Tudo se envolve em trevas

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  O sol já havia ido embora, dando lugar a lua e suas amigas estrelas. O céu estava sem nuvens e um vento frio soprava ansioso, como se parecesse saber que a batalha estava prestes a acontecer.

  Dois caçadores de demônios corriam lado a lado em meio a um pântano perseguindo sua presa, um oni que corria ao longe, fora do alcance de suas espadas já desembainhadas.

  Enquanto o sol estava se pondo alguns momentos atrás, Inosuke compartilhara com s/n que tinha a sensação que o oni iria aparecer naquela mesma noite, assim os dois se dirigiram até a estrada, de frente para o pântano, o que resultou nos acontecimentos que já vimos anteriormente.

  Estava escuro, mas os dois ainda conseguiam enxergar o suficiente para não trombar e tropeçar em nada. Ainda perseguiam o oni e não tinham muito o que fazer para mudar essa situação, já que ele ainda se encontrava muito longe e corriam em velocidade máxima.

  Então, pelo canto do olho, a garota viu um segundo oni vindo da esquerda, na direção de Inosuke.

  -- Cuida... - não conseguiu concluir a frase.

  O rapaz também avistara o demônio em tempo o suficiente para erguer suas espadas antes de ser atingido com um chute pelo oni, felizmente as lâminas serrilhadas receberam a maioria do impacto, mas isso não impediu que ele fosse arremessado para longe. O oni foi atrás dele.

  -- Eu cuido desse! Vai atrás do outro! - ele gritou em algum ponto envolto em sombras.

  S/n não hesitou e continuou seu caminho. Primeiro porque o oni estava quase escapando do seu campo de visão, e segundo porque confiava na força de Inosuke. Sabia que ele iria conseguir matar o oni e talvez até chegasse a tempo para ajudá-la. É claro que não conseguia deixar de se preocupar com os sons da batalha que se distanciava aos poucos, mas devia se concentrar em sua própria tarefa.

  Quanto mais longe avançava, o chão ficava mais lamacento e mais cipós apareciam em seu caminho. Não havia dúvidas que ele estava a atraindo para aquele tal "lugar favorito".

  O oni parou de correr assim que adentrou uma clareira e esperou que a jovem se aproximasse com aqueles braços anormalmente compridos na cintura. Assim que se aproximou o suficiente, s/n quase deixou a espada cair no chão, por isso resolveu segurar com mais força sua nichirin apesar das mãos trêmulas.

  A clareira na verdade era apenas mais um daqueles lagos que ficam dispostos no pântano, a diferença é que este era maior que os outros. Mergulhados na água estavam corpos horrivelmente mutilados, tingindo parte da água de vermelho. Se não tivesse desviado o olhar logo, provavelmente teria vomitado todo o jantar.

  Maldito oni. Aquilo que era seu "lugar favorito"? Era simplesmente repugnante. Como alguém tem prazer em fazer isso? Colecionar corpos é um hábito doentio. O demônio riu baixinho por conta de sua expressão e s/n sentiu a raiva fervilhar dentro de si, mas se controlou para não perder a cabeça.

  A jovem encarou de volta aquele ser desprezível e ignorou o arrepio que aqueles olhos totalmente negros lhe proporcionou. Estava esperando que ele olhasse seu corpo e fizesse um comentário sarcástico sobre como queria a jogar no lago junto com os outros corpos, mas ele apenas encarava seus olhos. Ela não sabia qual era pior.

  -- Eu amo esses olhos sabe - ele disse por fim. - São tão solitários. Eu quero te matar desde que vi eles.

  S/n sentiu o sangue subir para a cabeça. Estava com tanta raiva que podia cortar a cabeça daquele oni naquele mesmo instante. Quem pensava que ele era? Não sabia nada sobre ela. Mas não iria cair no jogo dele. Se manteve imóvel, tentando se controlar.

  -- Eu adoro pessoas solitárias - o oni sorriu sinistramente. - Elas são as primeiras a desistir quando estão prestes a serem mortas. Ver as expressões vazias deles é bem melhor que ver o olhar determinado daqueles que lutam até seu último segundo de vida.

