Uma comitiva com dezoitos arqueiros chegou cerca de trinta minutos após o toque da corneta. Assim que o tumulto das apresentações e da liberação da entrada do grupo cessou, a festa recomeçou, ainda mais animada e com mais gente disposta a dançar.
Os arqueiros se mantiveram em postura solene em primeiro momento, mantendo seus arcos pendurados no flanco direito e a aljava carregada no esquerdo. Como tudo em Lemúria, eles não poderiam ser simplesmente homens comuns e Cass ficou absolutamente espantada com a aparência angelical que tinham.
Com os olhos fixos na fileira imóvel de arqueiros, ela observava atentamente os detalhes. Pele pálida com leve corado nas bochechas, lábios finos e cor de rosa, não muito mais altos do que ela, vestindo-se com sobrecasacas de um verde bem escuro. Os cabelos louros esbranquiçados cortados como soldados, evidentes queixos e orelhas pontudos. O olhar, em maioria escuro como a noite, parecia perdido.
Depois de uma conversa rápida entre o capitão dos arqueiros, Caspar, Toruk e Lizard, os rapazes foram dispensados para se misturar. Foi preciso apenas um gesto de mão do líder arqueiro para despertar o interesse das moças de Paktra, a cidade caixa. Tão logo puderam se lançaram animadas para cortejá-los. Os menos tímidos se deixavam arrastar para o meio da festa, guiando com agilidade as meninas em danças que misturavam passos de valsa, saltos acrobáticos e outros que simulavam animais. Parecia uma dança do acasalamento e se o fosse, estava definitivamente dando certo.
— O que eles são? — Cass perguntou para Gael, que se divertia observando-os.
— Lemurianos.
— Eu sei disso, pare de bobagens, quero saber a raça, etnia ou como quer que seja que chamam por aqui.
— É isso que são, lemurianos, descendentes diretos dos ancestrais.
— Nem em um milhão de anos eu seria capaz de imaginar que ia dar de cara com elfos de verdade. Me sinto no próprio Senhor dos Anéis — Luke chegou rindo.
— E elas seriam...? — Cass continuou a conversa com Gael, ignorando Luke e lançando um olhar de soslaio para duas jovens que disputavam a mão de Arthur para uma dança, cidadãs de Paktra que pela coloração dos cabelos não deveriam ter mais do que vinte anos. O Pendragon parecia um pouco sem jeito no meio das duas garotas animadas, sorriu cortês, deu a mão para ela e se deixou levar.
— Eu diria assanhadas. — Luke provocou.
— Parecem fadas. — Lancelot cochichou ao pé do ouvido de Cass com sua voz grave sedutora.
— Ninfas. — Resmungou Cass percebendo a intimidade com que tocavam seu Pendragon.
Duas crianças goldlins puxaram Cass da conversa em relação aos cidadãos de Paktra e a levaram pelo salão rodeando-a e implorando que fizesse algo mágico. A imortal, embora se sentisse bastante cansada, não se recusou e de bom grado começou a lançar pequenos fogos de artificio que iluminaram de prata e azul a noite dentro da cidadela. Logo uma pequena multidão infantil a cercava gritando e aplaudindo com emoção.
Arthur agradeceu a dança e foi sentar-se à uma das mesas que começavam a ser organizadas nos arredores da pista de dança para o jantar que logo deveria ser servido. Luke não demorou a juntar-se a ele, com os olhos fixos na imortal que parecia estar se divertindo muito.
— Pelo menos não é tão frio aqui dentro. — Luke iniciou a conversa desajeitadamente.
— Lá fora em compensação está congelando. — Arthur completou sem muita empolgação.
— Nunca estive em uma cidade como esta, me sinto em uma lata de sardinhas.
Arthur gargalhou. Sentia-se da mesma maneira.
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A maldição de Arthur - Livro 1 - Série Imortal
Fantasy"Cass fechou os olhos e cochilou, queria falar com Arthur, dizer o que sentia, despedir-se de Gael, desculpar-se com Toruk, elogiar Terian, agradecer ao senhor Myagui dos goldlins, Karhystrs e perdoar Lancelot. Eram muitas palavras a serem ditas e e...