- Você devia calar a boca e obedecer, como todo mundo! - Marie me repreendeu.
- Mas isso é injusto! - resmunguei.
Encarei o corpo sem vida da humana, me perguntando o que passava na cabeça de um ser para fazer aquilo, matar alguém com tanta crueldade assim.
- E quem te disse que a vida é justa? Sua mãe? - Ela zombou.
A imagem da minha mãe me invadiu a mente, o cabelo caindo em cascata sobre mim enquanto ela cantava no meu colo.
E outra imagem me ocupou, dessa vez, o cabelo loiro, manchado em vermelho de sangue, o rosto dela todo machucado, e sangue escorrendo pela boca, deitada no meu colo, implorando para que eu ajudasse ela.
- Você não sabe nada sobre ela! - gritei.
- Algum problema senhorita Lincoln? - Daisy perguntou.
Daisy era a líder da empresa.
Ela era uma loba terrivelmente temida por todos aqui.- Não senhora, eu só
- Então volte a trabalhar Anne, não quero ser obrigada a te castigar por mal comportamento outra vez. - Ela disse, em um tom autoritário, e depois cuspiu em cima de mim.
Ignorei isso, e voltei a trabalhar.
O castigo do mês passado ainda doía muito, duas chicotadas nas costas.
Vi a Marie dando um risinho, e eu quis imediatamente socar a cara dela.
Desejei que ela fosse uma entre aqueles milhares de corpo que tínhamos que limpar todos os dias, que as tripas dela estivessem lá também.
Mas não, não posso pensar assim, ela ainda é um ser vivo, é uma babaca, mas ainda é viva.
- Não liga pra ela An, tenta só não se destacar, você não quer que o Jackson note você. - Calia sussurrou.
- Tudo bem, vou fazer o possível para SER INVISÍVEL. - murmurei.
Então nós duas demos uma risadinha baixa.
Vi Daisy se virar e olhar feio pra gente.
Engolimos em seco, e continuamos esfregando o chão nojento da sala de sangue.
O cheiro era a pior parte, cheiro de morte, cheiro de dor, se é que ela tinha um cheiro, mas eu sentia isso.
Consigo ouvir os gritos, porque eu já estive aqui, todas as noites, sonhando com esse lugar, minha mãe foi vítima aqui, e eu realmente gostaria de queimar esse lugar.
As vezes eu conseguia ver umas sombras por aqui, talvez fossem as almas dos corpos, eu não sei, espero que não seja, pois ficar vagando por aqui mesmo depois da morte, deve ser uma tortura bem maior que as recebidas em vida.
...
Eu passo a maior parte do meu dia esperando o toque.
O toque de liberdade temporária.
tic tac tic tac tic tac BEEHHHH
Me levantei mais rápido do que qualquer humano ali.
Eu não suportava o cheiro desse lugar, eu não suportava as pessoas daqui, não suportava nem mesmo a visão daqui.
Faz 120 anos que houve a Guerra, onde os seres sobrenaturais se revelaram das sombras, pegando todos os humanos de surpresa, lutamos, porém perdemos, e acabamos por ser escravizados por todos os sobrenaturais.
Eles nos tomaram tudo, toda a tecnologia que conseguimos, rádios, celulares, computadores, tudo.
Não podemos estudar e somos proibidos de ler.
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A rainha das almas
Science-FictionEm um mundo dividido onde os humanos servem aos seres sobrenaturais, Anne uma humana acaba matando um vampiro após um ataque, nenhum humano já conseguiu matar qualquer ser sobrenatural que fosse, sendo caçada pela elite de vampiros, bruxos e lobos...