XXIV

3.6K 409 29
                                    

"Takes one to know one

You're a cowboy like me

Never wanted love

Just a fancy car"

cowboy like me - Taylor Swift

É segunda-feira, dia de trabalhar. Cuidar dos animais, da propriedade, o que não falta no rancho são trabalhos esperando para serem feitos. Mas hoje, decido me dar o dia de "folga". Acordo tarde para os padrões de Graham, então estou sozinha na cabana. Junto às minhas malas que eu não tive coragem de arrumar ontem e carrego de volta para o casarão. Passo o resto da manhã sentada na bancada da cozinha olhando para a tela do meu notebook.

Preciso pensar em algo. E preciso urgente.

Quando coloquei os pés em Gainesville, Texas, pela primeira vez, alguns meses atrás, eu sabia exatamente o que precisava fazer. Eu estava até animada com a ideia de exercer uma parte mais animada da profissão e não apenas problemas de gente rica. Destruir um caubói cabeça dura era para ser algo fácil.

Mas Graham tinha feito um ótimo trabalho em me surpreender e virar o meu mundo de cabeça para baixo. De jeito nenhum no mundo eu posso fazer o que William, Patrick, ou quem quer que seja, querem que eu faça. Destruir Graham não é uma opção. Pelo contrário, eu quero ajudá-lo.

Mas para isso, preciso pensar em um jeito de fazer as coisas darem certo. E um jeito que não ameace meu trabalho. O que é praticamente impossível.

Me assusto com o latido do Cowboy e escuto Calamity vindo até a cozinha.

— Ei, você.

— Stella! — Ela fica extremamente feliz ao me ver e pula para me abraçar. Como sempre, Cal tem seus cabelos pretos presos nas laterais da cabeça, adorável.

— Oi, pequena.

— O que você está fazendo aqui? Onde está o tio Graham?

— Na verdade, não sei, mas tenho certeza que ele está trabalhando em algum lugar por aí — respondo.

— E você?

— Estou pensando.

— Sobre o que? — Fico embasbacada com como uma criança tão pequena pode ser tão perspicaz.

— Bem, eu tenho um dilema.

— Dilema? — Ela franze as sobrancelhas escuras.

— Eu estou presa em uma situação — tento explicar — e estou tentando escolher entre duas saídas.

— Como um labirinto?

— Não exatamente. Como quando você tem que decidir com qual bota vai para a escola hoje. Isso é um dilema.

— Entendi. — Ela balança a cabeça e Cowboy late, como se também tivesse entendido. — Então, quais botas você pode escolher?

— Se eu escolher uma bota, vou machucar uma pessoa que eu gosto muito, mas vou ganhar algo muito importante no trabalho — me refiro à promoção que eu sei que ganharia ao fechar um acordo desse tipo, mesmo que destruindo Graham. — Se eu escolher a outra bota, perco o meu trabalho, não machuco a pessoa que eu gosto, mas outra pessoa faz do mesmo jeito.

— Essa pessoa é o tio Graham?

— É sim — assumo.

— Você o ama?

Sua pergunta me pega completamente desprevenida, não faço ideia do raciocínio que Cal está formando.

— Eu amo — respondo.

— Então não o machuque — ela diz. — Como você pode querer machucar alguém que ama?

Fico sem fala por algum tempo.

— Você está completamente certa — percebo. Machucar Graham não é nem mesmo uma possibilidade. E daí que isso pode me custar meu emprego? Minha vida toda em Nova York?

Eu posso arranjar outro emprego e construir uma vida nova em algum lugar. Mas outro caubói grosso e mal educado que me enlace como Graham, eu nunca acharei nenhum outro.

— Quantos anos você tem mesmo, garotinha? — brinco com ela.

— Vocês adultos são complicados demais — ela reclama. E está completamente certa. É hora de eu começar a descomplicar algumas coisas em minha vida.

Enquanto preparo o almoço para Cal, me ocorre que preciso usar armas pesadas. E parar de ignorar algo que vem me incomodando há muito tempo. A relação de Patrick e Aaron. Algo dentro de mim, diz que nada bom pode sair disso. Esses dois juntos só podem estar tramando algo, e eu preciso descobrir o que é. Custe o que custar.

Para isso, preciso da minha fiel assistente. A única pessoa que eu sei que é maluca o suficiente para me ajudar nessa missão suicida. Aproveito que estou em alta na Mason & Scots e peço a William que mande Emma para a cidade me ajudar com alguns detalhes. No fim da mesma tarde peço a caminhonete de Betty para buscar minha amiga no acostamento.

— Achei que você fosse me fazer andar até lá — ela diz, quando me vê. Emma continua o mesmo raio de sol que sempre foi. Usando roupas chiques e coloridas que destacam sua pele escura e contrastam com meus shorts jeans e botas. — Uau, você está diferente.

— Eu sei, não é Chanel, mas é o que as pessoas aqui usam e é até bem confortável.

— Você está ao menos cinco vezes mais bonita do que antes.

— Claro, agora coloca logo suas malas ai na caçamba.

Ela joga suas malas caras na traseira suja da caminhonete sem se importar e pula para o banco do passageiro ao meu lado.

— É sério, Stella. Parece que você rejuvenesceu uns dez anos. Eu sempre soube que aquele metido era um peso nas suas costas.

— Ah, para! — eu brinco com ela. — Você vai adorar aqui.

— Eu duvido, mas estou animada. — Quando passo por um buraco e a cabine balança com força, Emma quase bate a cabeça. — Então, o que é tão importante que você precisou me trazer lá de Nova York para esse fim de mundo, com todo respeito, claro.

— É uma história bem longa, que eu preciso te contar com muito detalhes, mas basicamente, Patrick tem algum objetivo escondido com a compra desse rancho e eu quero descobrir qual é e impedir ele de conseguir o que quer que seja que ele queira aqui.

Ela olha para mim, surpresa.

— Você sabe que isso fará nós duas sermos demitidas?

— É aí que está. Eles querem que eu destrua Graham e consiga a compra do rancho, mas eu não posso fazer isso.

— Mas a irmã dele não precisa do dinheiro ou algo assim?

— Sim, e pretendo dar um jeito nisso. Mas não às custas do rancho e de Graham. Estou apaixonada por ele, Emma, vou fazer o que for preciso para ajudá-lo, inclusive perder meu emprego e comprar uma briga com Patrick, mas você não tem nada a ver com nada disso, por isso, vou totalmente entender se você não quiser me ajudar. De verdade.

— Você está louca? — Ela praticamente grita comigo. Fico assustada primeiro, que ela me ache louca por querer enfrentar Patrick e abandonar meu emprego, mas ela me surpreende: — Uma chance de destruir aquele babaca metido? Isso seria como um spa para mim, é claro que eu topo te ajudar, Stella.

— Emma, você tem certeza? Eu não quero que você arrisque seu pescoço nisso sem pensar direito.

— Chefinha, você acha que aquele escritório de metidos é mesmo o lugar para mim? Eu tenho outros planos para o futuro, talvez eu só esteja adiantando eles.

— Ok, vamos descobrir esse maldito segredo de Patrick e Aaron.

— Hm, eu não faço ideia de quem é Aaron, talvez seja hora de você me dar aquela explicação mais completa. 

Enlaçada por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora