Capítulo 09.

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Emma

      — Seja bem-vinda, Emma. — Sua voz grave soou firme e amarga.

      Aquele retorno era tudo, exceto bem-vindo.

      Eu esperei. Esperei alguns segundos para que o som da sua voz rouca fizesse o estrago habitual. E logo o fez. Meu peito contraiu e meus olhos encheram de lágrimas. Mas eu não permiti que nenhuma delas caíssem e também não permiti que ele notasse. Desviei o meu olhar para a imensidão que era Manhattan através daqueles vidros. Além de não ser capaz de encará-lo, eu também não era capaz de respondê-lo. Minha voz havia desaparecido.

      — Quem trouxe você? — Questionou, embora não parecesse verdadeiramente curioso. 

      Eu duvidava de que ele não soubesse! Era um maníaco por controle e sem dúvidas sabia, de alguma forma, que Nate me trouxera, era uma pergunta estúpida e retórica. E ainda assim, eu quis responder. Eu quis gritar na cara dele: "Não é da sua conta, seu idiota." Mas, eu não consegui. Era como se pedras bloqueassem a minha garganta e não permitiam que nenhuma palavra saísse.

      Respirei fundo, exausta que ele fosse capaz de me arrancar a voz direta ou indiretamente. Limpei a minha garganta, engoli cada pedra que impedia minhas cordas vocais de funcionarem e implorei para que a minha voz não saísse muito fraca e denunciasse o quanto eu estava devastada e insegura.

      — Eu estou aqui exclusivamente pelos meus pais — Falei baixo, mas utilizando um tom equilibrado que em nada condizia com a forma como eu me sentia — Eles não podem descobrir nada!

      Ignorei a sua pergunta e a sua provocação, como se nada daquilo me importasse diante da minha única condição.

      — Eles não irão. — Prometeu categoricamente, mas eu continuei impassível, sem encará-lo, porque ele não era digno de confiança.

      — Bem, não sei ao certo o porquê, mas eu não confio em você. — Falei irônica, e um riso trêmulo de escárnio escapou pelo meu nariz.

      Ele se levantou, colocou uma das mãos no bolso da calça e caminhou com aquele gingado que exalava prepotência e segurança. Instintivamente, eu recuei.

      — Olhe para mim, Emma — Pediu, embora utilizando aquele tom autoritário que eu detestava. — Olhe.

      Eu não queria obedecer mais nenhum de seus pedidos, nunca mais. Contudo, ele deu um passo à frente e eu fui obrigada a encará-lo para lançar um olhar mortal, indicando que ele não deveria se aproximar nem mais um milímetro. 

      Sua movimentação foi suficiente para espalhar a essência do seu perfume pelo ar. Antes que eu pudesse cessar a minha respiração, aquele cheiro amadeirado e terrivelmente masculino me invadiu, rasgando-me por dentro. 

      — Se eles descobrem, não teria porque você continuar aqui. — Explicou pausadamente como se o seu raciocínio fosse claro como água. — Eu perderia. E, bem... Eu não perco nunca. Eles não descobrirão, portanto. 

      Eu quis rir. Embora ele tivesse um ponto, era possível que ele fosse mais prepotente do que isso?

      — Sim, eu precisava te trazer de volta para casa. — Continuou a falar, molhando os lábios com a ponta da língua — Com você aqui, nós teremos a chance de conversar e resolver as coisas.

      Por que raios eles estavam dando uma justificativa que não fora solicitada só Deus sabe. Ele não havia piscado nenhuma vez ao dizer aquilo e o tom dos seus olhos era límpido. Antes eu teria afirmado que ele não estava mentindo, que ele realmente acreditava naquilo que estava dizendo, embora fosse uma loucura. Mas agora era diferente, eu nunca mais colocaria minha mão no fogo por ele. Eu achava que o conhecia, ingenuamente, eu achava que era a única que conseguia entrar, ao menos um pouco, pelo seu olhar e espiar o que se passava dentro daquela alma perturbada. Mas, obviamente, eu estava enganada. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora