Capítulo 15

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Toruk foi o primeiro a tombar. A estrada de terra batida parecia não ter mais fim e totalmente sem energias pela fome, exaustão dos últimos dias e traumas, o jovem rei simplesmente despencou diante de todos, sem forças para se reerguer. Apagou completamente, febril e tremendo. Cass mediu sua pulsação e afirmou que o garoto estava fraco e precisava de descanso e comida.

Dois soldados ágeis e silenciosos saíram para mata que ladeava a estradinha tortuosa. Retornaram minutos depois com galhos fortes atorados por eles mesmos e algumas folhas de bananeira e outra espécie que nenhum dos imortais reconheceu. Em instantes uma maca havia sido providenciada e os dois foram os primeiros na missão de carregar o rei desacordado.

De tempos em tempos o grupo se revezava trocando os carregadores. Mesmo Luke, Lancelot e Arthur participaram da função, poupando apenas Cass que discutira sobre ser capaz, mas que fora totalmente sobrepujada pela negativa dos outros e Gael, que ainda cambaleava cansado e fraco por causa das dores da queimadura.

Depois de reforçar o curativo nas costas do Merlim, Cass pôs-se a caminhar novamente, amparando-o sempre que cambaleava.

O grupo caminhou por toda a tarde escaldante.

Quando o frio finalmente começou a doer nos ossos, pararam, Cass embalou Toruk ainda febril e inconsciente em dois sacos de dormir e Arthur acendeu uma fogueira perto da estrada. Não havia muito o que pudessem fazer. Tinham que correr o risco e seguir viagem assim que o dia clareasse. No escuro poderiam facilmente se perder ainda mais do que já estavam e ir parar no meio da mata fechada, dando de cara com algo terrível e do qual talvez não conseguissem proteger o jovem e doente rei lagarto. Dormiram mal, amontoados uns aos outros para esquentar os corpos trêmulos e cansados. Logo cedo seguiram viagem, comendo as frutas que encontravam pelo caminho. Gael pouco a pouco ia sentindo-se melhor e mais decidido a não usar magia, mesmo que Toruk corresse risco de vida. A magia atraia o inimigo e o ajudava a encontrá-los, de forma que quanto menos a usassem, mais longe chegariam sem novos ataques. Como se fugissem do radar maligno da criatura.

Depois de horas seguindo pela mesma estrada, o céu azul claro foi rasgado por tons de laranja avermelhado. A fome e o cansaço ia desanimando cada vez mais o grupo e a sede começava a se tornar também um problema. Um pouco antes de um azul escuro tingir o vermelho e salpicar o céu com estrelas, chegaram na entrada do que parecia uma cidade fantasma. Luke lançou um olhar de esguelha para Lizard, que caminhava cansado, com as asas muito juntas ao corpo.

— E se você desse uma espiada lá de cima...

— Eu bem que gostaria... — Falou a voz de trovão do guerreiro. — Mas preciso reservar as energias que me restam para o caso de ser necessário salvar o rei.

Luke concordou. Sabia que não havia um único soldado que não estivesse esticando as últimas forças, depois de dias de viagem e tantas dificuldades no percurso. Haviam perdido a rota há cerca de uma semana e a sanidade ia há muito se desvanecendo.

Cass olhou carrancuda para Gael, não compreendia o porquê dele arriscar a vida do garoto lagarto. Por mais arriscado que fosse usar a magia, talvez fosse o único jeito de restituir a saúde do garoto. Sem ele, afinal, não havia necessidade de guerra e o povo podia se render ao tirano que vinha assombrando e escravizando Lemúria. E talvez a chance de Cass voltar para seu mundo maluco também se perdesse. Definitivamente ela queria votar para casa.

A maldição de Arthur - Livro 1 - Série ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora