Quando as aulas terminaram naquele dia, Penny encontrou Kate no corredor e a envolveu em uma conversa sobre um professor ranzinza e antiquado. Kate não queria admitir, mas conversar com Penny não era tão ruim quanto havia imaginado. Apesar da timidez, a garota era curiosa, e isso fazia com que ultrapassasse a barreira que a prendia, questionando fatos que a intrigavam.Peter as seguia a uma distância segura. Ele também tinha suas curiosidades em relação à jovem Cárpio, mas sequer suportava manter contato visual com ela por muito tempo, muito menos ousava fazer perguntas.
Já do lado de fora do colégio, Kate avistou Vini acenando freneticamente, um enorme sorriso estampado em seu rosto. Penny percebeu que era para Kate que ele olhava, e, sem conseguir se segurar, perguntou:
ㅡ É seu amigo?
ㅡ Meu irmão de consideração ㅡ admitiu Kate, notando o olhar surpreso de Penny. ㅡ É melhor eu ir, antes que ele venha tagarelar ㅡ completou, dando um passo para se afastar dos irmãos Evans.
Peter tentou alcançá-la; queria ao menos lhe agradecer. Mas Kate se afastou rápido demais, sem dar tempo de ele tocar seu punho. Ele ficou parado, observando enquanto ela se aproximava do jovem de pele brilhante sob a luz do sol.
ㅡ Não agradeceu? ㅡ Penny perguntou, com um toque de curiosidade.
ㅡ Não consegui ㅡ murmurou Peter, sentindo o toque suave de sua irmã em seu ombro.
ㅡ Tenho a sensação de que seremos grandes amigas ㅡ comentou Penny, a voz baixa e tranquila.
Peter virou a cabeça, olhando-a por cima do ombro. ㅡ Ela não te dá...?
ㅡ Medo? ㅡ Penny o interrompeu, completando a frase. ㅡ Acho ela meio misteriosa, mas não me dá medo. Na verdade, gostei do jeito dela ㅡ admitiu, dando de ombros.
Peter permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando Kate se afastar cada vez mais ao lado de Vini.
ㅡ Eu não sei... Tem algo nela ㅡ ele murmurou, franzindo o cenho, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. ㅡ Algo que me faz sentir... desconfortável.
Penny riu baixinho, balançando a cabeça.
ㅡ Talvez você só esteja nervoso porque ela te salvou ㅡ brincou, dando um leve empurrão em seu ombro. ㅡ Deveria parar de tentar entendê-la tanto e apenas... sei lá, agradecer de verdade.
Peter suspirou, desviando o olhar.
ㅡ Acho que você tem razão ㅡ admitiu, os olhos ainda fixos em Kate ao longe. ㅡ Mas algo me diz que ela não é do tipo que gosta de muita aproximação.
ㅡ Nem todo mundo é, mas isso não quer dizer que ela não possa mudar ㅡ Penny sorriu, olhando para o irmão.
ㅡ Ou que você não possa tentar ser amigo dela.Peter ainda parecia hesitante, mas deu de ombros.
ㅡ Talvez...
ㅡ De qualquer forma, não precisamos forçar nada. Quem sabe com o tempo? ㅡ Penny respondeu com um sorriso compreensivo, antes de começar a caminhar ao lado do irmão.
Enquanto os dois seguiam seu caminho para casa, o sol começava a descer no horizonte, trazendo consigo um leve frescor no ar, que contrastava com o calor do dia. Peter ainda pensava em Kate, em como ela parecia carregar algo muito mais pesado do que sua idade sugeria, mas decidiu que deixaria as perguntas para outro dia.
***
Nas ruas de Dijon, a notícia sobre um homem que foi queimado vivo em uma casa abandonada circulava, alertando os cidadãos da cidade. O murmúrio das conversas pairava no ar, como uma sombra invisível que pairava sobre a tranquilidade da tarde que se transformava em anoitecer. As pessoas cochichavam enquanto passavam pelos becos e esquinas, lançando olhares preocupados para as fachadas antigas que haviam testemunhado séculos de história, mas agora abrigavam um mistério sombrio.

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Minha tormenta
Mystery / ThrillerAtormentada todos os dias de sua existência pela lembrança do sangue derramado que levou sua mãe embora, Katherine vive à beira do abismo - entre o que foi destruído e o pouco que lhe resta. Carrega nos ombros uma culpa que não escolheu e no peito c...