Capítulo 3

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Cass estacionou diante do imenso portão de ferro da muralha que circundava toda a propriedade. Aquilo não existia da última vez que pisara na Bretanha. Havia a grande muralha sim, e um portão imponente também, contudo, de madeira e com enormes trancas feitas de troncos e ferro fundido. Pesado e difícil de derrubar, com calhas para os imensos caldeirões de óleo fervente,usados para derrubar a combinação fatal em cima dos inimigos durante um ataque.

Luke desceu do carro e com o olhar iluminado pela ansiedade forçou o portão. Para sua surpresa ele cedeu com facilidade, deixando uma imensa passagem para o sedã vermelho. Sem esperar por ele, Cass ligou novamente o carro e deu a partida, fazendo-o correr para acompanhá-la. Tomaram o caminho arborizado que afundava dentro de uma gigantesca propriedade. O trecho também não existia há mais de um milênio, mas as árvores, as flores e o canto de pássaros deixava tudo menos sombrio e mais colorido.

Depois que Luke entrou no carro, seguiram em silêncio pelo resto do percurso.

Cass suspirava pesado, mas Luke mantinha-se absorto em pensamentos medievais e grandes guerras. Quando pararam diante da porta da muralha menor, a imortal surpreendeu-se em como a construção mudara. Nas paredes de pedra, onde antes havia janelões imensos e impossíveis de serem fechados adequadamente, agora existiam inúmeras janelas menores de material muito mais recente e sofisticado. E a porta do muro, que outrora sustentava o brasão Pendragon, agora mantinha apenas um ferrolho grande, dourado e arredondado, sem a imagem do dragão. Cass tocou com a ponta dos dedos sobre ele, mas não ousou usá-lo para bater. Havia uma campainha perto de um vaso envelhecido com uma folhagem horrorosa que balançava com a brisa. Luke, ainda envolvido com algum pensamento e comentários sobre a imensa barba que Lancelot deveria ter, tocou a campainha, não uma ou duas, mas três vezes seguidas.

Finalmente um estalido e um rangido seguiram-se da abertura da imensa porta de garagem que os separava da parte interna da construção. As coisas mudaram mesmo, Cass tinha de admitir. Não apenas o portão deixou de ser da velha madeira Bretã, como agora era movido eletronicamente. Mas o mundo inteiro passara por transformações, os tempos eram outros. Cass esperava que Lancelot também tivesse se tornado outra pessoa, e mais, que ainda vivesse ali.

Por dentro da fortaleza a coisa era ainda mais extraordinária. Assim que estacionou o carro e desceram, Luke assoviou impressionado. À direita, onde havia uma estrebaria mal iluminada e fedorenta, agora era uma garagem coberta e com iluminação ao estilo gótico, bastante charmoso. Cass calculou que caberiam ali pelo menos seis carros. Mas estava vazia. Ao lado das vagas de garagem havia outra com uma porta de madeira à moda americana, fechada. Ali haveria um carro, e se o morador daquele castelo fosse Lancelot mesmo, com toda certeza, seria um carro muito caro e veloz.

Seguiram para dentro da propriedade que era dividida em três estações paralelas, separadas por pátios. A primeira, uma construção de menor porte, com requintado acabamento e pintura discreta, quartos de hóspedes e sabe-se lá com quantas cozinhas e salas. Outrora utilizada para alocar familiares e pessoas do Conselho Pendragon; a segunda e terceira, muito perto uma da outra, tinham os aposentos da família real e a edificação onde os impostos eram guardados. Exatamente como no passado ainda existiam as estações. Imensas construções de pedra que um dia abrigaram o clã dos dragões. Agora, porém, o aspecto requintado da Era contemporânea mostrava uma mansão de alto padrão, interligada, e não mais uma fortificação de guerra. Luxo. Muito luxo.

Cass aproximou-se da parede da primeira estação e tocou com os dedos trêmulos sobre as pedras da entrada em forma de arco. Ela vivera ali, fora feliz, fora amada, e agora, só restavam as lembranças. Cruzando o arco principal, Cass saiu para o pátio central, passando por um corredor pouco iluminado, decorado com quadros de paisagens e lustres discretos, entre o primeiro e o segundo prédios. Tão logo pisou na grama avistou a construção, a moradia da família Pendragon. Estava bonita, limpa, pintada e adornada com as mesmas lamparinas, também ao estilo gótico que se espalhavam por todo o entorno e a cada encontro de arcos. O corredor dos arcos, como Cass chamara na primeira vez em que Arthur a levara para conhecer a propriedade, não ostentava mais as pedras antigas, tudo tinha sido substituído por arcos trabalhados em alvenaria e muito bem pintados. Quem vivia ali se dera ao trabalho de pensar bastante sobre arquitetura, sem deixar a imponência se perder. O requinte se espalhava por toda a extensão, piscina, mesas e cadeiras, espreguiçadeiras, gramado, e uma sala envidraçada que alguém tivera o trabalho de construir e encher com aparelhos de ginástica. Cass olhou mais atentamente e o viu.

A maldição de Arthur - Livro 1 - Série ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora