4° ano - I

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"- Você não devia estar bebendo tanto néctar assim. - diz o Sr. Menedez, tirando a taça de conteúdo viscoso e amarelo brilhante da mão da diretora - Posso não entender de mitologia, mas sei que isso em excesso faz mal.

- Eu estou preocupada José. - murmura a Profa. Garcia, cruzando as mãos.

- Akira, eles estão em família, eu tenho certeza que eles estão bem. - diz o Sr. Menedez, sentando-se a frente dela e esticando a sua mão para tocar o ombro da amiga - Além do mais, se eles precisarem de você é só eles tocarem a marca.

- E se eles não conseguirem? - pergunta a diretora, pessimista - E se eu não chegar a tempo? Ou se eu sequer perceber que eles estão me chamando?

- Do jeito que você me descreveu que essa coisa queima, se você não perceber você pode ser declarada a pessoa mais sonsa do mundo.

A Profa. Garcia riu, deixando que a sua preocupação se esvaísse momentaneamente."

Laís acordou com a sua mãe entrando no quarto, ela estava terrivelmente nervosa, as suas mãos tremiam e ela soava frio.

- Suma daqui Laís! - ela pede, caminhando até a filha - Onde estão as suas coisas?

Laís, quase como um habito momentâneo, colocou a sua varinha no cós da calça de moletom.

- Mãe, calma... o que aconteceu? - Laís pergunta, porém a Sra. Illary não teve tempo de dar demais explicações, pois a porta do quarto foi aberta e dois homens altos segurando duas armas desconhecidas para Laís entraram no cômodo.

A Sra. Illary gritou desesperadamente, mas o seu grito foi silenciado por um tiro direto em seu peito, fazendo ela cair no chão, o homem mudou a sua mira para o rosto de Laís.

- Não se mova, ou a próxima será você. - ele diz, a sua voz estava baixa, mas o seu tom era tão firme que ecoava pelo quarto.

O coração de Laís estava apertado como se alguém tivesse acabado de aperta-lo com as próprias mãos, antes que ela pudesse ter qualquer reação o outro homem se aproximou e amarrou as suas mãos, de modo que as palmas ficassem opostas uma para outra.

Eles empurraram Laís pela sala, onde ela encontrou o pai caído no chão com um tiro na testa, ele parecia tão calmo e passivo que Laís teve que reprimir a vontade de voltar lá só para checar se ele não estava realmente dormindo.

Os dois homens jogaram Laís dentro de um carro e vendaram os seus olhos, ela só conseguia escutar o barulho das rodas batendo contra o chão. Laís não conseguiu evitar que as lágrimas escorressem por debaixo da venda.

- É aqui. - anuncia um dos homens, Laís foi puxada para fora do carro e a sua venda foi retirada.

Ela encontrava-se em um lugar deserto, vulgo única construção era uma minúscula igreja a frente, Laís até poderia admirar o amanhecer do sol por trás daquele prédio se não fosse a situação em que ela estava.

Tremendo em terror, ela caminhou até a igrejinha. Haviam poucos bancos nas laterais e no altar estava um homem com roupas de padre, ele sorriu quando viu a garota entrando na igreja, os dois homens trouxas colocaram-na a frente dele.

- Criança. - o padre disse, a sua voz ecoando pela igreja vazia - Você está sendo acusada por praticar bruxaria.

Laís levanta o olhar, encarando o homem, ele tinha a testa enrugada, cabelos grisalhos e olhos pequenos, ele parecia esperar uma reação de Laís mas ela apenas continuou fitando-o, tentando parecer o mais superior possível.

O padre virou-se e pegou uma corrente com uma cruz na ponta, colocando-a no pescoço de Laís, em seguida ele faz um gesto para os outros, que forçam Laís a se ajoelhar, ele coloca a sua mão sobre a cabeça dela, murmurando uma oração.

Assim que ele termina a sua oração ele pega uma adaga sobre a mesa e a posiciona sobre a cabeça de Laís, que mesmo apavorada, continuava fitando-a.

- Deus, perdoe essa garota por ter nascido tão suja, incapaz e doente. - reza o padre, as lágrimas de Laís já não permitiam mais que ela continuasse com a cabeça erguida - Que por meio desse sacrifício que te faço, o senhor possa nos garantir a vida eterna, por estar purificando a sua terra para aqueles que realmente creem em ti.

Ele cortou primeiro o ombro direito e em seguida o ombro esquerdo de Laís, ela se sentiu tonta quando sentiu ele passar a adaga mais uma vez para recolher o sangue e colocar em uma taça de vidro.

- Peça o perdão de Deus. - o padre ordena e Laís sorri com escárnio, engolindo em seco e respirando fundo.

- Oh Deus, perdoe-me por ter sido tão suja e impura, prometo adorar-te em teu templo eternamente e nunca mais cometer estes erros novamente. - ela diz, tentando virar as suas mãos uma para a outra, por mais que sentisse muita queimação em seus ombros ao fazer isso - Prometo que jamais ficarei triste pelo ato dos seus filhos por terem matado os meus pais e ter derrubado o meu sangue, até por que, eu sei que isso é, obviamente, o melhor para mim. - ela diz, e então acrescenta em tom mais baixo - Mas eu realmente espero que eles queimem no...

- Calada! - grita o padre, Laís sorri, satisfeita com o efeito que causou, mas o sorriso some quando ela vê o padre pegar a adaga novamente e segurar o queixo dela - Isso é para que a sua voz seja purificada, e você pare de fazer essas preces falsas.

O padre rasgou a pele de Laís: do queixo até a altura do peito, ela gritou de dor e agonia, e em meio ao desespero conseguiu tocar a marca de Akira, porém ela o fez de maneira tão rápida que duvidava que a diretora tivesse sequer sentido uma mínima queimação.

Laís mal suportava de tanta dor, os cortes latejavam, os seus olhos ardiam e o coração estava tão acelerado que ela mal conseguia ouvir outra coisa ao redor.

Ela duvidou dos próprios olhos quando viu um lampejo de luz vermelha atingir o padre e ele cair para trás, ao virar-se ela viu a Profa. Garcia, o Sr. Menedez e a Profa. Oliveira.

A Profa. Garcia foi a primeira a correr até Laís, abraçando-a em seu colo.

- Professora... - sussurra Laís, na intenção de tentar explicar o que havia acontecido, mas a professora faz um gesto negativo com a cabeça.

- Nós vamos para casa agora, fique tranquila. - sussurra a professora, então os olhos de Laís se fecharam contra a sua vontade.

Raridade MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora