Capítulo 20.

577 27 33
                                    

Benjamin 

     No geral, não sou o tipo de pessoa que possui muitas qualidades, e qualquer pessoa que esteja próxima pode perceber isso com bastante facilidade. No entanto, se há algo pelo qual posso me orgulhar, é por possuir essa capacidade em esconder e dissimular todas as minhas merdas internas. Isso havia me protegido e me salvado centenas de vezes. 

     Eu estava de pé, próximo as enormes janelas da sala de estar, olhando para a cidade, enquanto esperava Emma em uma ansiedade excruciante. Por dentro? Eu era uma enorme bagunça submersa em ansiedade, confusão, angústia e incertezas. Mas, por fora, ela encontraria uma estátua fria e indiferente. 

     Quando ela chegou, embora eu estivesse de costas, pude ouvir e sentir a sua presença. Eu sempre podia. Era impressionante. Podíamos estar em um lugar rodeado de dezenas de pessoas, mas se ela estivesse ali, eu saberia, porque podia senti-la. 

     Fechei as mãos com força dentro do bolso da calça jeans, morrendo de vontade de olhá-la, morrendo de saudades... Mas não me virei de imediato, porque precisava que ela jogasse primeiro. 

     Vamos lá, baby.

     Pelo barulho, julguei que ela havia jogado a bolsa com força no sofá. E logo sua voz explodiu com potência pelo cômodo calmo: 

     — Ao menos, você deveria ter a decência de me avisar qual será a próxima surpresa! — Ironizou em um tom realmente alto e alterado.

     Optou pelo confronto, afinal. 

     Fechei os olhos por um instante antes de encará-la. Virei, fingindo uma tranquilidade que, definitivamente, não existia. 

     Porra.

     Era colocar meus olhos sobre ela e ser atingido instantaneamente por uma porrada de sentimentos, como se ela fosse um trem descarrilhado que vinha sempre em minha direção. A falta que me fazia era infernal. Engoli uma quantidade absurda de saliva e de palavras, digerindo o que era vê-la depois de uma semana. 

    Ela, por óbvio, não parecia nada feliz em me ver. Estava completamente transtornada, fora de si. Sua respiração estava descompassada e ofegante, seus lábios inferiores tremiam de raiva e os cabelos, embora presos em um rabo baixo, estavam um pouco bagunçados.

     Estou cuidando de você.

    Estou cuidando de você.

     Estou cuidando de você. 

     Tentando manter-me em uma posição segura, vesti minha melhor fantasia de filho da puta, e respondi: 

     — Não sei do que você está falando. — Levantei os ombros, dissimulando pateticamente um desentendimento. — Sou uma pessoa surpreendente no geral, seja mais específica, Emma.

    — Ah, não? Hospital, horas extras? — Apoiou as mãos na cintura em posição de ataque — É específico o suficiente ou você precisa que eu desenhe?

    — Ah... isso. — Balancei a cabeça em um reconhecimento exagerado. — Finalmente aquele lugar adotou uma política adequada aos funcionários, você não acha? De nada, baby.

     Suas narinas inflaram de raiva, e um som animalesco rugiu do fundo de sua garganta:

    — QUAL É O SEU PROBLEMA? COMO VOCÊ PÔDE? 

     Ela havia transbordado completamente.

     Eu havia adicionado a última gota em um copo que já estava suportando demais. Ali, bem na minha frente, não tinha mais nada daquela Emma que estava se comportando como um passarinho ferido escondido no ninho. Pelo contrário, ela estava pegando fogo. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora