— Tem certeza que quer saber? — perguntei, sabendo qual seria a resposta, mas tentando ganhar tempo pra colocar meus pensamentos em ordem.— Ludmilla, eu estou tentando entrar em algum tipo de relacionamento com você, já lhe disse como me sinto, mas para isso ir pra frente eu preciso te conhecer e te entender — ela disse calma e eu suspirei.
— Você me conhece — murmurei contrariada, ouvindo seu suspiro alto.
— Eu sei praticamente toda a história da vida de Daiane porque ela nos contou, e nós nem somos próximas — Brunna comentou, calma — Agora, nós duas já temos mais intimidade física do que qualquer outra coisa, e eu ainda não sei sua história.
— É diferente, Dj estava em perigo — a lembrei, vendo seus olhos rolarem.
— Vai esperar estar em perigo para confiar em mim? — me questionou, um pouco chateada e eu senti meu coração acelerar.
Eu já confiava nela há muito tempo. Já estava na hora de ser sincera.
— Papai era um detetive da polícia de Chicago — comecei devagar, tentando não olhar para o rosto surpreso de Brunna por eu ter começado a contar tentando não me apegar a essas lembranças que começavam a invadir minha mente — E minha mãe era uma policial, eles se conheceram por causa de um caso que trabalhavam juntos, se apaixonaram e se casaram, dois anos depois, eu nasci — suspirei, acabando por sorrir ao ter memórias antigas da minha infância — Éramos felizes, papai adorava me ensinar como ser uma detetive e minha mãe era uma boa mãe, do tipo que me pegava no colo e me escondia quando papai brincava de ser um monstro — ri baixinho, com as lembranças e vi um sorrisinho no rosto da Bru— O que aconteceu? — ela perguntou calma.
– Eu lembro de fazer 9 anos e mamãe dizer que estava grávida — contei, fazendo um esforço maior para me recordar — Luane nasceu e era uma menininha saudável e adorável — sorri com as lembranças da minha pequena irmã — A primeira palavra que ela falou foi Milla, para mim, mamãe ficou louca que ela não havia dito "mama", como eu.
— Mika? — Brunna questionou e eu apenas dei um meio sorriso.
— Ela não sabia dizer meu nome — dei ombros, vendo deu rosto confuso.
— Mas de Ludmilla para Mika é meio estranho — ela disse desconfiada e eu desviei o olhar.
— Você vai entender — falei baixo e não dei chances para ela responder — Hm, eu não lembro muito bem de tudo, mas em uma época papai descobriu corrupção dentro da polícia de Miami, onde nós morávamos, e sua vida se tornou aquilo, descobrir quais eram os policiais corruptos, que roubavam dinheiro e drogas das apreensões — expliquei, vendo o olhar chocado de Brunna — Na mesma época, lembro de sempre ver minha mãe com um amigo policial, seu parceiro, até que um dia, os peguei se beijando — desviei o olhar para a parede, engolindo em seco ao me lembrar daquela cena — Minha mãe não me viu, e eu saí dali, encontrei com meu pai, que também havia visto a cena, me lembro que ele apenas me pegou no colo e me levou para meu quarto, foi a primeira e única vez que o vi chorar.
— Eu, eu, nem sei o que dizer, amor — sussurrou, porém eu apenas respirei fundo e continuei.
— Os dias seguintes foram tensos, lembro de brigas entre meus pais, mas não lembro o que diziam — senti meus olhos marejarem, mas continuei tentando manter a voz firme — Um dia, estávamos eu, papai e Luane em meu colo, na garagem, papai estava tentando consertar seu carro, a sirene de polícia não estava funcionando, eu estava atrás do carro, tentando fazer com que Lulu parasse de tentar entrar pra debaixo do carro — acabei sorrindo sem humor, ela era só um pequeno bebê que só sabia balbuciar meu apelido e chamar nossos pais — Eu lembro do parceiro da mamãe entrando na garagem, ele estava irritado e falava alto, lembro do meu pai me olhando devagar e discretamente, me mandando ficar quieta, foi difícil fazer Luane parar de se mexer e ficar quieta — senti um enjôo repentino e fechei os olhos tentando reprimir as imagens que aparecessem em minha mente — Lembro do homem erguer uma arma, eu podia ver tudo de onde estava, eles eram altos e eu podia ver por cima do capo do carro, eu sabia o que era uma arma, papai e mamãe sempre me mandaram ficar longe das deles, e tiravam as balas de dentro sempre que chegavam em casa para que eu não machucasse. Hm, lembro do barulho, foi alto, estrondoso, e meu pai caiu, a camisa branca que ele usava virando vermelha em segundos, o sangue escorreu pelo chão, e acabou chegando onde eu e Luane estávamos, nos manchando de vermelho também, tive que tampar a boca da minha irmã para que ela não chorasse.
Senti meu rosto molhado e só então me dei conta que tinha deixado algumas lágrimas caírem, olhei rapidamente para o rosto chocado da Bru, mas desviei logo, não iria suportar aquele tipo de olhar novamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre a lei e o amor
ActionComo decidir o que é certo sendo que o errado sempre foi o certo. Você seria capaz de mudar por amor? Ludmilla tinha apenas uma escolha.