Capítulo 20

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A lua estava no auge, a madrugada gelada soprava uma brisa de doer os ossos, mas ele não se intimidou. Caminhando com passos leves e com o corpo inteiramente camuflado, Theodor cruzou o acampamento, passou por Luke que dormia num saco de acampar em frente à entrada da barraca de Cass e entrou rastejando. O cheiro suave o arrebatou e ele se deixou aproveitar aquele momento. Era mesmo uma bela mulher. Dormindo com os cabelos sobre o rosto. Uma visão nada angelical. Depois deitou ao lado dela. Encolhendo-se para junto do corpo miúdo e quente, enfiou o nariz arrebitado nos cabelos e aspirou o aroma. Foi então que Cass acordou sobressaltada. A princípio Theodor assumiu a camuflagem. Mas a imortal era esperta e mágica o bastante para senti-lo ali.

— Apareça seu engraçadinho.

Ele permaneceu em silêncio, um sorriso ordinário estampado no rosto, achava difícil ser descoberto sob a camuflagem, mas foi surpreendido por um soco na boca do estômago. Arquejou e ficou visível, com as mãos sobre o ventre dolorido.

— Eu disse que sinto o seu cheiro! — Ela crispou, rangendo os dentes. — Mas o que diabos você estava pensando?

Aos empurrões, e ainda se contorcendo pelo baque nas entranhas Theodor foi enxotado para fora da barraca de Cass. Saiu aos tropeços, levando junto o corpo adormecido de Luke. O americano despertou alarmado, puxando sua adaga e partindo para o ataque com um urro. Então, deu-se conta de que era o aliado e se acalmou, respirando ofegante algumas vezes para se recompor. Enquanto Cass andava de um lado para o outro ruminando o que fazer com o engraçadinho, e xingando-o nos muitos idiomas que conhecia, uma multidão começou a se formar ao redor deles.

— Quem você pensa que é Dom Juan? — Ela berrava.

— Achei que pudéssemos ajudar um ao outro a afastar do frio. — Theodor respondeu, dando de ombros.

— E o que faz você pensar que eu preferiria ter um fantasma na minha cama aos homens do meu próprio mundo? — Ela despejou, furiosa.

Novamente ele deu de ombros.

— O que está acontecendo? — Toruk apareceu, o rosto achatado pelo sono.

— Esse... — Cass estava furiosa.

— Entrei na barraca dela e me deitei ao seu lado. — Theodor respondeu com sinceridade.

— Você o quê? — Luke voou na sua direção, feito um pavão prestes a mostrar sua plumagem.

O homem já ia repetir o que dissera, mas teve de desviar de Luke. Quando Arthur surgiu, o olhar tenso, as coisas pareceram pesar ainda mais. O homenzarrão era, sem sombra de dúvidas, uma visão forte e assustadora, com o peitoral nu e a espada na mão. Os cabelos negros bagunçados e os olhos azuis cintilando sob a luz da lua. Cass suspirou ao vê-lo tão sedutor e forte. Tão Bretão.

— Errei de julgamento e me desculpo. Imaginei que você fosse livre e que poderia querer minha companhia.

A maldição de Arthur - Livro 1 - Série ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora