Arthur e Cass correram pela cidade, procurando por abrigo, mas para onde olhavam só viam o negrume da nuvem espessa. É claro que ela estava se sentindo uma mula teimosa, se tivesse dado ouvidos a Gael e deixado sua magia sossegada, agora não estaria correndo feito louca em busca de uma casa que não estivesse caindo aos pedaços em que pudesse se esconder, e também havia o outro problema, aquele que o senhor Myaga dourado havia lembrado. Afastando os pensamentos tortuosos, Cass tentou focalizar no movimento enlouquecido das pessoas a sua volta. Ninguém parecia ferido, mas todos gritavam aterrorizados buscando abrigo.
Arthur continuava a puxá-la pelas ruas, tentando se abrigar da nuvem sinistra que vinha na direção de ambos. Depois de dar algumas voltas pelas redondezas e não achar nada muito bom, os dois resignaram-se a enfiar-se num casebre de meia água sem portas, com as janelas arrebentadas e meio telhado faltando, além de não chegar a ter dois metros de altura. Cobriram as aberturas com o que encontraram pelo chão da casinha e se encolheram, abraçados num canto do que deveria ter sido um banheiro e que agora não passava de um buraco mal cheiroso e poeirento.
Mais de uma hora se passou e os dois se mantiveram a maior parte do tempo em silencio, Cass com a cabeça repousada no peito de Arthur e ele aspirando o cheiro adocicado de seu cabelo. Até que o negrume se desfez e todos puderam sair de seus abrigos improvisados. Mães com criancinhas choronas a tira colo corriam desesperadas em busca da entrada para o subterrâneo evocando aos maguinhos goldlins para abrir a passagem mágica. Alguns se espalhavam pelas ruas chamando por amigos, filhos, outros parentes ou membros da comunidade que ainda pudessem estar com medo de dar as caras. Não se podia imaginar o que viria a seguir, uma vez que ninguém havia morrido no misterioso ataque da nuvem. Entretanto, não se podia arriscar e voltar para o subterrâneo era de longe a melhor alternativa. Cass batia a poeira de suas calças quando viu a silhueta escurecida e imunda de Luke andando bem no meio da rua, direto para o portão da cidade. Ele não olhava para os lados, simplesmente ia.
A imortal chamou-o, mas não obteve resposta, então, num ímpeto, olhou na direção para onde ele estava indo e viu uma criança Goldlin chorando diante da entrada da cidade. Cass seguiu seu amigo americano, num misto de alivio e alegria por ver que ele não estava sofrendo de nenhuma possessão demoníaca ou nada do tipo, estava apenas sendo o Luke de sempre, salvador de criancinhas e vovós indefesas.
O americano alcançou a criança e a pegou no colo com doçura, envolveu seus braços no entorno começou a conversar baixo, fazendo-a sorrir. De súbito parou, os olhos congelados de pavor na direção oposta de Cass. Todos ficaram mudos quando viram as criaturas horrendas se aproximando de Luke e da criança dourada que berrava quase descontroladamente.
— Luke, corra! — Cass gritou, correndo em sua direção, seguida por Arthur que já ia desembainhando sua espada.
— ORCS! — Um homenzinho com roupa de lenhador gritou, puxando duas adagas das bainhas da cintura e indo para a luta.
Em seguida, uma orla de goldlins começou a correr, empunhado o que tivessem em seu poderio ou o que achassem pelo chão. As criaturas logo cercaram Luke com a criança. Ele ainda mantinha seus braços protetoramente sobre ela e cochichou algo que a silencio, e a fez afundar seu rostinho dourado no peito do forasteiro. Um grito da mãe da criança alarmou os orcs, ela vinha com uma foice pouco maior do que sua altura, chamando a criança de Lifain e inquirindo a todos sobre tê-la visto, até que esticou os olhos para a batalha que estava prestes a iniciar grunhiu de pavor e medo. Começou a chorar, chamando pela filha e empunhando sua foice no alto da cabeça. Ela ia lutar até o fim.
Os orcs eram criaturas medonhas, duas vezes o tamanho de Arthur, com a pele enegrecida e uma couraça cheia de rachaduras. Alguns tinham cabelos em tufos, que pareciam duros como uma carcaça de tartaruga, outros eram simplesmente carecas, seus olhos vermelhos eram tortos e suas bocas pareciam-se com a bocarra de um tubarão. Eram de provocar calafrios, mas ninguém pensou nisso, não havia lugar para o medo e todos se puseram a lutar.
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A maldição de Arthur - Livro 1 - Série Imortal
Fantasy"Cass fechou os olhos e cochilou, queria falar com Arthur, dizer o que sentia, despedir-se de Gael, desculpar-se com Toruk, elogiar Terian, agradecer ao senhor Myagui dos goldlins, Karhystrs e perdoar Lancelot. Eram muitas palavras a serem ditas e e...