Mais Que Um Amor De Fim De Noite

Capítulo 3

Corri convicta da minha decisão, era a hora de acabar com o sofrimento de todo mundo, todos deveriam viver a sua vida. Mesmo com todo o volume do vestido eu consegui subir na barreira de proteção da ponte, eu olhava pra baixo com os olhos marejados, as lágrimas se desprendiam de mim e iam em direção a rodovia de baixo.
Não ouvia nada e ouvia tudo ao mesmo tempo, o trânsito estava parado, pessoas de longe me pedindo para descer, a Rafaela gritava desesperada e eu só olhava pra baixo, não sei o que eu estava esperando, nada traria o Miguel, a Marta, a vida da Ana e o Igor de volta, eu iria conseguir acabar com o meu sofrimento e o daquelas pessoas, só que eu pensei demais, o Marcos me puxou para baixo e me abraçou o mais forte que podia.

- Isso não vai acabar com a sua ou a nossa dor, como você acha que o Igor vai ficar se você fizer isso? Como você acha que eu vou ficar se você fizer isso?- ele olhava nos meus olhos marejados.- Você é a luz de todos nós! Você sempre foi forte, você sempre lutou, por que isso agora?
- Eu cansei de lutar, olha tudo o que aconteceu, eu não consigo mais ser forte.- disse gaguejando de tanto chorar.
- Você não precisa ser forte o tempo todo, você pode chorar, pode fraquejar, você só não pode desistir de você, desistir da gente, isso nunca!- ele me abraçou, me pegou no colo e me carregou até o carro dele que estava ali perto.

Haviam dezenas de jornalistas, todos tirando várias fotos e filmando tudo que estava acontecendo, a Rafaela surtou com eles.

- TENHAM O MÍNIMO DE RESPEITO COM A DOR DO OUTRO, QUEM PUBLICAR QUALQUER MATÉRIA SOBRE ISSO VAI SER PROCESSADO, ENTENDIDO? COVARDES!- ela os colocou pra correr dali.

O Marcos me colocou no carro e me tirou dali o mais rápido que pode, a Rafaela ficou no banco de trás junto comigo me dando suporte. Pela janela vi a minha mãe tentando ser forte e resolver o que seria feito com todos os preparativos do casamento, eu não sabia ao certo o que eu queria, na verdade eu nem sabia o que eu tinha, e isso me apavorava ainda mais.
A sensação de estar sem chão, de ter perdido tudo, a Rafaela olhava para mim como se não me reconhecesse, ninguém esperava por nada do que aconteceu nas últimas horas, eu nunca imaginei ter que passar por isso em toda minha vida.
Quando cheguei em casa eu chorei ainda mais, com tudo que tinha acontecido comigo o Igor não queria me deixar um segundo sequer sozinha ele estava morando comigo, então para onde olhava eu o via, era desesperador pensar que a última vez que eu vi o amor da minha vida foi estirado num chão com uma bala no peito.

- Como eu vou viver sem você?- me perguntei enquanto olhava para uma fotografia nossa.
- O Igor vai voltar Alice, ele vai lutar por você assim como você lutou por ele.- o Marcos tentava me consolar.
- Não, Marcos, ele não vai voltar. Ele se despediu de mim, ele sabia e eu tinha que saber.
- Sabe o que você precisa? Tirar esse vestido, tirar a maquiagem, tomar um banho bem gostoso, comer e dormir, quando você acordar nós vamos no hospital ver o Igor, tudo bem?- a Rafaela sugeriu.
- Eu não tenho forças pra nada disso, Rafaela.
- Nós cuidamos de você.- eles disseram juntos, me abraçaram e cuidaram de mim.

Depois que eu estava com uma roupa confortável e alimentada, eles ficaram junto comigo até eu pegar no sono, o que foi difícil em meio a tanto choro.

Eu não consegui dormir, a cada mínimo cochilo a imagem do Igor sangrando no chão vinha e eu acordava cada vez mais desesperada. Na última tentativa de dormir mais um pouco o Marcos me acordou o mais sútil que conseguia fazer.

- Você precisa ir até o hospital, a Rose precisa de você lá.- ele disse muito sério e foi aí que eu entendi, era para eu ir para me despedir.
- Eu não quero ir, não quero vê-lo ligado a tubos, a minha última lembrança tem que ser os olhos dele cheios de amor dizendo que me ama.
- Alice, você precisa, eu não te pediria se realmente fosse importante.- ele insistiu.
- Se eu tiver que me despedir saiba que eu não vou entrar.- e me levantei, completamente desorientada ainda, o Marcos me ajudou a me vestir e me levou para o hospital, onde me aguardava a resposta de uma pergunta que eu não sabia se tinha uma solução plausível.