Capítulo 19

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Um séquito a cavalo chegou pouco antes de o dia raiar. Campeavam a esmo até encontrar a trilha por onde os viajantes haviam passado. Embrenhava-se na mata fechada, era tortuosa e somente um olhar muito atento seria capaz de descobri-la. Seguiram a trote até deparar-se com o acampamento já sendo erguido. Homens e criaturas transitavam com agilidade, desmontando barracas, enrolando sacos de dormir, recolhendo pertences e preparando mantimentos. Toruk ergueu a espada quando viu o grupo de encapuzados. Lizard posicionou com as imensas asas negras abertas, pronto para cortar em pedaços quem se aproximasse do rei. Arthur e Cass juntaram-se a eles, mas antes que a imortal pensasse em usar sua magia prateada, os forasteiros simplesmente ficaram transparentes, deixando apenas seus cavalos numa posição de obediência, mansos e distraidos. Imediatamente a imortal recitou um encanto em latim e criou um escudo ao redor de Toruk. Todos ficaram em suspenso, aguardando um ataque que não viera.

— Pode baixar a guarda! — Uma voz murmurou no ouvido de Cass. Ela pulou sobressaltada, tentando acertar um soco num inimigo invisível.

— Só depois que você mostrar a sua cara. — Crispou irritada.

Imediatamente um homem se materializou.

— Mas que tipo de criatura é você?

O homem baixou o capuz e exibiu um rosto quadrado que facilmente poderia passar por humano. Luke fechou o cenho imediatamente ao perceber o olhar especulativo de Cass. Os estranhos olhos perolados provocaram um arrepio na imortal. Ela alteou as sobrancelhas quando percebeu a pele translucida e fina. Era um homem alto, pálido, cabelos arrepiados cujas pontas pareciam tingidas de verde. O queixo quadrado se ajustava perfeitamente sob uma boca carnuda, um nariz arrebitado e olhos atentos. O corpo ardiloso e magro chegou bem perto de Cass. Ela engoliu em seco, observando cada pequeno detalhe do que facilmente poderia chamar de Deus Lemuriano. Se estivesse de bom humor para brincadeiras. Ele era mesmo lindo. Mas não um lindo qualquer, não como seus gêmeos vikings ou seu americano bobo. Ele tinha uma feição angelical, suave e quase fantasmagórica. Não demorou para que todos os encapuzados tornassem a materializar-se e para espanto da maioria, estavam ao lado de seus cavalos, acariciando distraidamente suas crinas. Com um sorriso de dentes muito brancos e arcada perfeita, o sujeito admirou a reação ao redor.

— Desculpe o mal jeito, temos nosso próprio sistema de defesa.

Cass chegou ainda mais perto dele, aspirou o cheiro árido e com um olhar indignado, disse:

— O que você é?

— O que você acha? — Ele retrucou, chegando ainda mais perto a ponto de sentir o hálito fresco dela.

O estranho de feições perfeitas não era muito maior do que Cass, devendo ter não mais do que um metro e setenta. Com os olhos altivos e um semblante divertido ele ousou chegar ainda mais perto, curvando o rosto para a direção do ouvido da imortal. Ela manteve-se firme na posição, causando desconforto para os seus três acompanhantes que de longe observavam a tudo atônitos.

— Eu sou homem. — Ele falou baixando bem o tom de voz. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha, engoliu em seco e retrucou:

— Um homem metido a besta.

O estranho gargalhou. A imortal aguçou seus sentidos. O estranho exalava um aroma amadeirado, como se seu perfume fosse feito de árvores. O odor invadiu as narinas de Cass. Era com toda certeza um homem bastante confiante e que cheirava a mato, andando com passos suaves e dentes à mostra na direção do rei.

— Você é uma mulher intrigante. — Sorriu para ela anuindo. Depois virou-se para Toruk que ainda estava sob o escudo mágico de Cass e reverenciou-o. — Meu rei. O povo da floresta se une a sua causa.

A maldição de Arthur - Livro 1 - Série ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora