capítulo 1

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Ana

A minha vida nunca foi muito fácil. Aos treze anos meu pai abandonou minha mãe, eu e meu irmão a nossa própria sorte, por conta de uma mulher bem mais nova que conheceu em uma das suas viagens longas de semanas longe de casa. Minha mãe sofreu muito e sofre ainda, ela nunca o esqueceu apesar de tudo. E agora aos 20 anos, aqui atendendo estes clientes nessa rede de fast food, sonho em juntar um dinheiro, pagar a faculdade do meu irmão, realizando o sonho dele. Nossa casa infelizmente foi hipotecada, então arranjamos uma apartamento (ta mais pra um apertamento literalmente) num bairro mais pobre e afastado do centro. Ta aí outro motivo pelo qual trabalho: comprar uma casinha mais digna para minha mãe e meu irmão. Eles são, definitivamente, tudo para mim.

- Acorda Ana, tem mesa pra ser limpa! - Jane, minha melhor e única amiga, me desperta de mais um momento desses em que me pego pensando que um dia todo esforço valerá a pena.
- Ok, já estou indo - Digo a ela um pouco envergonhada.

Pego meu paninho, com álcool e detergente e me aproximo de uma mesa que acaba de ser esvaziada. O lixo está por todo lugar, eles nunca conseguem jogar seus próprios lixos no lugar apropriado? Eu me pergunto todos os dias, todas as vezes que vou limpar cada mesa desse lugar. Distraída, acabo por me esbarrar num cliente e derrubar todo o seu refrigerante. Pronto, era só isso que me faltava!
- Óh, me desculpe! Senhor, por favor me desculpe! Eu sou muito desastrada! - apresso-me em tentar limpar a bagunça que fiz.
Antes mesmo que o cliente possa responder, Kleber esta as minhas costas, começando a desferir a mim as mesmas e velhas palavras que estou acostumada a ouvir de sua boca, na frente de todos os clientes.
- Como sempre a incompetente Ana Banana não consegue passar um dia sem que faça algum tipo de merda! Isso será descontado do seu salário! - Fala e vira-se ao cliente - Perdoe-nos senhor, isso não voltará a se repetir. Vamos repor sua bebida, por gentileza dirija-se ao balcão, hoje seu combo será por conta da casa! - Termina a frase apontando ao balcão e volta a me olhar.
- Incompetente, limpe isso e vá já para os fundos, porque lá é o lugar de gente do seu tipo!

Lágrimas ameaçaram cair, garganta queimando forte e os lábios trêmulos, me segurando para não chorar. Apenas conclui a limpeza de cabeça baixa, evitando mais humilhação. Ao me levantar, secando as mãos no avental gastado, mantenho a cabeça baixa, até esbarrar novamente em mais um cliente. Antes de olhar mais um estrago que eu fiz, fecho brevemente os olhos evitando que as lágrimas caiam.
Só abro assim que meu nome é chamado.
Me deparo com um homem, talvez uns 40 anos. Apuro mais o olhar e vejo que ele está muito bem vestido. Um sapato social que combina com um jeans escuro e justo, uma camiseta branca por baixo de um blazer preto. Cabelos levemente espetados e um óculos de sol.

- Ana?! - escutei novamente e percebi que vinha da boca desse tal homem.
Fiquei puxando na memória de onde eu poderia o conhecer e tive certeza: nunca o vi na vida. Um gelo passou pela minha espinha ao ficar tentando imaginar quem seria esse senhor e como ele sabia meu nome.
- eu.. v-voce... Como você sabe meu nome?
- esta escrito no seu crachá... - ele me respondeu e me olhou com certa curiosidade nos olhos...
Claro, estava escrito no meu crachá. Como eu consigo ser assim? Tão burrinha ...
- óh sim claro, está mesmo. Em que posso ajudá-lo.. senhor?
- Marcos, me chamo Marcos - responde estendendo a mão - poderia dar uma palavrinha com você Ana?

- Claro, claro senhor Marcos! - me passando mil coisas na cabeça, me atento ao que o homem tem a dizer.

- Ocorre o seguinte Ana, estive te observando da mesa onde me sentei - aponta para trás de si - e me veio a mente que você serviria para um... Digamos trabalho.... Uma vaga de trabalho que tenho a lhe oferecer.
Confusa, olho meu corpo e depois pra ele, não entendendo absolutamente nada.
Enxergando a confusão que se formou em meus olhos ele se apressa a explicar:

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