Ainda com o coração a mil e um nó entalado na garganta, Cass suspirou quando a imagem do castelo reapareceu no horizonte. Estava escuro e a estrada, ainda que iluminada, parecia sombria demais. Sem dizer nada, Luke desceu do carro e forçou o portão da muralha, fazendo-o deslizar e dando passagem para o sedã vermelho. Ele preferiu seguir a pé pelo caminho arborizado.
Quando chegou ao portão principal, estava aberto e o sedã estacionado em uma das vagas da garagem sem porta. Luke não estava de bom humor, mas não podia culpar Cass por ficar mexida, é claro que seria um choque para qualquer um descobrir que a pessoa que amara e a quem tivera certeza de estar morta, estivesse bem viva. Mas não deixava de ser doloroso vê-la sofrendo por outro.
Luke passou pelo corredor dos arcos como um furacão e logo que chegou à segunda estação, o pátio principal do castelo do viking ruivo, deparou-se com algo que definitivamente deixava seu humor ainda pior. Lancelot saindo da piscina. O ruivo estava nu, andando em meio ao vapor que saía da água. Aquele maldito viking convencido e pelado...
Cass olhou-o com desprezo, mas o brutamontes não se deu ao trabalho de retrucar. Como o jaguar ardiloso e ferino que parecia, foi até à imortal que pegou a toalha da espreguiçadeira e jogou em seu peito.
— Seu maldito bretão... — Cass berrou. — Ele estava vivo esse tempo todo!
— Eu tentei dizer.
— Tentou uma ova! Se não fosse por você... — respirou fundo.
Os olhos verdes de Cass diziam muito mais de sua ira do que as palavras. Depois de algum tempo sob o olhar de ódio dela, Lancelot enrolou-se na toalha.
— Preciso de dois quartos, não saio daqui até achar o medalhão... —a fúria explicita na voz. — Se você estiver tentando me enganar, vou fazer uma coisa que há muito tempo desejo.
Lancelot sorriu.
— Um dia vou matar você... — Cass sibilou, afastando-se em seguida.
Luke seguiu Cass para dentro do castelo. Lancelot providenciou dois quartos sem questionar e ofereceu uma refeição aos dois. O americano comeu calado, mas Cass enfiou-se debaixo do chuveiro do quarto e depois mergulhou sob as cobertas grossas e quentes. Não pregou o olho a noite inteira e não voltou para procurar o medalhão antes de o dia raiar.
Na manhã seguinte parecia outra pessoa. Seu olhar ainda exibia os traços da noite mal dormida e das prováveis lágrimas derramadas sobre o travesseiro, mas se ela não diria nada, não seria Luke que ousaria tocar no assunto.
Fez café e esperou.
Quando Lancelot acordou, vestiu uma calça de moletom e uma camiseta de manga curta preta. Ser um imortal amaldiçoado tinha lá suas vantagens. Por mais que a Escócia fosse tomada por frio cortante, ele não morria nem sofria as consequências de se expor ao frio, como se a baixa temperatura não o alcançasse. Desceu as escadas sem fazer barulho e chegou bem a tempo de ouvir Luke resmungando sobre sua maldita sorte de sentir tanto frio numa terra como aquela.
— O que tem de ruim nestas terras? — Lancelot perguntou, entrando na cozinha e deparando-se com os dois bebendo café forte.
— O que tem de ruim? Além do frio de matar? — Luke ironizou.
Lancelot deu de ombros.
— É só ligar o aquecimento. O disjuntor fica no porão.
— Você sabia que não tem café na dispensa? Por sorte tínhamos nossa reserva no carro... — Cass questionou, aparentemente com o humor renovado. — Desde quando você só come congelados?
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A maldição de Arthur - Livro 1 - Série Imortal
Fantasy"Cass fechou os olhos e cochilou, queria falar com Arthur, dizer o que sentia, despedir-se de Gael, desculpar-se com Toruk, elogiar Terian, agradecer ao senhor Myagui dos goldlins, Karhystrs e perdoar Lancelot. Eram muitas palavras a serem ditas e e...