Capítulo 17

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Uma prece baixa começou a ser sussurrada pela maioria dos presentes. Luke chorou ainda mais, totalmente desconsolado. Arthur mantinha Cass aninhada a seu peito. Chorando e discutindo com ela em Gaélico. Cass sussurrou para que ele a deixasse. Em vários idiomas diferentes implorou para deixa-la morrer. A voz engrolada e confusa. Com espasmos e a pele queimando por causa da febre ela balbuciou: "Pare, está tudo bem".

- Você está louca se acha que vou deixa-la morrer sua maldita celta.

Arthur alçou o corpo frágil de Cass e saiu para a noite que já se iniciava. Com a imortal desfalecida em seus braços foi em direção ao imenso portão e assim que o abriram correu para a mata. Foi seguido por todos que estavam no quarto. Luke ia embalado por Toruk e Lizard, soluçando e tremendo, Lancelot tinha uma expressão tensa de dor vincada na pele bronzeada e Gael chorava baixinho. Os demais seguiram em silêncio pela trilha percorrida pelo Pendragon enlouquecido.

- Não, Cass, não morra. Eu não posso perdê-la de novo.

Arthur avistou o riu gelado e mergulhou até a cintura, baixando-a rente ao seu corpo. Cass grunhiu pelo choque térmico. Sua pele ainda queimava e Arthur afundou um pouco mais deixando apenas os ombros e a cabeça da imortal de fora. Sentindo todo seu corpo ser congelado ele esforçou-se para mantê-la ali, rezando para a febre baixar e ela sobreviver. Cass abriu os olhos que do azul cálido passaram para o prata quase translúcido e então para uma coloração totalmente negra. Sorriu fraco para ele, recostou em seu peito e suspirou.

- Você precisa me deixar.

- Não!

- Eu sou horrível. Não sei como pude amaldiçoa-lo, me perdoe.

- Não!

Arthur rugia, molhando-a com a água gelada e beijando seus cabelos bagunçados.

- Gwen, por favor não morra.

- Fui horrível com você, o abandonei...

- Não é verdade, você pensou que eu estava morto, e eu estava, mas graças a você estou vivo. E aquele sem vergonha também. A culpa é dele e não sua.

- Já é tempo de deixar isso pra lá.

- Eu sei, mas se você morrer não sei se conseguirei.

- Você é um bom homem, Arthur Pendragon.

- Por favor, lute. - Ele suplicou.

- Não posso. Prometa que vai continuar sendo um cara legal e vai sobreviver a esse inferno de mundo.

Arthur ficou em silêncio.

- Preciso que você me perdoe.

- Amo você, Gwenevere da Bretanha, amo mais você do que tudo neste mundo. Não morra, não me faça passar por isso de novo.

- Eu perdi Yagraine, perdi você... - Cass fechou os olhos e sua cabeça tombou sobre o peito de Arthur.

Na margem a maioria das pessoas da cidade esperavam, amontoadas umas às outras, pelo desfecho da cena triste. Os goldlins que se dispunham em uma fileira triste já choramingavam baixinho. E Luke por fim, certo da morte de sua companheira de caça aos demônios, deixou o corpo cair e ficou de joelhos, sem conseguir se controlar. Seu choro tornou tudo pior, entristecendo ainda mais o momento. Lancelot acabou se deixando levar e as lágrimas tomaram conta de seu rosto de viking.

- Amo você Gwenevere. Quero você de volta, quero a vida que tínhamos. - Arthur chorou, apertando-a mais junto ao peito. - Gwen... Gwen!

Ela estava morta.

A maldição de Arthur - Livro 1 - Série ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora