Na floresta coberta de neve

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  Os quatro entraram na floresta gelada. As árvores mal possuíam folhas e seus galhos estavam cobertos de neve. S/n se sentia ansiosa e carregava consigo um mal pressentimento, e o fato de Zenitsu estar choramingando não ajudava em nada a sua situação mental.

  -- Tanjirooo - ele chamava o amigo. - Eu tô com medo Tanjiro! Eu não quero morrer aqui! Eu ouço um som muito estranho.

  O ruivo fez uma careta. A garota se perguntou o porquê disso. Sabia que ele tinha um faro apurado, será que sentira o cheiro do oni? Ou apenas estava cansado de ouvir Zenitsu reclamando? Apesar de querer acreditar que se tratava da segunda opção, algo lhe dizia que era a primeira.

  Olhou em volta, mas não viu nada além da lua, das estrelas, das árvores, da neve e... Um rastro. Isso chamou sua atenção. Um rastro cortava a neve sob seus pés. Devia ter sido feito recentemente, pois poucas horas atrás estava nevando e qualquer tipo de pegada seria apagada.

  -- Ali - e apontou para aquele ponto no chão. - Eu acho que o oni passou por ali.

  Tanjiro encarou aquele caminho com uma expressão estranha. S/n não conseguiu decifrá-la, pois rapidamente ele colocou aquele sorriso habitual no rosto.

  -- E o que vocês estão esperando?! - Inosuke perguntou. - Vamos logo!

  Ele foi o primeiro a seguir aquela pista. A jovem deu uma última olhada no ruivo antes de tomar o mesmo caminho. Zenitsu veio atrás, apesar de continuar reclamando sobre como gostaria de estar casado e que não podia morrer, pois era jovem demais.

  Estavam correndo quando a garota sentiu o cheiro, e seu maior erro foi olhar para cima.

  S/n estava paralisada. Assim que entrara na floresta sabia que algo estava errado, mas não fazia ideia do quão errado estava. Só se dera conta do que estava acontecendo quando aquele cheio horrível de corpos mortos invadiu suas narinas.

  Ela olhava horrorizada para aquela cena. Em meio as árvores, parcialmente cobertos pela neve, pelo menos quinze pessoas estavam jogadas nos galhos das árvores. Homens, mulheres e até crianças. Todas com ferimentos horríveis. O cheiro do sangue era horrível. Olhar aquilo fazia seu peito doer de raiva.

  Ignorou o berro de Zenitsu, os xingamentos de Inosuke e o olhar preocupado de Tanjiro. Ela só conseguia se concentrar no sangue que pingava lentamente no chão e naquele cheiro que fazia com que ela quisesse vomitar.

  Naquele momento, S/n sentiu mais raiva de seu irmão do que do oni. Ele havia mentido. Tinha dito apenas um nome, afirmando que apenas um homem desaparecera sendo que por, provavelmente, semanas, várias pessoas morriam na tentativa de afastar o demônio de sua amada cidade. Por que ele não fizera nada? Porque ficara sentado tomando chá sem mover um único dedo enquanto tudo isso acontecia?

  Alguém gentilmente colocou uma mão em seu ombro e isso a tirou de seus pensamentos. Era Tanjiro. Ele a olhava preocupado, mas carregava um pequeno sorriso solidário.

  -- Você está bem?

  S/n abriu a boca para responder, mas foi cortada por Zenitsu:

  -- Aquele cara ainda tá vivo - ele apontou para um homem pendurado no galho mais baixo de uma árvore. - O coração dele ainda tá batendo.

  Os quatro correram até lá. Tanjiro e Inosuke desceram ele cuidadosamente e o deitaram no chão. S/n reconheceu aquela cabeleira loira e aqueles olhos castanhos assustados.

  -- Akira! - gritou.

  Ela se ajoelhou do lado dele e segurou sua mão. Estava tão fria quanto a neve.

  -- Você conhece esse cara? - Inosuke perguntou e a jovem não respondeu.

  -- S-salvem ela - ele disse com a voz rouca. - Os demônios... os demônios pegaram uma garotinha - e tossiu. - Me deixem aqui. Vão atrás dela. Eu... Eu acho que e-ela ainda tá viva.

  Akira tossiu um pouco de sangue.

  -- Poupe suas forças - a garota disse suavemente. - Vai ficar tudo bem.

  -- S/n? - ele virou a cabeça em sua direção. - É você mesmo?

  A jovem respirou fundo. Ele estava tão gelado, sua voz estava tão fraca, estava todo coberto de sangue, aquilo estava a quebrando por dentro, mas ela não podia cair no choro agora.

  -- S/n - Tanjiro disse. - Leve ele para o médico, a gente cuida das coisas aqui.

  Ela concordou com a cabeça, agradeceu a ele mentalmente pois sabia que não estava em condições de lutar. Os rapazes ajudaram a colocá-lo em suas costas e em poucos minutos S/n estava correndo com Akira de volta para a cidade.

  -- Mais um pouco... Só aguente mais um pouco.

  Seus pulmões sofriam um pouco com o ar frio do inverno, mas ela ignorou essa sensação. Corria o mais rápido que suas pernas permitiam e depois de alguns minutos, que pareceram horas, eles chegaram na cidade.

  As ruas estavam desertas, não havia nem uma alma viva sequer. Estavam escondidos do frio? Parou por um momento para tomar fôlego e continuou a correr.

  -- É aqui, certo? - perguntou.

  Parou na frente de uma casa que S/n se lembrava como o consultório do médico. Não sabia se as coisas haviam mudado muito de dois anos para cá, por isso resolver conferir com Akira.

  -- Sim - e fez uma pausa. - Mas... Mas n-ninguém vai atender.

  -- Como assim não? - e gritou. - Ô DE CASA! TEM ALGUÉM AÍ?!

  -- Estão todos - tossiu algumas vezes antes de continuar. - se escon... se escondendo dos onis.

  S/n chutou a porta e a arrombou. O que não era algo muito inteligente de se fazer, mas fez do mesmo jeito pois estava desesperada.

  Invadiu a casa e nem se incomodou em retirar os sapatos. Saiu correndo pelos corredores e abriu cada cômodo com a ajuda da ponta do pé, pois suas mãos estavam ocupadas. Só encontrou alguém ao entrar na cozinha. Uma casal de meia idade estava encolhido em um canto, o homem segurava uma faca na mão. Era o médico.

  -- Desculpa invadir sua residência assim, senhor! - e não fez uma reverência por medo de machucar ainda mais Akira. - Mas é uma emergência!

  Após alguns longos minutos acalmando o casal e os convencendo de que não era uma oni prestes a devorá-los, colocaram Akira em um futon confortável em um quarto quentinho e se apressaram em cuidar de seus ferimentos.

  S/n não era muito boa em medicina, mas corria para lá e para cá buscando tudo o que o médico precisava. Remédios, toalhas, ataduras, e até agulhas e linhas.

  Depois de mais algumas desculpas e algumas moedas para pagar todo o estrago com a porta e o tratamento de Akira, finalmente a garota estava pronta para voltar na floresta e ajudar os rapazes a matar os onis, mas o rapaz agarrou seu haori e a impediu de ir.

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  Eu talvez vou postar mais um capítulo hoje. ヽ(⌐■_■)ノ♪♬

  Aqui está o glossário:

  Oni: demônio.

  Futon: colchão oriental usado como cama.

  Haori: jaqueta tradicional japonesa com mangas largas e gola estreita.

Imagine - Inosuke HashibiraOnde histórias criam vida. Descubra agora