"You say you like the wind blowing through your hair
Well, come on, roll with me til the Sun goes down
Texas Sun"
Texas Sun - Khruangbin & Leon Bridges
Aparentemente, Emma Gray, minha incrível assistente, nunca tinha pisado em uma cidade do interior. Ela deve achar que Gainesville é igualzinha a Nova York, apenas com mais chapéus de caubói. E o pior é que eu não percebi isso. Relaxei por três horas de viagem grata por ela ter me colocado na primeira classe de Nova York até Dallas. Depois disso, eu não estranhei quando ela reservou um assento para mim em um confortável ônibus de viagem até a afastada e pequena cidade de Gainesville.
Eu só percebi o erro de Emma quando o motorista me deixou em um ponto de ônibus precário em uma estrada de terra. O que eu deveria fazer com as minhas três malas embaixo do sol do Texas em uma estrada de terra? Deus, eu vou matar ela por isso quando eu pisar em casa outra vez.
Puxo meu celular para mandar uma mensagem para ela. Eu poderia tentar chamar um Uber, mas duvido que tenha algum em uma cidade desse tamanho. Fico parada ali, esperando a mensagem enviar. Nada. Meu celular não tem sinal aqui no meio da estrada. Perfeito. É tudo que eu preciso.
Paro um segundo para analisar minha situação. O sol está queimando e estou começando a suar dentro do meu terno cinza sob medida. Tiro a jaqueta e enfio dentro da bolsa. Dobro as mangas até os cotovelos. Um problema a menos. Estou usando um salto fino e alto demais para andar nesse chão, mas meus outros sapatos estão embaixo de tudo dentro da mala. Tudo bem, eu posso andar com esses saltos. Equilíbrio a mala de mão em cima de uma das de rodinha para que eu consiga carregar as três e começo a andar.
Não posso estar tão longe assim do centro da cidade. Continuo andando. Ao menos se algum carro passar por mim posso pedir uma carona. Continuo andando. Se eu achasse uma casa para pedir um copo de água, já estaria feliz. Mas nada acontece. Eu continuo andando pelo o que parecem ser horas e horas.
Quando estou quase desmaiando de calor e não sinto mais os pés vejo uma porteira. Em cima, leio: "River Ranch". O nome não me é estranho, então decido entrar. A porteira está fechada mas não tenho problema nenhum pulando. Sigo o caminho de terra para dentro da propriedade. Passo por cercas e vejo alguns animais pastando por ali. Ando mais um bom pedaço até finalmente encontrar uma casa.
Estou tão cansada que nem paro para observar a beleza do casarão antigo de pedra. Deixo minhas malas no começo dos degraus e praticamente pulo os últimos. Toco a campainha e espero. Nada. Tiro meus saltos e fico segurando porque simplesmente não aguento mais me equilibrar neles. Toco a campainha outra vez. Não tem ninguém em casa. Ótimo, perfeito. Eu devo ser a pessoa mais azarada do mundo.
— Se afaste da porta devagar. — Quase pulo de susto ao escutar uma voz grave, meu pelos se arrepiam como se subitamente o lugar estivesse uns dez graus negativo.
— Senhor... — tento explicar.
— Devagar — ele manda, calmo. Com muito cuidado eu ergo as duas mãos.
— Estou procurando pela senhorita Wilson. — Lentamente me viro para encarar o homem misterioso por trás da voz rouca.
O que eu vejo é melhor que a voz. O homem é grande, estou três degraus acima de ele e estamos quase da mesma altura. Tem os braços fortes que entregam que ele é um caubói. Aposto que suas mãos são fortes e ásperas na medida certa. Ele está usando jeans, botas e uma camisa xadrez, o típico caubói americano. Uau,só uau. Fico tão impactada com a sua beleza que demoro para perceber que ele está segurando uma espingarda apontada em minha direção. Culpo sua barba loira por isso.
— Não atire — peço.
— Quem diabos é você?
— Stella Cabot — me apresento. Estendo minha mão para ele por que quero aproveitar para testar minha teoria, mas ele não move um músculo. Só fica ali parado me olhando como se eu fosse coco de vaca grudada em suas botas.
— Dê o fora da minha propriedade — manda. Ok, ele é bonito. Mais que bonito, é um gostosão. O tipo de homem que deveria estar pelado em sonhos femininos eróticos. Mas é um grosso, mal educado.
— Eu adoraria, senhor. Mas eu não sou daqui, cheguei de ônibus e não tenho um veiculo para me locomover ainda.
— Você andou da parada de ônibus até aqui? — O bonitão mal educado finalmente esboça uma reação, que eu suspeito que seja descrença.
— Sim, senhor. Como eu disse, estou procurando pela senhorita Wilson.
— Betty Wilson? — Ah, então ele conhece a tal Elizabeth Wilson, já é alguma coisa. — Ela não está em casa.
— Espere, essa é a casa dela?
Claro, faz todo sentido. "River Ranch". Eu sabia que conhecia aquele nome de algum lugar. Eu, sem querer, estou no lugar certo. Esse lugar é o que eu devo negociar. Então quem é o bonitão me apontando a arma?
— Sou advogada — explico. — Estou aqui para negociar com a senhorita Wilson a compra do lugar.
Espero que ele dê um sorriso, entenda o que eu estou fazendo aqui, me convide para entrar e talvez me de um copo de água, se não for pedir muito, mas o caubói bonitão dá um tiro para cima, ao invés. O que me faz pular de susto.
— Dê o fora daqui — manda. Ele se vira e começa a ir embora, simples assim. Ah, não, isso não vai ficar assim.
— Volte aqui. — Sigo atrás dele pelo chão de terra batida sem me importar em colocar os sapatos. Quando ele para em frente a uma caminhonete prata antiga eu bato em suas costas com tanta força que ele tem que me ajudar a não cair de bunda no chão.
— Não vamos vender o rancho merda nenhuma — diz. — Sinto muito por te fazer perder a viagem vindo até aqui, princesa.
— Sério? E quem é você, afinal?
— Se você caminhar pelo mesmo caminho que veio um ônibus deve passar em... cinquenta e sete minutos. — Simplesmente me ignora.
— Olhe, senhor, eu realmente preciso falar com a senhorita Elizabeth Wilson. Eu posso esperar aqui quanto tempo for necessário, mas eu não estou indo embora antes de conversar com ela. — Cruzo os braços tentando parecer um pouco mais ameaçadora perto dele, mas falho miseravelmente. O caubói bonitão é bem maior que eu.
Ele me encara por um tempo, provavelmente tentando decidir o que fazer comigo. Não são muitas opções, a não ser que ele decida realmente usar a espingarda e se livre do meu corpo depois.
— Suba — manda. Fico chocada por um momento enquanto assisto ele subindo no volante da caminhonete. — Não vou chamar duas vezes.
Corro para o banco do passageiro e mal tenho tempo de calçar os saltos outra vez e fechar a porta antes de ele arrancar.
É só quando estamos na estrada de terra que eu percebo que talvez entrar no carro de um completo estranho do qual eu nem sei o nome não tenha sido a melhor das ideias.
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Enlaçada por você
RomanceNem tudo o que vemos, é o que parece ser. Quando Stella Cabot aparece na pequena cidade do Texas com seu terno sob medida e saltos altos, Graham Wilson tem certeza que ela é só mais uma patricinha mimada que quer comprar as terras de sua família. E...