𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓 ⚡️ 𝐁𝐄𝐋𝐋𝐀

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Não sei se sorte é a palavra certa pra usar, mas de fato, o pequeno lado bom dessa história é que nenhum carro de polícia me parou para descobrir que eu estava dirigindo levemente bêbada. Se bem que só saberiam se fizessem o tal teste de bafômetro, porque literalmente, toda e qualquer expressão tinha sumido do meu rosto. Eu fazia de tudo pra as minhas mãos não tremerem como papel. Meus dedos estão brancos de tanta força que seguro o volante. Estou tomada de fúria e é muito nítido por eu ser tão transparente em relação ao que sinto.

Eu só escutava baixos gemidos de dor vindo do cara sentado no banco do passageiro. Porém, ele não ousava me direcionar uma palavra. Sabia que eu estava há um pé de arremessa-lo pra fora do carro. Quando viu a gravidade de toda a situação, Nash me emprestou seu carro e disse que iria dar um jeito de levar todo mundo embora depois. Afinal, não era uma briguinha besta que iria acabar com a última noite do pessoal. Infelizmente, a minha já tinha acabado faz tempo.

Assim que estacionei o veículo de Nash em frente à mansão, eu nem sequer ajudei Nate à sair. Ando como um furacão pra dentro da casa e sabia que ele viria, mesmo ainda estando tonto pela porrada que levou.

— Bella! — Escuto sua voz. Não paro de andar em direção às escadas. — Porra, cara...

— Senta aí! — Aponto pro sofá e digo em tom de ordem. Ele me encara confuso mas assim que nota meu olhar ameaçador, não diz mais nada antes de sentar rapidamente.

Subo as escadas pulando os degraus e vou até o meu quarto, fuçando as minhas coisas até achar um pequeno kit de primeiros socorros. Digamos que eu sou uma atendente de cafeteria, mas pelo fato de meu sonho ser cursar medicina, eu me preocupava demais até com as mínimas partes. Num desses improvisos e aulas online da vida, aprendi à fazer curativos na área da enfermagem.

Tomo cuidado para não tropeçar nos meus próprios pés ao voltar pra sala e me sento ao lado de Nathan no sofá, abrindo a caixa de primeiros socorros e pegando ali itens para fazer um curativo. Nate estava com um corte na sobrancelha que escorria sangue pela lateral do rosto e tinha certeza que amanheceria com o olho roxo. Minha garganta estava travada para lhe dizer mil coisas, mas eu não daria mesmo esse veredito. O silêncio é a melhor opção agora.

Ele geme pela ardência quando encosto o algodão molhado de álcool em seu corte e limpo a ferida delicadamente. Seus olhos estavam em mim, prestando atenção em cada mínimo gesto que eu fazia. Ele me atrapalhava, se mexendo até demais e isso me irrita profundamente.

— Para de se mexer. — Mando, vendo ele suspirar.

— Vai ficar brava comigo agora por ter te defendido? — Pergunta.

— Eu não preciso de ninguém me defendendo. Eu tinha tudo sob controle. — Ele deu uma risada nasalada enquanto eu continuava limpando seu machucado.

— Claro que tinha, você sempre tem — Seguro o xingamento na língua. — Aquele cara ia fazer alguma besteira contigo e eu ia me estressar.

— Por que você sempre quer bancar o herói? — Jogo o algodão usado dentro de um saquinho de plástico, agora pegando o esparadrapo.

— Só não queria que acontecesse algo com você — Reune as mãos no próprio colo. — Não me perdoaria nunca.

Não respondo. Não estava com a mínima vontade de bater boca mais sobre esse assunto. Termino de fazer seu curativo e coloco gelo num saco em seu olho, para aliviar a vermelhidão e não doer tanto quando inchar. Logo quando acabo, fecho a caixa e me levanto do sofá. Nate continua sentado.

— Vou pro meu quarto — Tiro meus olhos dele. — Não demora muito pra dormir, daqui a pouco você passa mal e as dores pioram.

Antes mesmo que eu pudesse me mover, ele segura meu pulso.

— Senta aqui, por favor. Vamos conversar. — Insiste.

— Nate... — Suspiro.

— Tô te pedindo, Bella.

Puxo meu pulso de seus dedos e passo as mãos pelos cabelos, me sentando ao seu lado novamente e não fazendo a mínima questão de olhar pro seu rosto. Escuto ele respirar fundo. Que clima de velório, céus. Não me lembro da última vez que estive numa energia tão ruim ao lado dele.

— Ainda tá chateada? — Rio nasalado.

— Enxuguei as lágrimas da minha irmã por horas. — Meus olhos vão até minhas unhas. — O dia inteiro, segurei seu mundo para que ela não caísse.

Ele engole em seco. Sabe do tamanho da merda que fez quando se envolveu com ela. Nós dois sabemos que cortar o mal pela raiz era o mais sensato à se fazer, mas era inevitável que alguém saísse muito machucado.

— Mas... Acabou, não é? — O olho. — Nós não temos mais nada. Logo, ela encontrará um cara que a mereça de verdade. Se apaixonará por ele e não soltará mais de sua mão por nada no mundo. — Coça a nuca. — Por mais intensa que eu ache que ela seja sobre os próprios sentimentos e na forma que age com eles, todo mundo merece ser amado de verdade.

Mordo os lábios, sem ter muito o que dizer, afinal, ele estava certo. Por um tempo, eu gostaria que Hannah ficasse sozinha, para pensar em si mesma e colocar a cabeça e o coração no lugar. Porém, o que eu mais torço na vida é para que ela ache alguém que saiba amar cada mínimo detalhe daquela garota.

— Mas e nós? — Sua pergunta faz eu encara-lo. — Digo... Eu não quero perder sua amizade por uma única coisa que nos abalou. Você é minha melhor amiga, Bella.

Suspiro e massageio as têmporas. Tudo está tão confuso, ainda. Por conta do álcool, eu tinha ainda mais dificuldade pra pensar com clareza e tomar decisões. Mas, ainda assim, meu coração fala mais alto do que tudo. Digamos que eu seja alguém que age pela razão apenas em momentos específicos.

— Nada vai mudar, Nate. Também não quero perder sua amizade. — Posso ver um sorriso nascendo em seu rosto.

Pouso minha mão sobre a sua, pegando em seus dedos e entrelaçando aos meus. Seus olhos brilham ao me olhar.

— Mas nunca passará disso, nunca mais. Eu não tenho mais saco pra ficar brincando com fogo.

O mínimo sorriso que Nate carregava nos lábios murcha aos poucos. Mais uma vez, vejo ele engolir seco e assentir, antes de desviar os olhos. Continuo ali, ainda com meus dedos laçados aos dele, mas que pouco tempo depois, se desligam quando ele se levanta do sofá. Seu semblante já não está tão suave. Ele não carrega expressão nenhuma.

— Eu vou dormir. — Assinto, me pondo de pé também. — Obrigado por ter cuidado de mim hoje.

— Obrigada por ter me defendido, mesmo sendo burrice. — Dou um mínimo sorriso ao escutar sua risada fraca.

Nathan se aproxima, beijando com carinho minha testa e acariciando minha bochecha. Eu estava paralisada.

— Boa noite.

E então, ele se retira da minha frente e sobe as escadas rapidamente, me deixando ali só e com mil borboletas em meu estômago.




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andar com fé eu vo que a fé não costuma faiá

𝐁𝐈𝐑𝐓𝐇𝐃𝐀𝐘 𝐒𝐄𝐗, 𝗺𝗮𝗹𝗼𝗹𝗲𝘆. •  hiatus!Onde histórias criam vida. Descubra agora