ㅡ Vou ver se tem algo para você comer ㅡ ele disse, claramente querendo mudar de assunto.

Ela observou o rapaz alto se mover para trás do balcão de pedra que dividia a sala da cozinha. Para Kate, era evidente o esforço que ele fazia para parecer calmo e natural, como sempre. Michael pegou algo na geladeira e colocou no micro-ondas, os gestos mecânicos.

ㅡ Vou deixar seu rango aqui e vou tomar um banho ㅡ ele anunciou, os botões do micro-ondas emitindo um som suave de "plic".

Kate ficou quieta, acompanhando com os olhos enquanto ele saía da cozinha e seguia por um corredor que ela suspeitava levar até o quarto dele. Sozinha na pequena sala, sua mente começou a divagar, vagando pelos acontecimentos daquela madrugada. Cada cena parecia mais surreal do que a anterior, mas a presença de Michael ao lado dela, mesmo que silenciosa, oferecia uma estranha sensação de segurança.

Minha tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora