Mamãe?

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Ludmilla

Entrar ali, fez meu estômago revirar, minhas mãos suaram, e meu coração acelerar. Não, não era no bom e romântico sentido. Essas eram reações naturais do medo ao nervosismo, e ansiedade.
Penitenciária feminina de segurança máxima em Bedford Hills, Estado de Nova York.
Nunca fiquei presa aqui, eu não era um perigo físico para a sociedade. Porém, de qualquer forma, era uma prisão, e entrar ali, mesmo sem algemas em meus pulsos, fez meu sangue gelar e uma leve tontura me atingir. O som das botas contra o piso era a única coisa que eu conseguia escutar, tanto as minhas, quanto as que andavam à apenas um passo atrás de mim. Era Brunna, que fez questão de vir comigo, e mesmo quando tentei dizer que queria fazer isso sozinha, ela usou o argumento que perante a lei, ela era minha tutora e eu não tinha autorização para visitar um preso sem acompanhante.
Sei que era verdade, porém, uma parte de mim, ficou grata de Brunna insistir em vir, não pela lei, mas por ser minha namorada.
Admito que ainda não havia caído muito bem a ficha que namorávamos.
Só que, novamente, por culpa da lei, não podíamos ser um casal publicamente aqui, então não poder entrelaçar nossas mãos aqui, ter seu conforto ao tocar minha pele, estava me deixando ainda mais nervosa e apreensiva.

— Sabe que não precisa fazer isso, não sabe? — Sua voz soou próxima ao meu ouvido e eu suspirei, parando de andar, me virando para ela, seus olhos me analisando com preocupação.

— Você sabe que preciso — retruquei, soando firme — Estou adiando isso há anos — lembrei, fazendo uma careta
— Quando Yuri nasceu, eu nem ao menos a vi, foram apenas ligações.

— Vou saber o que ela disse para te convencer a isso? — Brunna perguntou baixo, analisando minha expressão.
Após a ligação da minha mãe três dias atrás, eu fiz com que minha namorada autorizasse os papéis para eu visitar Silvana na prisão. Só que, por mais que suas insistências fossem irritantes e constantes, eu não disse nada sobre nossa conversa ao telefone. E, sinceramente, não queria ter que falar tudo.
Brunna ainda me encarava, os olhos verdes em um brilho de carinho. Tive que pensar por alguns minutos. Lembrar a mim mesma que Bru me amava, ela só queria que eu estivesse bem.
Suspirei, olhando para meus tênis por alguns instantes, antes de olhar de volta para ela.
— A pena dela acaba em poucos anos, ou antes por bom comportamento — comentei, desviando o olhar — E, em menos de dois anos depois que ela sair, é fácil que ela consiga a guarda do Yuri, ainda mais provando que eu falsifiquei tudo para ficar com ele — expliquei, voltando meu olhar à minha namorada que me encarava incrédula — Ela disse que se eu vinhesse, ela se contentaria a apenas ver ele — informei.

— Por que não me disse antes? —  questionou, o tom mostrando que  estava se irritando — Eu posso impedir ela até de chegar perto do seu irmão, ou você se esquece que sou uma agente do FBI?

— Mas eu também quero falar com ela, Bru, e você sabe, ou se esquece que eu fui sequestrada por um meio irmão? — soei um pouco mais irônica do que o esperado, a vendo soltar um suspiro.

— Só, eu me preocupo com o que vai acontecer caso você escute respostas que não queira ouvir —  disse,  em um tom mais baixo, olhando ao redor pra ter certeza que ninguém a ouviu.

— Eu vi e ouvi muitas coisas, Brunna — falei vagamente, antes de cruzar meus braços — E, ontem, Doutora me liberou para voltar ao trabalho, então — dei ombros, despreocupada.

— Para trabalhar, não para reviver seus traumas — ela  argumentou, mas eu apenas soltei mais um suspiro, descruzando meus braços e a olhando o mais atentamente que podia.

— Eu vou ficar bem, eu juro — garanti, mas pelo seu olhar, sabia que ela não estava confiando muito nisso.

— Srta Oliveira? — a voz de um dos guardas me chamou a atenção — Vamos?
Seguimos o guarda até uma das salas fechadas para visitas entre advogado e cliente. O mesmo tipo de sala onde eu recebia visitas de Daí que costumava se passar por minha advogada, e onde conversei com Brunna meses atrás.
Parece que faz tanto tempo.
Mas foi apenas há cinco meses.
O guarda abriu a porta, e não evitei de travar no exato momento que olhei para dentro.
Os cabelos pretos desbotados estavam bem visíveis, o óculos de grau no rosto, as mãos algemadas acima da mesa, o uniforme laranja escuro, os olhos encarando as mãos. Respirei fundo, sentindo uma mão em meu ombro, olhei para minha namorada, que me transmitiu um sorriso reconfortante.
Dei três passos para dentro da sala, o que chamou a atenção de  minha mãe, que levantou os olhos devagar.

Entre a lei e o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora