Pesadelos

561 55 0
                                    


Ludmilla

"Eu via seu rosto irritado, suas mãos fechadas em punho. Sua voz gritando comigo, por eu ter me soltado. Eu senti minhas mãos serem duramentes puxadas para atrás novamente por alguém que não vi, sendo amarradas, dessa vez com mais força e mais nós.

— O que você fez?
Ele gritou, me chamando e eu engoli em seco, não podendo falar.

Ele se aproximou, me puxando pela camisa, fazendo a cadeira balançar, cuspindo em meu rosto e soltando a cadeira.
Fechei os olhos, sentindo aquilo escorrer pelo meu rosto.
Nojo.
Medo.
Eu estava com medo.

— Amarra os pés dessa puta antes que ela se solte — Ele mandou, e vi um cara alto se aproximar.
Eu vi o cano da arma saindo da sua calça. A que estava na minha já havia sumido assim que eles notaram que eu estava solta. Quando o homem se afastou eu já não conseguia me mexer. Eu poderia me soltar, já me soltei de algemas piores, panos seriam tão fáceis.
Mas eu não conseguia me mexer. Meu cérebro não mandava essa ordem aos meus músculos, e eu não consiguia me mexer. Eu estava tão assustada.
Memórias da minha infância se perdendo em meio a realidade.
Eu via sangue no chão.
Mas não havia sangue ali. Em algum lugar da minha mente, eu sabia disso.
Mas tinha tanto sangue.
E meu pai tremia, seu corpo tremendo enquanto o sangue saía de seu corpo.
Encarei o tênis branco que usava, meus tornozelos amarrados em cada pé da cadeira. Estava limpo. Estava tudo bem. Estava limpo. Não tinha sangue ali.

— Me diz a porra que você fez Mika? — Ele gritou de novo, seu punho se erguendo.
Atingiu meu rosto. Cuspi um pouco de sangue. Agora havia sangue no chão. Acho que soltei um gemido dolorido ao sentir meu cabelo ser puxado, e em seguida um novo soco atingir meu rosto. Tossi umas vezes, o sangue saindo da minha boca manchando o chão.
Agora estava gelado. Tinha algo gelado na minha testa. Uma circunferência, eu conseguia sentir. Olhei pra frente. O rosto irritado do meu irmão, sua mão segurando firmemente uma arma apontada para minha testa.

— Diga, diga o que fez, ou eu juro que te mato bem aqui — ameaçou, mas, surpreendentemente eu sorri.

— Seguindo os passos do teu pai? — consegui soltar, meu maxilar me machucando a cada vez que eu abria a boca.
A arma foi destravada, e eu senti meu coração acelerar, o suor escorrendo pela minha testa.
Ou talvez fosse sangue.

— Se vai falar merda, é melhor não falar nada — Ele resmungou, tirando a arma da minha frente, se aproximando com um pano.
Neguei com a cabeça, deixando minha boca bem fechada. Mas um soco em meu estômago fez com que eu abrisse a boca, o permitindo me amordaçar. Senti algumas lágrimas em meus olhos.
Eu estava vulnerável.
Indefesa.
Como há quase 15 anos atrás.
Ele se aproximou mais uma vez. Os olhos que costumavam ser brilhantes, felizes, que me protegiam nas ruas. Agora eram tão escuros, duros, tristes, irritados.
— Se nós formos pegos. Eu juro que te mato. Mas antes, eu mato sua querida agente. Eu mato a sua melhor amiga. E eu juro, eu juro que deixo assim, amarrada e amordaçada e mato sua irmãzinha na sua frente.

Arregalei meus olhos, negando desesperadamente com a cabeça, assustada. Ao ouvir sobre a minha irmã,ficando preso na minha mente, me fazendo lembrar de quando ela era um bebê.
Minha mão em sua boca, a impedindo de chorar, eu tentando esconder seus olhos, para ela não ver. Não ver o que eu vi.
Meu rosto foi virado. A dor latejante em minha bochecha me fazia perceber que ele havia me socado, me trazendo a realidade.
Minha mente não sabia o que era realidade.
Agora, o chão realmente tinha sangue."
Me sentei em um pulo. Eu sentia meu corpo molhado. Suor. Meu peito subia e descia depressa. O coração batia rápido. Minha respiração descompassado. Minhas mãos apertavam o lençol debaixo de mim.
A mesma lembrança todos os dias sempre que eu fechava meus olhos. Cada dia se tornava maus real. Cada dia eu lembrava mais detalhes de como me senti, de como tudo aconteceu.

Entre a lei e o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora