3° ano - VIII

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 Laís só se lembrava de ter sido expulsa dos colchões e ter passado para o sofá, ela só não se lembrava de ter Nicolas como companhia.

 Emily, Ravi, Carlos e Alicia dividiam os colchões que estavam no chão, Bernardo e Diana estavam no sofá oposto ao de Laís, Diana estava usando o peito de Bernardo como travesseiro, e Isis havia usado duas poltronas para se deitar.

Laís estava sendo usada de apoio para Nicolas, ela se preocupou dele estar se machucando com os detalhes do seu vestido, mas ele dormia de maneira tão serena que ela não quis muda-lo de posição e começou a fazer carinho em seu cabelo.

 ***

 Depois de tomarem o café da manhã (também conhecido como pizza esquentada) eles resolveram retornar a comunal para trocar de roupa e resolveram passar o resto da tarde na caverna para aproveitar o último dia em Castelo Bruxo antes das férias.

- A gente podia deixar algumas coisas aqui antes de ir embora. - sugere Ravi - Tipo, umas coisas pessoais, aqui tem muita coisa útil, mas não tem quase nada que é nosso.

- Concordo plenamente. - disse Bernardo - Inclusive tem algo que eu quero pegar, eu já volto.

 Bernardo se levanta abruptamente, Diana franze a testa.

- O que você vai pegar de tanta importância? - pergunta Diana, Bernardo ri.

- Você sabe o que é! Mas eu quero mostrar para os outros. - explica Bernardo.

- Agora eu fiquei curiosa. - diz Alicia, cruzando os braços e rindo.

 Bernardo sai da caverna, deixando seus amigos curiosos esperando-o. Desde que ele e Diana haviam começado o caderno, foi ele que se encarregou de finaliza-lo, ele queria poder mostrar o resultado final não só para Diana mas também para seus amigos.

 Ao sair da floresta Bernardo vê Clara em frente ao fervedouro, como se estivesse acabado de sair dele, ela parecia atordoada ao vê-lo.

- Bernardo Damasio! - ela chama, ele estranha mas se aproxima - A Profa. Garcia pediu que eu passasse pelo fervedouro para pegar uma correspondência com o Sr. Menedez, mas eu tenho um compromisso agora, será que você pode fazer isso para mim?

- Mas o fervedouro não se "tranca" depois que todos os alunos passa por ele? - pergunta Bernardo.

- O Sr. Menedez  reverteu o feitiço. - diz Clara, rapidamente, a sua voz estava trêmula - Você pode?

- Claro, ele está do outro lado? - pergunta Bernardo, já caminhando em direção ao fervedouro.

- Sim, ele está te esperando. - diz Clara, virando-se de costas e se afastando do fervedouro.

***

 Mais de meia hora havia se passado e Bernardo não havia voltado ainda, todos na caverna já estavam aflitos.

- Já se passaram meia hora, nós precisamos ir procura-lo. - diz Diana levantando-se, Ravi e Laís a acompanham.

- Vamos logo então, se nós não o encontrarmos nós falamos com a Profa. Garcia. - diz Isis se levantando.

 Eles procuraram desde as comunais até os pontos extremos do jardim, os olhos de Diana já começavam a arder de desespero e a cabeça de Laís latejava de preocupação. Por vezes Carlos passava o braço pelos ombros de Diana como forma de conforto, mas era visível em seu rosto que ele também não estava bem.

 Eles caminharam em direção a sala da diretora que parecia estar esperando-os, visto que a porta dela estava aberta.

- Ao que devo a honra da visita de vocês? - pergunta a professora sorrindo.

- Bernardo Damasio sumiu. - diz Nicolas, imediatamente - Nós o procuramos por todo lugar e nada.

 O sorriso da professora imediatamente se esvaiu, ela tirou as mãos da mesa e as colocou sobre o colo.

- Quando vocês o viram pela última vez? - pergunta a diretora.

- Nós estávamos conversando no campo de quadribol. - mente Laís - Ele falou que ia buscar algo e não retornou.

 A professora analisou-a, como se identifica-se a mentira, porém ela apenas assentiu.

- Irei conversar com os demais funcionários da escola, fiquem tranquilos, qualquer informação nós iremos comunica-los. - responde a professora, e Diana assente, já virando de costas e saindo da sala.

***

 Naquela noite nenhum dos oito dormiram, de modo que quando "acordaram" eles estavam acabados.

 Eles foram os primeiros a chegarem no fervedouro, a Profa. Oliveira sorri carinhosamente para eles.

- Vai ficar tudo bem com o amigo de vocês, fiquem tranquilos. - ela conforta, eles sorriem sem graça e atravessam o fervedouro juntamente com o Sr. Menedez, que devia ficar do outro lado monitorando os alunos.

 Assim que chegaram do outro lado encontraram Bernardo caído no chão, os olhos abertos e sem vida fitando o céu, ele estava completamente e em seu braço direito estava gravado "sangue-ruim", uma gota de sangue escorria na última letra pelo seu pulso.

 A primeira reação foi de Alicia, que caiu de joelhos no chão, os olhos cheios de água, ela levou as mãos até a boca reprimindo um grito de pavor.

- Bernardo... - murmura Isis, trêmula e impotente.

 Diana se aproximou dele, ajoelhando-se ao seu lado e passando a mão pelo seu rosto.

- Bê, olha pra mim. - pede Diana, colocando-o em seu colo - Bernardo... - a sua voz tremia tanto quanto as suas mãos.

- Nós precisamos tirar ele daqui. - diz o Sr. Menedez, se aproximando dele, porém Laís o impede.

- Quem poderia ter feito isso? - pergunta Laís, o rosto vermelho e a respiração ofegante - Porque fizeram isso com ele? Porque ele?

- Porque ele é nascido trouxa... - diz Ravi, sem olhar para Bernardo - Fizeram isso com ele por preconceito.

- Eu sou mestiça e estou viva! - grita Diana, olhando para Ravi com tanta raiva que até parecia que ele era o culpado - Nicolas é mestiço, Isis é mestiça, Carlos é mestiço... Laís é nascida trouxa! Isso é injusto! Ele não fez nada...

 Diana chorava tanto que lhe faltava ar, ela apertava a mão de Bernardo, esperando que ele demonstrasse alguma reação.

- Tem que haver uma maneira de descobrir quem fez isso... - fala Isis, uma lágrima queimando o seu rosto.

- Nós vamos descobrir, mas os pais estão começando a chegar, eu acho que é melhor voltarmos para Castelo Bruxo. - aconselha o Sr. Menedez quase em um sussurro, vendo a movimentação de alunos que aos poucos atravessavam o fervedouro.

 O professor fez um feitiço para que Bernardo levitasse, obrigando Diana a se levantar. Assim que eles desaparecem no fervedouro Nicolas se aproxima para abraçar Diana, todos ali, por pior que estivessem, queriam ter o poder de passar o pouco da sua força para ela, na verdade todos desejavam que aquilo fosse apenas um sonho e, ao acordassem, Bernardo ainda estivesse vivo. 

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