Quando te faltam palavras

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  S/n havia recobrado a consciência três vezes até então.

  Durante a primeira vez, se lembrava de estar cansada e dolorida, incapaz de se levantar e com frio. Alguém estava colocando um pano úmido em sua testa e a sensação era boa. Obrigou-se a abrir os olhos e depois que sua visão se acostumou com a claridade do dia pôde avistar uma cabeleira ruiva. No momento em que seus olhos se encontraram com os de Tanjiro o rapaz gritou:

  -- Zenitsu! Chame a doutora! Eu acho que ela acordou!

  Depois disso, s/n perdeu a consciência.

  A segunda vez podia se passar por um sonho, pois não passava de uma sensação. Parecia que alguém estava a cobrindo com um cobertor. Era confortável, mas ainda sentia frio.

  Na terceira vez o que a despertou foi um som insistente. Ruídos metálicos obrigaram que ela abrisse seus olhos. Em um primeiro momento encarou o teto de madeira, mas assim que olhou para o lado percebeu que alguém estava sentado, encostado na parede. Era um homem. Ele afiava uma espada toda serrilhada e s/n o reconheceu, pois usava uma máscara de javali na cabeça.

  -- Inosuke... - murmurou antes de perder a consciência novamente.

* * *

  S/n despertou de súbito. Abriu os olhos de repente e encarou o teto de madeira. As lembranças dos acontecimentos anteriores a invadiram aos poucos, e o alívio por estar debaixo de um cobertor macio e quente foi imenso, mas foi acompanhado de um gosto amargo e um aperto na garganta. Foi por pouco que não perdera a vida.

  O estranho era que não sentia dor. Seus ferimentos já estariam curados? Ou não sentia nada porque estava parada? A jovem se sentou lentamente. Continuou a não sentir dor apesar de ver alguns pontos pretos dançando em sua frente e entrou em um leve pânico. Por quanto tempo havia dormido? Olhou ao redor e notou que não havia mais ninguém no quarto.

  Arriscou a tentar levantar e conseguiu. Parecia estar bem, já que conseguia ficar de pé. Deu um passo, sentiu uma pequena pontada de dor na coxa, mas não era nada insuportável. Saiu do quarto.

  Estava em um corredor externo, que se parecia com uma varanda. Podia ouvir vozes vindo de um local próximo. S/n se dirigiu até lá e abriu as portas de correr. Três cabeças se viraram em sua direção. A garota pôde reparar em apenas dois pares de olhos arregalados, pois um deles tinha uma máscara de animal escondendo o rosto.

  -- S/n-san! - Tanjiro se levantou e correu em sua direção. - Você está bem? Não é melhor voltar pro quarto?

  -- Eu estou bem - a jovem sorriu nervosamente. - Acho que já dormi o suficiente.

  Zenitsu empurrou o colega para o lado e segurou suas mãos entre as dele.

  -- Ficamos tão preocupados! Você dormiu por um mês! - ele tinha uma expressão chorosa no rosto. - A doutora disse que você tinha se recuperado, mas sua febre não passava!

  Vários pensamentos passaram pela cabeça de s/n em um mesmo instante. Queria se desculpar por ter dado tanto trabalho, gostaria de agradecer por terem salvado a vida dela, se perguntava o quanto haviam gastado na hospedaria por passar um mês ali e realmente gostaria que Zenitsu se afastasse. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, seu estômago falou por si mesmo e roucou audivelmente.

  -- Ela tá com fome! - o loiro disse e a soltou, o que deixou s/n aliviada.

  -- A gente já almoçou mas vamos achar algo pra você comer - Tanjiro afirmou e saiu da sala seguido de Zenitsu.

  Só depois de fechar a porta a garota se deu conta que estava sozinha com Inosuke. Estranhou um pouco que ele não havia falado nada até agora, mas resolveu não comentar nada e se sentou ao lado dele. Ficaram em silêncio por alguns instantes até que s/n teve coragem de começar a falar:

  -- Obrigada por me salvar. Se não fosse por você eu teria morrido - pensou um pouco antes de continuar. - E espero não ter sido muito pesada na hora de carregar.

  -- Huh? Eu consigo levantar milhares de você! Eu sou o grande Inosuke! - e estufou o peito de orgulho.

  S/n quase sorriu. Quase. Retomou seu raciocínio e continuou a falar:

  -- Desculpa por ter dado tanto trabalho. Geralmente eu não quase morreria pra um oni como aquele - enfatizou o "quase". - Acabei perdendo a cabeça no meio da luta e por causa disso...

  Ela não conseguiu terminar a frase, pois Inosuke colocou as mãos em suas bochechas e levantou um pouco seu rosto como se quisesse conferir se o pescoço ainda continuava ali, o que de fato estava fazendo.

  -- Mas sua cabeça ainda tá aqui - refletiu ele.

  S/n tentava ignorar como as mãos dele eram quentes e se encaixavam perfeitamente em seu rosto. Também tentava ignorar quão perto o focinho da cabeça de javali estava. Realmente esperava não estar corando tanto quanto imaginava.

  A jovem segurou os pulsos dele e o afastou. Sentia o rosto extremamente quente, podia muito bem estar com febre de novo. Encarou algum ponto da sala que não era Inosuke e disse:

  -- Perder a cabeça é uma expressão -  se concentrou em explicar isso a Inosuke e a ignorar o resto. - Significa que alguém ficou bravo e agiu de maneira imprudente. Eu não tive a cabeça cortada ou algo assim.

  Se Inosuke iria dizer alguma coisa não conseguiu, pois as portas se abriram e Tanjiro e Zenitsu entraram segurando uma enorme bandeja lotada de comida.

* * *

  Após uma conversa, s/n foi informada que estavam hospedados em uma moradia da família Wisteria, que acolhia os caçadores de demônios sem pedir nada em troca. Isso deixou a jovem realmente aliviada. Não queria que eles fossem obrigados a pagar um mês de hospedagem.

  Mesmo depois de agradecer verbalmente aos rapazes, s/n sentia que aquilo não era o suficiente e se ofereceu para fazer o jantar. Inosuke aceitou na hora e depois de um pouco de persuasão os outros dois também acabaram concordando.

  Ela havia cozinhado quatro tijelas grandes de um udon super caprichado que costumava comer quando era criança com um pedaço de tofu frito mergulhado na sopa de shoyu suave. Também fritou uma porção de tempura de camarão como acompanhamento.

  -- O cheiro tá tão bom! - Tanjiro disse assim que a garota colocou tudo na mesa.

  -- Sirvam-se, por favor.

  Inosuke foi o primeiro a atacar a comida, o que era normal. Não disse nada mas pela maneira que devorou o udon como se fosse a última refeição que teria em vida, s/n pôde presumir que ele havia gostado.

  -- Você cozinha muito bem, s/n-san - o ruivo disse com um sorriso.

  -- É, s/n-chan daria uma ótima esposa! - ela não sabia como reagir a esse comentário de Zenitsu.

  Mas no fundo ela estava realmente de ter encontrado todos eles.

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  Mais um capítulo pra vcs ~(˘▾˘~)

  Aqui está um glossário culinário:

  Udon: tipo de macarrão grosso servido como sopa.

  Tofu: feito com leite de soja e geralmente é encontrado na forma de um cubo branco.

  Shoyu: molho de soja.

  Tempura: pedaços de vegetais ou mariscos fritos envolto em uma massa fina .

Imagine - Inosuke HashibiraOnde histórias criam vida. Descubra agora