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Harley estava decidida a colocar um ponto final na história de continuarem sendo só amigas. Não aguentava mais complicar as coisas desnecessariamente. Se Pam realmente não se lembrava do que tinha acontecido, então Harley tinha que contar pra ela ou devia fazer acontecer de novo. No fundo, sua intuição que dizia que Pam só estava esperando Harley tomar uma iniciativa.

E estava certa. Como Pamela não se lembrava direito da festa, ela estava esperando que Harley falasse sobre. O assunto nunca surgiu, então Isley começou a achar que nada tinha acontecido mesmo. Se tivesse acontecido, Harley teria falado. Certo? E se aconteceu e ela não tivesse falado nada, é porque preferia ignorar? Pam não queria mais ficar com essas dúvidas. Talvez fosse sua vez de tomar a iniciativa, só precisava encontrar um momento certo.

Ela estava no laboratório da faculdade, pegando alguns frascos e arrumando a bancada, quando ouviu o som da porta se abrindo. Um de seus professores entrou ajeitando os óculos e perguntou:

— Pamela? Tudo bem? Está procurando alguma coisa?

— Tudo bem, professor, já achei o que eu queria.

— Tenho algumas novidades pra você. Amanhã de manhã vai acontecer aquele congresso em Metrópolis sobre mudanças climáticas, você ficou sabendo?

— Sei, eu queria muito ir, mas quando fui me inscrever já tinha esgotado. Você vai? Precisa de ajuda com alguma coisa aqui?

— Na verdade, não vou mais conseguir ir. Vou ter que participar de uma reunião de última hora aqui em Gotham e queria saber se você não queria ir amanhã no meu lugar. Já trouxe até as credenciais — ele mostrou os ingressos e Pamela ficou muito empolgada. Não esperava que o professor pudesse escolher ela para ir em seu lugar.

— É sério? Eu adoraria ir, muito obrigada. Mas como vai funcionar? Preciso pagar alguma coisa ou...?

— Não, a universidade vai cobrir todos os gastos. Pode ficar tranquila. Só peço pra você fazer um resumo do conteúdo pra mim. Se puder trazer anotações, quem sabe até gravar algumas coisas...

— Com certeza!

— Bom, vou te mandar o endereço e todas as informações por e-mail. Um ônibus vai sair daqui da faculdade amanhã às 6h. É bem cedo, eu sei — ele riu.

— Não tem problema nenhum, eu gosto de acordar cedo. Muito obrigada mesmo.

— Eu é que agradeço, Pamela, você vai me ajudar muito com isso. Espero que aproveite a semana lá.

Ela agradeceu pela última vez e saiu do laboratório, querendo voltar correndo pra casa pra arrumar a mala e ver todas as informações que precisasse. A única coisa que a preocupava era ficar uma semana longe de casa. Na verdade, longe de Harls.

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— Fazer uma festa surpresa? Não, isso é algo que eu gostaria, mas não é muito a cara da Pam. Chamar pra um encontro? É uma opção, mas aí preciso pensar onde... Alguma coisa extremamente clichê tipo o Jardim Botânico ou algum restaurante chique... Não, não parece uma boa ideia. Posso aparecer no meio da aula dela, sentar perto dela e mandar um bilhetinho. Até que ia ser fofo. Ou acordar ela no meio da madrugada e fazer um discurso? Tá, muito exagerado. E se eu só chegar agarrando ela sem explicações? Ok, não... Será? — Harley estava pensando em como tomar sua iniciativa, mas todas as ideias pareciam terríveis. Ela não era boa em planejar nada, afinal. Gostava mais de surpresas, de fazer o que desse vontade quando desse vontade e lidar com as consequências só depois. Assim era mais fácil: só tinha que esperar o momento certo. — Isso sim é um bom plano — ela disse e anotou no final da página de seu caderno: Não fazer planos. Ouviu a porta da sala se abrindo e correu pra esconder sua agenda dentro de uma gaveta. Santo Deus, imagina a vergonha que eu ia passar se esquecesse o caderno por aí e a Ivy encontrasse. Eu sou patética.

Ela saiu do quarto e viu que Pamela parecia muito apressada e distraída.

— Oi!

— Oi, Harley — ela disse, sem prestar muita atenção, e foi andando em direção a seu quarto, onde começou a tirar várias roupas do armário.

— Você vai se mudar?

— Sim — ela respondeu ironicamente, rindo. — Estou fazendo as malas pra fugir daqui.

— Ah, não, Pam, você é a única pessoa que me suporta.

— Tenho certeza que isso não é verdade. Vem aqui, me ajuda a guardar essas coisas.

Ela nem precisava de ajuda, só queria continuar conversando.

— Mas sério, onde você vai?

— Surgiu um evento de última hora. Vou ter que ir pra um congresso em Metrópolis pra cobrir meu professor.

— Que chique. Você tá indo agora?

— Não, é amanhã de manhã, mas preciso deixar tudo pronto porque vou sair daqui 5h.

— Vai ficar lá quanto tempo?

— Uma semana.

— Que merda! — Isso vai atrasar todo o meu não-plano.

— Não, na verdade é ótimo. Não vou gastar um centavo.

— Vou sentir sua falta.

— Que coisa brega, Harley. Nem é tanto tempo assim.

Pamela não conseguia evitar: seu jeito de demonstrar afeto geralmente consistia em fingir que não estava nem aí.

— Eu vou ter que... cuidar... das plantas?

— Merda! Uma semana é muito tempo. Você vai lembrar de regar todo dia?

— Não. Você vai ter que ficar, não vai ter outra opção.

— Eu posso te mandar mensagem lembrando.

— Eu vou esquecer de olhar as mensagens.

— Eu posso te ligar todo dia pra lembrar, ok?

— Tá.

Quando estava tudo pronto, Pamela foi buscar alguma coisa pra comer na cozinha, tentando controlar seus pensamentos. Era só uma semana longe, ia ficar tudo bem. Melhor não pensar nisso agora. Decidiu beber alguma coisa pra conseguir dormir mais cedo e depois voltou pro seu quarto. Apagou as luzes, fechou as janelas e foi deitar. Harley parou na porta do quarto, com um pijama rosa estampado de coraçõezinhos, com cara de quem não fazia ideia do que estava fazendo.

— Posso dormir aqui? — ela perguntou, esperando que Pam não perguntasse "por que?", porque ela não tinha absolutamente nenhuma explicação plausível que não envolvesse falar tudo que estava sentindo. Ela nem sabia que ia perguntar isso, só tinha saído espontaneamente. Pam não questionou — não queria estragar o momento. Além disso, tinha ficado surpresa de um jeito muito bom. Então só disse:

— Vem logo, eu tô quase dormindo.

Harley se deitou ao lado de Pam, perto o suficiente pra ouvir sua respiração, mas ainda não tão perto quanto ela gostaria. Sussurrando, começou a perguntar coisas aleatórias e Pam, percebendo que elas estavam nas perguntas de novo, fazia as mesmas perguntas de volta. Ela se virou para olhar Harley e as duas ficaram deitadas, conversando baixinho, até Pamela dormir. Claro que isso não impediu Harley de continuar falando.

— Pam? Agora é a pergunta 29.

— Harley, vai dormir.

— A gente tá quase acabando, vai.

— Shh. Eu preciso acordar 5h.

— Não é nem 1h ainda.

— Boa noite, Harley.

— Já passou da meia-noite, então é bom dia agora.

— Harley!

36 perguntas | harlivyOnde histórias criam vida. Descubra agora