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A festa estava terminando, a maioria das pessoas já tinha ido embora e o dia já estava clareando quando Pamela e Harley finalmente pararam de fugir e começaram a se beijar, se sentindo idiotas por não terem feito isso antes. Selina viu as duas de longe e quase ofereceu um quarto, mas não quis interromper. Quando a música parou de tocar, elas perceberam que já tinha passado bastante tempo e talvez fosse hora de ir embora. Selina se despediu das duas, convidando para voltarem sempre e dizendo:

— Mais uma coisa: Isley, sua cara tá manchada de batom preto e tem glitter no seu vestido inteiro.

Pamela olhou para o vestido, corando, e as três deram risada. Selina fechou a porta e Pam e Harley desceram pelo elevador de mãos dadas, em um silêncio confortável. Pegaram um táxi de volta pra casa, subiram até o apartamento delas cambaleando e, quando chegaram, Pam foi correndo pro banheiro.

— Ahhh, não! Acho que eu bebi muito mesmo — ela tentou dizer, mas a frase saiu meio enrolada. Harley levou um copo de água e ajudou Pam a se levantar. — Parece que minha cabeça vai explodir. Você não tá sentindo nada?

— Acho que você é meio fraca pra bebida.

— Pode ser. Vou tomar um banho pra ver se melhora.

Quando Pam saiu do banheiro, Harley a levou até o quarto, fechou a janela e a ajudou a se deitar. Estava voltando para seu próprio quarto e ouviu a voz de Pam falando, meio dormindo, meio acordada.

— Harls, fica aqui.

Ela tirou as botas e o casaco brilhante e se deitou, abraçando Pam. Em menos de um segundo, já estavam dormindo.

Poucas horas depois, Harley se levantou. Estava agitada demais para dormir direito. Foi até seu quarto buscar seu bichinho de pelúcia — o castor com uma saia de balé que ela salvaria de um incêndio — e andou até a cozinha para buscar algo pra comer. Começou a conversar com o animal bem baixinho, sussurrando pra não acordar Pam e tentando colocar uma ordem nos pensamentos.

— Não sei o que pensar. Eu tô com medo, pra falar a verdade, porque desde que eu terminei com meu ex, nunca mais gostei de ninguém. E ainda não superei todos os traumas que eu tive por causa dele. Que ódio, eu não acredito que tô falando isso, mas é sério. Ele acabou com a minha saúde mental, que já não era das melhores, e agora eu sou péssima em relacionamentos. Acho que eu já queria ficar com a Pam antes. Bem antes, tipo no primeiro dia que eu cheguei aqui. Mas achei melhor ignorar isso porque ia ser horrível se eu levasse um fora e ainda tivesse que morar aqui. Mas, porra, depois de ontem, não dá mais pra fingir que não tá acontecendo nada. Só fico na dúvida se ela queria mesmo ou se foi só um momento de loucura porque nós duas estávamos bêbadas. Vamos ter que ver como vai ser agora. Queria que ela acordasse logo, mas meu Deus, parece que ela nunca bebeu uma gota de álcool na vida e apagou completamente. Tô com medo das coisas voltarem a ser como eram antes e ela agir como se nada tivesse acontecido. E demorei tanto pra perceber, eu sou muito burra. Mas agora que eu percebi eu acho qu...

— Harley? — Pam apareceu na cozinha, sem nem conseguir abrir os olhos direito. — Você pode pegar um remédio aí pra mim? Minha cabeça tá doendo demais, quero tomar alguma coisa e voltar a dormir. Não lembro de absolutamente nada que aconteceu ontem.

— O quê?

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Pam se lembrava sim de algumas coisas, mas era tudo meio confuso, não tinha certeza o que realmente tinha acontecido e o que podia ter sido sua imaginação, então achou melhor não arriscar falar sobre aquilo naquela hora. Se Harley soubesse de algo, ela mesma falaria. Pam realmente precisava voltar a dormir e voltou para o quarto, deixando Harley na cozinha. Mesmo sabendo que não era culpa de Pam que a bebida tivesse apagado tudo, Harley não conseguiu evitar sentir raiva dela por alguns segundos. Passou rápido: ela não conseguiria sentir raiva de Pam por mais de 1 minuto nem se tentasse muito. Agora, a raiva dava lugar à confusão, e ela começou a andar pela casa, inquieta.

Arrumou sua cama, regou as plantas da sala, colocou as roupas pra lavar, mas nada conseguia a distrair. Resolveu fazer algo que não fazia há algum tempo: pegou seus patins e foi pra rua. Enquanto andava, sentindo o vento e o sol em seu rosto, seus pensamentos começaram a ficar mais claros.

O que tinha acontecido era bem simples. Ela e Isley tinham se beijado, tipo, muito. E ela não queria que aquela fosse a única vez. Mas Pam não se lembrava de nada. Ou fingia não lembrar, o que era pior ainda. Harley lembrava que Pam tinha respondido à pergunta "o que você quer fazer mas não fez ainda?" com "eu quero beijar você agora", mas ao mesmo tempo, ela tinha fugido do beijo antes. Talvez ela só estivesse bêbada mesmo e tenha se arrependido.

Por um lado, Harley queria fazer o de sempre: agir impulsivamente. Queria chegar em casa e resolver tudo de uma vez, queria dizer pra Pam "você não se lembra, ou finge que não lembra, mas ontem a gente se beijou e agora eu percebi que tenho sentimentos pra caralho". Por outro lado, ela tinha medo da resposta. Pam podia dizer que tinha sido um erro, que não tinha sido nada sério, foi só um momento, não significava nada. Harley não estava pronta pra ouvir isso. Voltou pra casa decidida a agir naturalmente, fingir que não tinha sido nada demais e esquecer. Não estava pronta pra lidar com outro relacionamento, isso ainda mexia demais com sua cabeça.

Elas podiam começar do zero. Ainda podiam ser amigas, ainda tinham a companhia uma da outra, ainda tinham seu jogo de perguntas, ainda tinham seu apartamento rodeado de plantas e isso era o suficiente, por enquanto. 

36 perguntas | harlivyOnde histórias criam vida. Descubra agora