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Pamela Isley sempre foi uma pessoa independente. Talvez até demais. Aprendeu a se virar sozinha quando era criança e seus pais se separaram. Nenhum dos dois parecia particularmente interessado em cuidar dela — jogavam a responsabilidade um pro outro, a cada semana Pam estava em uma casa diferente. Não havia uma estabilidade e a natureza se tornou o mais próximo que ela tinha de uma casa. Nas semanas em que morou com a mãe, passava mais tempo nos jardins do que em seu quarto. Quando morava com o pai, preferia ficar do lado de fora do apartamento, explorando os poucos lugares verdes da cidade.

Não era uma adolescente expansiva, mas também não chegava a ser antissocial: apenas gostava de ficar no seu canto, sem ser incomodada, conversando só com quem ela realmente quisesse conversar. Pam nunca teve dúvidas sobre quem ela era. Sempre soube que era bissexual, que queria trabalhar com alguma área da Biologia e que queria estudar em uma faculdade bem longe de Seattle, sua cidade natal, para morar sozinha. Mais do que uma felicidade, foi um alívio quando viu que tinha passado em primeiro lugar no curso de Biologia da Universidade de Gotham. Seus pais não se importaram em pagar um aluguel pra deixá-la morar sozinha — e também mal se despediram quando ela foi embora.

Pamela amava lembrar de suas primeiras semanas na faculdade. Decorou seu pequeno apartamento com todas as plantas que sempre quis ter e estudar. Sabia o nome de todas, se esforçou para encontrar uma variedade delas para encher cada canto do lugar. E pela primeira vez, se sentiu verdadeiramente em casa. Foi uma época feliz, na qual conheceu muita gente nova, muitos lugares novos, muitas possibilidades. Passava quase o dia inteiro na universidade e, quando não estava lá, saía com os colegas de sala ou com Selina, amiga de infância que também tinha se mudado pra Gotham. Durante todos os anos que passou naquela cidade, Pam sempre se sentiu realizada e... completa. Como se não precisasse de mais nada. Por isso foi uma surpresa tão grande quando Harley apareceu. Era nisso que estava pensando quando desceu do ônibus em Metrópolis e entrou no hotel onde tinha sido reservado um quarto pra ela em nome de seu professor.

Era como se Harley tivesse feito ela perceber coisas que nunca tinha notado antes e, com ela, tudo ficasse mil vezes melhor. Pam nunca precisou de ninguém, mas isso não significava que ela não queria estar com alguém. Só nunca tinha encontrado essa pessoa antes. Claro que Pam já tinha se relacionado com um número considerável de pessoas e não era nenhum pouco inexperiente. Mas nunca teve um relacionamento sério, nunca se abriu com ninguém - e isso nunca fez falta. Era difícil admitir pra ela mesma, mas o motivo pra estar meio confusa sobre seus sentimentos era porque nunca tinha passado por isso antes. Não esperava que alguém pudesse fazer tanta diferença, mas isso mudou desde que Harley tinha chegado, com seu jeito espontâneo, deitando no quarto — que Pam costumava chamar de "quarto de hóspedes" — e dormindo, decidida a ficar antes mesmo de visitar o resto do prédio. Parecia que ela tinha se sentido em casa imediatamente e, apesar dos conflitos iniciais, as duas logo sentiram como se já se conhecessem há anos. 

Se qualquer pessoa chegasse para Pamela e começasse a fazer aquela lista de perguntas aleatórias, dizendo que era pra "se conhecerem melhor" e "virarem melhores amigas", ela acharia ridículo. Ia pedir, por favor, para que não fosse incomodada porque odiava se expor em jogos desse tipo. Mas quando foi Harley quem começou com isso, Pamela ficou interessada. Ainda mais quando descobriu que o propósito das 36 perguntas era fazer com que as pessoas se apaixonassem. Estava curiosa pra saber quantas perguntas ainda faltavam pra elas, curiosa pra ouvir mais das histórias malucas de Harley, mas acima de tudo, curiosa pra saber se alguma coisa mudaria entre elas quando aquilo terminasse. Esperava que sim, e que mudasse pra melhor.

Agora que estavam longe uma da outra, ficava claro que todos os problemas de comunicação que tiveram tinham sido causados por elas mesmas, mas estava na hora de resolver. Assim que chegou em seu quarto, largou as malas e se conectou à internet, Pamela abriu a caixa de mensagens com um sorrisinho mesmo antes de saber se tinha recebido alguma coisa. Não seja patética, são 8h da manhã, Harley nem deve ter acordado ainda. Decidiu mandar uma mensagem:

36 perguntas | harlivyOnde histórias criam vida. Descubra agora