  S/n se concentrou com todas as forças em sua respiração. Precisava se acalmar para conseguir pensar em um plano de ataque. Não podia cair no jogo dele, não iria perder a cabeça.

  -- Eu fiz de tudo pra separar você daquele seu colega - e deu de ombros. - Mudando de assunto: deixe-me adivinhar. Você perdeu alguém importante, não? Você sente o vazio crescer a cada dia e chega a ser tão insuportável que... - ele não chegou a completar a fase.

  -- CALA A BOCA! VOCÊ NÃO SABE DE NADA!

  Aquilo não se parecia com s/n, ela nunca havia se jogado em uma luta daquele jeito antes. Uma pequena parte da jovem lhe dizia que não devia fazer aquilo, mas essa parte da sua consciência foi suprimida pela raiva, responsável por essas atitudes imprudentes.

  O oni tomou um susto e só conseguiu desviar da espada no último momentos, mas depois que a surpresa passou, espinhos saíram de sua pele cor de terra e ele os atirou.

  S/n cortou a maioria dos espinhos, mas um deles atingiu sua coxa. Ela mal sentiu dor devido a adrenalina que corria em suas veias.

  -- Meus espinhos contém um veneno que impede a coagulação natural do sangue. Se não tomar cuidado irá sangrar até a morte!

  A garota não ligava. Não tinha tempo para enrolar a ferida com bandagem ou um pedaço de haori rasgado e tinha apenas uma pequena ferida na coxa, aquilo não era nada.

  Ela balançava a espada de qualquer jeito, só queria ferir o oni. Usava a respiração de concentração total em cada ataque, apesar de esquecer completamente da respiração da água. Cortou fora o braço dele uma vez, abriu um buraco em sua barriga e tentava mirar em seu pescoço. Mas a raiva e a adrenalina a impedia de perceber que estava sendo atingida pelos ataques dele também. Os espinhos a atingiam em diferentes partes do corpo, apesar de desviar a maioria deles. Só quando desferiu o golpe final lembrou de usar a respiração da água:

  -- Respiração da água. Ichi no kata: Minamo giri!

  A cabeça do oni se separou do corpo e caiu no chão. S/n assistiu enquanto ele se desintegrou. Se disse alguma coisa ela não ouviu, pois não conseguia mais controlar o próprio corpo.

  Caiu no chão e não conseguia mais se mover. Havia usado a respiração de foco total tanto assim? Não, o motivo não era esse. S/n assistiu enquanto o sangue formava uma poça embaixo de si. Quando a adrenalina abandonou seu corpo a dor a atingiu com um impacto assustador.

  Seu sangue era tão quente. Então por que sentia tanto frio? Ouvira falar sobre a vida de alguém passar na frente de seus olhos, mas não sabia que isso iria acontecer de fato com ela. Podia ver o sorriso acolhedor de sua irmã. Se arrependia de tanta coisa, mudaria tanta coisa se fosse possível voltar atrás. Lágrimas se formaram nos cantos de seus olhos.

  Já imaginara algumas vezes que morreria em batalha, mas sempre imaginara que alguém enterraria seu corpo com dignidade e não que ficaria jogado do lado de um lago cheio de corpos. O oni deveria estar certo, ela não tinha ninguém.

  Pensando bem, talvez Inosuke a enterrasse. Apenas se conheciam a alguns dias, teria ela o direito de chamá-lo de amigo? Como queria passar mais tempo com ele, com Tanjiro, Nezuko e até mesmo Zenitsu.

  Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Estava perdendo muito sangue, não aguentaria por muito tempo. Aquele oni havia dito que pessoas como ela eram as primeiras a desistir, mas ela não queria morrer. Infelizmente não teve muito tempo de pensar sobre isso, pois tudo foi envolvido por trevas.

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  Só tô aqui pra avisar que o imagine ainda não acabou, tá? (っ•ᴗ•)っ❤

  Aqui está o glossário de hoje:

  Oni: demônio.

  Nichirin: espada usada pelos caçadores de onis.

  Haori: jaqueta tradicional japonesa com mangas largas e gola estreita.

  Inchi no kata: Minamo giri: primeira forma: corte d'água superficial.

Imagine - Inosuke HashibiraOnde histórias criam vida. Descubra agora