22. Abstrato

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É, eu havia fugido como uma garotinha de Jack

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É, eu havia fugido como uma garotinha de Jack. Porém eu não conseguia ser forte quando aquele homem aparecia na minha frente, a sensação de abandono gritava na minha mente e a raiva tomava conta de todo o meu sistema. Era como reviver o momento em que ele nos abandonou, ver mamãe chorando, Blake e Adele inocentes sem entender nada e eu tendo que ser a adulta sendo apenas um ser indefeso.

Com todas as letras eu o odiava e não era capaz de o perdoar.

Nem sei ao certo como voltei até a casa de Vicenzo, eu estava agindo em automático ainda em choque com tudo. Estava silenciosa e preferia ficar assim por um tempo, talvez se dormisse um pouco esqueceria dessa droga toda.

Só que a minha vida nunca foi fácil e que raios ela seria fácil agora?

Era como se essa palavra não existisse no meu vocabulário. Desde muito nova trabalhei para ajudar em casa, cuidava dos meus irmãos e amparava a minha mãe toda vez que ela entrava em uma crise de choro causada pelo abandono.

Vivenciar isso é terrível, te forma um adulto forte, porém há rachaduras e traumas que te acompanham. O medo do abandono é presente na minha vida, esse foi o principal motivo que levou-me a me apegar a um cara tão tóxico e cruel como Hugo. Ele conseguiu me manipular, me prender em sua teia doentia e eu sentia medo... não dele, mas que eu fosse abandonada por algo que fizesse errado.

A Pantera, a mulher forte e determinada, a que não se abalava era quem eu sempre quis ser. Mas a Paola era alguém sensível, quase como uma boneca de bisqui, que poderia cair e quebrar facilmente.

Estava tão absorta em meu mundo que não percebi que tinha companhia, alguém que eu não esperava ver tão cedo, mas que com um sorriso doce me observava. Enrico era tão leve, o oposto de Vicenzo, sua aura era reluzente.

- Chocolates por um pensamento seu.- Ele oferece ainda sorridente.

Sua presença era tão boa, que era quase impossível não retribuir o sorriso, mesmo que estive acabada internamente.

- Se for os belgas eu até posso pensar no caso.- Eram deliciosos, ninguém podia me julgar.

Ele se aproximou e beijou o meu rosto com uma certa demora. O fato era que Enrico parecia nutrir uma pequena quedinha por mim e eu não sabia o que poderia fazer sobre isso.

- Te dou os chocolates belgas, mas você precisa vir experimentar a pintura terapia.- Enrico estendeu sua mão para mim.

- Não posso sair do condomínio.- Havia dado a minha palavra a Vicenzo.

- Para a sua sorte essa casa tem um lugar perfeito para isso.

Não relutei mais, apenas peguei na mão de Enrico e deixei que ele nos guiasse até esse "lugar perfeito". E a minha surpresa foi gigante quando descobri que o jardim era esse lugar, o ar livre misturado com o canto dos pássaros dava um ar perfeito de inspiração até mesmo para Van Gogh.

Uma tela em branco em cavalete e muitas tintas estavam espalhadas na parte central do jardim. Só de ver tudo eu me sentia curiosa e uma verdadeira leiga no assunto, no máximo eu desenhava um boneco de palito ou uma casinha bem simples.

- Não precisa se assustar, a gente vai fazer um tipo de arte extremamente divertida.- Ele sorriu de forma traquina para mim.

E a minha cara de confusão só o fez rir.

Enrico abriu os tubos de tintas e os depositou na paleta, sem muita ordem, porém não as misturou. Ele veio até mim e me deu a paleta, não fazia nem ideia do que viria a seguir, minha cabeça estava como a tela em minha frente: em branco total.

- Vamos fazer arte abstrata com os dedos.- Ele mostrou sua mão de forma divertida.

- Mas eu não sou boa nisso.- E realmente não era.

Ele pegou minha mão, pediu para que eu desse um dos meus dedos a ele e molhou o mesmo em uma das cores da paleta, para ser mais exata no azul. Sem cerimônia ele se pôs a fazer linhas sem sentidos por toda a tela e o pincel era o meu dedo. A sensação era estranha, molhada, mas libertadora.

- A arte precisa ser sentida, expressada e todos nós somos artistas.- Enrico explicou enquanto molhava os seus dedos com outras cores.

E pintava a tela sem simetria, apenas o abstrato.

- Tente.- Ele sorriu para mim.

E eu não pude não tentar. Passei meus dedos pelo vermelho e roxo e ao invés de linhas fiz manchas na tela me deixando levar pela inspiração. Era como uma terapia, me sentia leve e feliz de estar pintando. A companhia de Enrico era boa, calma e fácil.

Mas assim que senti o dedo molhado de tinta de Enrico na minha bochecha uma guerra começaria. Indignada peguei o máximo de tinha que pude e sujei todo o seu rosto perfeito. Estava rindo horrores, quando ele contra atacou e tudo virou uma batalha. Até mesmo a nossa obra de arte sofreu as consequências.

O local ainda era um jardim e eu tive que tropeçar em uma pedra minúscula e bancar uma cena clichê de livro. Sim, eu estava sendo segurada por Enrico e ele me olhava profundamente. Seria romântico, se não fosse um Vicenzo totalmente sombrio que aparecesse.

- Achei que houvesse sido claro sobre se aproximar de Paola.- O loiro não era o capo a toa.

A personalidade de Vicenzo era sombria, enigmática e de uma natureza fascinante. Como se tudo gritasse perigo e mesmo assim te atraísse de forma inevitável.

Nesse momento já estava com a postura correta, o sorriso de Enrico havia sumido e eu não sabia bem o que poderia acontecer. Era emoção demais para um dia só e eu nem sabia porque estava tão tensa, não estava fazendo nada demais.

- E eu não me recordo de ter concordado.- Enrico ainda era um Ricci.

Agora o negócio ficaria feio, o trem ia desandar e que Deus nos ajudasse.

- Não me faça te tirar daqui a força.- Vicenzo estava assustador.

Já que eu era o pivô do surto todo, acho que era a hora de intermediar o conflito e ajudar Enrico a ficar bem. Depois eu quebraria o pau com Vicenzo, ele achava que era quem pra ditar com que eu falo ou deixo de falar, sinceramente.

- Menos Vicenzo.- Pedi. - Mesmo não sendo da sua conta, eu e Enrico estávamos apenas pintando um quadro.- Apontei para a tela.

Ele não estava mais calmo, mas ao menos estava me ouvindo com atenção.

- E outra para de agir feito um homem das cavernas, você não manda em mim!- Deixei claro.

Arrumando meu cabelo em um coque e puxando Enrico para o meu lado antes que rolasse pancadaria.

- Enrico já está de saída e eu vou o acompanhar, depois conversamos.- Finalizei.

E deixei um Vicenzo possesso, mas controlado no momento.

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Mais um capítulo para vocês!

Algo leve, mas que mostra a construção da personagem principal e de como ela se tornou a Pantera Negra.

Alguns conflitos chegarão nos próximos capítulos, estejam preparadas!

Afinal, isso é ou não é um livro de romance mafioso?

Amor Prostituto - Leis da Máfia ( Livro īīī)Onde histórias criam vida. Descubra agora