Capítulo 16.

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Emma 

     — Por que você está tão irritada? — Questionou-me enquanto entrávamos no elevador.

     — Ah, você jura que não sabe?

     — O babaca estava realmente dando em cima de você. O que queria que eu fizesse? Chamasse ele para um ménage? — Rosnou enquanto seus dedos trabalhavam incessantemente em alguma mensagem no celular. Provavelmente, estava pedindo pelo carro.

     — Argh! — Grunhi em nítida impaciência, fazendo-o erguer a cabeça para me encarar imediatamente — Você não consegue perceber, não é? Quantas vezes eu já disse que é desrespeitoso me tratar como uma propriedade privada? Eu sou um ser humano, Dawson, não um apartamento na 5ª avenida que precisa ser protegido.

     Ele limitou-se a balançar a cabeça em negativa como se, de fato, não fosse capaz de acompanhar a porcaria do meu simples raciocínio.

     — Além do mais, não somos um casal. Se já era um absurdo qualquer atitude desse tipo antes, agora é simplesmente ridículo! — Percebi que estava gesticulando animadamente com as mãos quando, no fim, soltei os braços com força na cintura.

     — Ridículo é o filho da puta achar que pode me afrontar daquele jeito e ficar por isso mesmo.

     — Se você fosse maduro e equilibrado o suficiente, teria deixado pra lá sim! — Engoli a quantidade absurda de sentimentos que ansiavam por transbordar em mim — Teria deixado que EU me posicionasse e o colocado em seu devido lugar. Mas, você não muda nunca, né, Benjamin? 

     Fiz a pergunta retórica bem na hora em que o elevador abriu. Segui até a calçada para aguardar o carro vir nos pegar. Passei as mãos pelos braços, tentando, ao mesmo tempo, me aquecer do vento impiedoso e me acalmar em um gesto de autocarinho desesperado. 

      Se o meu objetivo com aquele pequeno rompante foi fazê-lo cair em si mesmo de alguma forma, eu havia falhado miseravelmente mais uma vez. A postura dele mudou de irritada para a debochada, e não para uma arrependida como era de se esperar. Caminhou até mim com as duas mãos no bolso da calça, em passos preguiçosos, estampando no rosto uma fisionomia de zombaria, como se não estivesse também irritado há dois minutos. Detestei-me por tentar desenhar mais uma vez sobre algum de seus comportamentos inadequados. Ele simplesmente não se importava e ponto final.

     — Você fica muito linda quando está irritada... — Provocou-me com um sorrisinho petulante preso no canto direito dos lábios cheios.

      Bufei, balançando a cabeça sem um pingo de paciência para aquela mudança drástica de comportamento.

     — Ah, fico muito satisfeita por saber que a minha irritação te causa admiração.

     — Ah, você não tem ideia! — Riu como se fosse uma criança levada escondendo dos pais uma nota ruim. 

     — Olha, não tenho mais saco, nem estômago para lidar com essa variação bizarra de humor e... — Antes que eu pudesse concluir o meu ataque, ele deu um passo perigoso, aproximando-se de mim. — O que você está fazendo? — Perguntei com a voz um timbre acima do normal, recuando um pouco em puro instinto. 

     Ele não me respondeu de imediato. Tirou o paletó e deu mais um passo, aproximando-se realmente de mim enquanto encarava-me incisivamente. Algumas coisas precisam ser admitidas: eu nunca tinha sido olhada da maneira como ele me olhava, e provavelmente, nunca seria. Era como se fosse capaz de olhar a minha alma em sua forma bruta e verdadeira; e a achasse tão impressionante que a desejava só para si em desespero. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora