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Durante a semana inteira, o assunto não surgiu. Para evitar pensar no que estava sentindo, Pamela mergulhou em seus estudos. Harley, pelo mesmo motivo, estava cada vez mais envolvida em sua pesquisa. Apesar disso, elas não agiam com indiferença e nem se ignoravam, muito pelo contrário. Estavam cada vez mais próximas e a amizade se tornava mais sólida, mais intensa. Era difícil pra Harley esconder seus sentimentos — já que estava acostumada a ser sempre expressiva — e igualmente difícil pra Pamela, que costumava ser mais reservada, mas mudava completamente quando estava em casa: ela queria conversar com Harley o tempo todo, queria saber cada detalhe do que ela estava fazendo no trabalho, ouvia com atenção quando Harley falava sobre seu dia com os olhos brilhando de animação, mesmo que normalmente Pam não se importasse tanto assim com as pessoas.

— Pam, você precisa saber o que aconteceu hoje! — como sempre, Harley chegava em casa com muita energia e falava quase gritando. — Foi a primeira sessão do novo casal, a Lena e a Kara, e as duas discutiram muito, não sei porque. Fiquei com medo delas se odiarem e desistirem do teste, mas acho que ainda vai ter um plot twist, elas precisam ficar juntas. São tão fofinhas! A Lena me dá um pouco de medo, na verdade. Mas as perguntas que eu vi hoje foram perfeitas. Inclusive, faz tempo que você não responde algumas. Quando a gente vai continuar?

— Agora? Eu tenho a lista aqui.

Harley deixou suas coisas jogadas no sofá da sala e foi encontrar Pamela na varanda, onde ela estava rodeada de suas plantas. Harley ia falar, mas Pam falou primeiro, olhando para os prédios lá fora:

— Se você tivesse uma bola de cristal que pudesse falar o futuro, o que você perguntaria?

— Se a Kara e a Lena vão ficar juntas! Não aguento mais esperar pra ver!

Pam se virou para Harley, olhando com uma expressão irônica.

— Elas acabaram de se conhecer, você ia gastar seu único desejo com isso?

— Ah, você vai começar a fazer perguntas dentro das perguntas agora? Não tem nada na lista que diz "como você gastaria seu único desejo", ok? — ela riu. — E o que você perguntaria, então?

Pam achou melhor não responder, então disse:

— Sinceramente, não sei. Preciso pensar melhor. Posso voltar nessa pergunta depois. Faz a próxima.

— O que você acha que eu deveria saber sobre você?

— Hmmm... Acho que você deveria saber que eu tenho o sono muito leve.

— E porque eu deveria saber isso?

— Vai começar a fazer perguntas dentro das perguntas também?

— Sim, eu posso, eu que sou a psicóloga aqui.

— É que às vezes eu não consigo dormir direito por sua causa.

— O que eu fiz?

— Harley, você fica conversando com aquele bicho à noite.

— Só de vez em quando!

— Sim, mas você já percebeu que fala muito alto?

— Não... — ela sussurrou. — Isso não é verdade — já estava quase gritando de novo quando voltou a falar normalmente. — Ok, talvez um pouco.

— E você?

— O que?

— O que você acha que eu deveria saber sobre você?

— Ok, olha, eu queria te falar isso desde ontem. Não fica brava comigo. Por favor. Você já tá com cara de brava e eu ainda nem falei. Bom, sabe aquelas plantas suas que acabaram morrendo?

— Sei.

— Foi culpa minha. Eu tentei regar elas durante a semana inteira. Achei que ia ajudar. Mas acho que você já tinha feito isso antes e elas se afogaram. Me desculpa? Você tá brava?

Ela fez uma pausa antes de responder.

— Impossível.

— Impossível me desculpar?

— Não, impossível ficar brava com você, Harley Quinn. Próxima pergunta: compartilhe, de forma alternada, cinco características que você gosta no seu interlocutor.

— Gosto do seu cabelo vermelho.

— Eu gosto do seu cabelo de várias cores.

— Acho que você é a pessoa mais inteligente que eu já conheci. Sério. Botânica é muito difícil. Era a matéria que eu mais odiava na escola, são muitos nomes pra decorar, não sei como você consegue.

— Eu acho que você é a pessoa mais inteligente que eu já conheci. Você sempre fala das suas matérias de Psicologia como se fossem fáceis, como se qualquer um conseguisse entender tão bem o que se passa na cabeça das pessoas. Eu nunca entendo direito as pessoas.

— Eu amo que você não liga pra o que as pessoas pensam de você.

— Eu amo que você consegue conversar com qualquer pessoa em qualquer lugar sobre qualquer assunto, mesmo quando é alguém que você nunca viu na vida.

— Eu gosto desse seu tênis preto.

— Você é a única pessoa do mundo que não fica ridícula de suspensórios.

— Ei!

— E com uma jaqueta de fitinha. E com uma camiseta com seu próprio nome escrito várias vezes.

— Acho que já foram cinco coisas. Mas eu não falei quase nada ainda.

Aquilo durou praticamente a noite inteira. Queriam continuar com a lista porque queriam passar mais tempo juntas, mesmo que aquilo só tornasse a situação mais confusa. Não conseguiam mais enganar a si mesmas e também não enganavam uma a outra. Tentaram fugir no começo, mas estava claro que não tinham conseguido. Era patético morarem na mesma casa e ainda dormirem em quartos separados. Nenhuma das duas quis admitir isso e acabaram caindo no sono no sofá da sala com a televisão ligada enquanto ainda conversavam, Harley com a cabeça encostada no ombro de Pam, seus braços e pernas se tocando.

36 perguntas | harlivyOnde histórias criam vida. Descubra agora