"Old soul, waiting my turn
I know a few things, but I still got a lot to learn
So I'm alright with a slow burn, slow burn, slow burn
I'm alright with a slow burn"
Slow Burn - Kacey Musgraves
— Aonde estamos indo? — pergunto. Principalmente por que eu quero saber onde esse caubói bonitão mal educado está me levando, mas também porque o silêncio no carro está me matando. Ele não fala uma palavra, não liga o rádio. Só abre os vidros e dirige como se estivesse completamente sozinho.
— Betty está no bar agora — explica. Claro que ele não se importa que isso não quer dizer muita coisa para mim. Decido só ficar em silêncio e apreciar a paisagem. E faço isso, não falo nada quando ele para a caminhonete na rua e começa a descer, simplesmente sigo, saltando do passageiro.
Vejo o bar que ele está se referindo na mesma calçada. É um lugar velho com tijolos à mostra, mas quando entramos no lugar a atmosfera muda um pouco. É completamente diferente dos bares em Nova York. O cheiro de frango frito, whisky e suor me atinge como um soco na cara. Fico tão entretida com o lugar que perco o caubói de vista. Perfeito. Pelo menos eu sei que a mulher que eu procuro trabalha aqui.
Sigo até o balcão e me sento, aproveitando para descansar meus pés que ainda estão cansados da caminhada. Eu deveria ter trocado esses saltos por um tênis antes de vir. Enquanto espero a bartender vir me atender analiso um pouco mais o lugar.
Não está vazio, tem até muitas pessoas para um dia de semana a tarde. Tem um senhor do outro lado do balcão, uma família nas mesinhas comendo um lanche que não me parece ruim, duas adolescentes perto do pequeno palco e um ou outro bêbado. Estão todos usando roupas simples. Jeans e camisa. Até chapéu. Estou completamente deslocada com meu terninho elegante e saltos altos.
— Por conta da casa. — A bartender me empurra um copo com um liquido meio marrom. — Você parece estar precisando de uma bebida. — Ela dá um sorriso doce e eu automaticamente vou com a cara dela. Estou com tanta sede que viro o copo. O líquido desce queimando minha garganta e meu peito.
— Obrigada. — Quase engasgo.
— Você é nova na cidade? — pergunta. Ela tem cabelos loiros um pouco mais escuros que os meus e olhos esverdeados que se destacam no rosto delicado.
— Eu não pareço com alguém do Texas? — Faço minha melhor imitação do jeito que ela e o bonitão mal educado falam. Eu costumava ter meu próprio sotaque, da minha cidade natal, mas isso foi praticamente em outra vida. — Sim, vim a trabalho, mas está tudo dando errado por enquanto.
Por algum motivo, algo nessa garota estranha me faz contar a ela tudo desde que o ônibus me deixou em uma estrada de terra no meio de nada.
— Ele apontou uma arma para você? — Ela está se divertindo com a minha história.
— Sim, e não adiantou nem quando eu expliquei que sou uma advogada.
— Ah, não é com você, Graham odeia advogados em geral. — Ela para um segundo para pensar. — Na verdade, ele odeia todo mundo. Tirando a Cal e os animais, claro.
Graham? Então esse é o nome do caubói mal educado?
— Espera. Você é Elizabeth Wilson? — Só podia ser.
— Prazer em te conhecer. Stella, certo? — Aperto sua mão estendida com cuidado. — Sinto muito pelo babaca do meu irmão ter te assustado.
Ah, então o tal Graham é irmão dela. Faz sentido.
— Eu estou acostumada com babacas, não se preocupe. — É verdade. — Ele me disse que vocês não estão mais interessados em vender o rancho?
— Sobre isso... — Ela abre uma cerveja long neck e empurra para o meu lado do balcão. Finalmente, algo que eu posso beber e apreciar e não só matar minha garganta. — Olha, o rancho é muito importante para o meu irmão. Ele adora aquele lugar. Mas eu não. Eu finalmente achei algo que eu gosto de fazer, que é cuidar desse lugar, mas eu não posso fazer isso direito se eu não puder vender aquele lugar.
Eu entendo ela. O bar é um lugar interessante, com a decoração de madeira rústica, luz baixa e bandeiras americanas espalhadas pelo lugar. Posso imaginar esse lugar cheio de vida enquanto as pessoas assistem alguém cantando naquele palco.
— Infelizmente, para vender vocês dois precisam assinar.
— Eu sei, e é por isso que eu preciso da sua ajuda.
— Eu?
— Você é uma advogada, não é? — brinca. — Preciso da sua ajuda para convencer meu irmão cabeça dura. Devem existir outras coisas que você possa ir fazendo enquanto cuidamos disso?
Bom, eu realmente tenho outras coisas para fazer aqui. Preciso conhecer a cidade e estabelecer quais modelos de negócio melhor se adaptaria, preciso avaliar toda a terra dos Wilson antes de colocar um preço, enfim, eu estava ciente que passaria algum tempinho aqui. Mas o que eu não posso fazer é convencer alguém, especialmente aquele caubói mal educado, a fazer algo.
— Por favor, por favor — ela me pede. — Só preciso de mais tempo e das suas habilidades de negociação. Tenho certeza que meu irmão vai ceder eventualmente.
— Tudo bem — aceito. — Vou tentar ajudar você.
Não sei por que estou concordando com isso, mas não consigo dizer não para ela.
— Eu realmente preciso ir agora. — Levanto da baqueta. — Deixei minhas malas na porta da sua casa e ainda preciso achar um hotel aqui no centro da cidade.
— O quê? Nem pensar! Você não vai ficar em um hotel, você viu aquela casa? Eu moro sozinha naquele lugar e tenho quartos livres. — O casarão do rancho parecia mesmo grande. — Bom, não sozinha, tem a minha filha.
— Você tem uma filha? — Ela parece mais nova que eu ao menos alguns anos.
— Sim. Ela tem essa altura. — Mostra na sua cintura. — Parece uma fada, mas é provavelmente mais esperta que todos nós juntos. Você vai saber quando a conhecer.
— Eu não quero atrapalhar.
— Stella, você vai ficar lá em casa. Fim de papo. — Ela vê minha cerveja pela metade. — Você quer outra?
— Você quer ter que me carregar para casa na primeira noite? — brinco.
— Bem, acontece com os melhores de nós.
— Uma água, por favor — peço. Eu não bebo. Eu costumava gostar de cerveja, mas Patrick dizia que deixava um cheiro ruim, então eu parei de beber quando nos conhecemos. Exceto por um ou outro gole de vinho raramente.
— Água? Eu não sei como servir, ninguém nunca me pediu isso. — Ela arregala os olhos verdes, fingindo surpresa, mas aparece com a minha garrafa de água gelada alguns minutos depois.
— Obrigada.
— Não foi nada. Então, imagino que você esteja cansada depois de andar tanto nesses saltos. — Elizabeth estica o pescoço sob o balcão para olhar meus sapatos. — Aliás, como você não quebrou o pescoço?
Estico o meu pescoço para ver seus pés e não me surpreendo ao encontrar uma bota de couro de cano curto chegando a barra do seu jeans apertado.
— Belas botas — elogio.
— Obrigada. — Dá um sorrisinho orgulhoso. — Então, vou pedir ao Graham para te levar de volta ao rancho e abrir a casa para você se alojar, pode ser?
— Eu posso esperar você fechar o bar.
— Querida, ainda é de tarde, eu só fecho esse bar quando o último bêbado tropeçar para fora daqui.
— Tem um táxi que eu possa pegar?
— Sem chance. Olha, eu sinto muito que o Graham te assustou. Ele faz isso com todo mundo, mas acredite em mim, ele é inofensivo. — Eu apostaria que aquele homem é muitas coisas, mas inofensivo não é uma delas. — Prometo que ele vai se comportar
— Certo — aceito. Não tenho mesmo muita escolha.
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Enlaçada por você
RomanceNem tudo o que vemos, é o que parece ser. Quando Stella Cabot aparece na pequena cidade do Texas com seu terno sob medida e saltos altos, Graham Wilson tem certeza que ela é só mais uma patricinha mimada que quer comprar as terras de sua família. E...