No primeiro dia da lua cheia, que segundo Antígona seria o único possível para atravessar o portal, Cass acordou sobressaltada. O coração palpitando forte e a cabeça em um turbilhão. Com certeza precisava passar pelo portal e os irmãos Pendragon também, se quisessem se livrar da maldição, arrancar o medalhão da pele de Arthur e salvar Gael, mas e Luke?
Luke era um mortal, habilidoso, mas um mortal. Levá-lo a outro plano ou outro mundo poderia ser um risco para a sua vida. Com um mal presságio retumbando em sua mente desde a noite em que o pegara discutindo suas visões, Cass decidiu que o americano não poderia acompanhá-los na busca por Gael. Com toda certeza Luke espernearia, resmungaria e faria chantagem. Usaria qualquer argumento para convencê-la, mas Cass estava decidida a não ceder.
A porta do quarto de Luke ficava à direita da sua, enquanto Arthur havia se instalado na subsequente e Lancelot continuava no seu, ao fim do corredor. Ninguém ocupava o andar de cima, que pertencera ao pai dos gêmeos, Uther. O ar pesado dentro daquelas paredes poderia ser opressor, mas ela manteve os pensamentos firmes na decisão que tomara. Empurrou de leve a porta que se abriu sem dificuldade. A luz do dia acertou-a em cheio. Esperou que seus olhos se acostumassem com a claridade, e só então entrou. As cortinas do quarto estavam escancaradas, os lençóis esticados.
Cass olhou para o lado e viu, pela porta entreaberta do banheiro, que Luke estava no chuveiro. O vapor quente mergulhava no quarto aos poucos, espalhando um cheiro suave de sabonete. Suspirou consternada ao vê-lo saindo enrolado na toalha, o calor emanado de sua silhueta juvenil.
Arthur acordou sentindo o corpo inteiro doer. Mal conseguira ficar no castelo nos últimos dias, e a busca por algo que os ajudasse a desvendar o portal o exauriu. A situação com Cass deixava seus ombros tensos e apesar de ser amaldiçoado, sentia-se profundamente cansado. Caminhou pelo corredor com os pensamentos na imortal. Quando a viu com as mãos levemente levantadas e os olhos afoitos, diante de sua casa, naquela noite, jurara a si mesmo que não se envolveria em nada que lhe dissesse respeito. Ela o tinha abandonado e seguido adiante, mas ele jamais conseguiu superar tudo que tinham vivido nos tempos da Bretanha. A perda de Ygraine, a imortalidade, o amor. Tudo retornava agora para atormentá-lo.
Sombrio, tomou um banho rápido e vestiu-se com roupas confortáveis. Arrumou os cabelos pretos e olhou-se no espelho. Ninguém seria capaz de dizer que ele tinha quase mil e seiscentos anos. Com a aparência de um homem de trinta, trinta e três anos, não lembrava em nada o rei que um dia fora.
Saiu do quarto com os pensamentos agitados. Sabia que, ao lado de Cass, sua imortalidade talvez não valesse muito, mas ficar longe dela, depois de revê-la e de sentir todo o furacão que fora o amor dos dois, seria impossível. Valia a pena correr o risco, mesmo que ela preferisse o americano. Mesmo que a raiva se misturasse com o amor que o avassalava tão dolorosamente.
Arthur dirigiu-se à escada. Antes de descer ouviu a discussão no quarto de Luke. Parou diante da porta, mas não teve tempo de se anunciar.
— Eu já disse que você não vai. — Cass berrava, chacoalhando as mãos para o teto. — Mesmo que eu precise transformar você em uma árvore presa ao chão frio da Grã-Bretanha.
— Não é você quem decide!
— É claro que sou. Por que você é tão teimoso?
— Porque você é uma tirana! — Luke explodiu.
— Você não vê que é muito arriscado?!
— É por isso mesmo... vou aonde você for.
Luke aproximou-se de Cass, para uma mulher pequena ela podia ser bastante irritante.
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A maldição de Arthur - Livro 1 - Série Imortal
Fantasy"Cass fechou os olhos e cochilou, queria falar com Arthur, dizer o que sentia, despedir-se de Gael, desculpar-se com Toruk, elogiar Terian, agradecer ao senhor Myagui dos goldlins, Karhystrs e perdoar Lancelot. Eram muitas palavras a serem ditas e e...