Capítulo 18.

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Emma  

     Dormi mal mais aquela noite.

     Pela lógica, não encontrar com Benjamin deveria trazer algum tipo de tranquilidade e paz para a minha cabeça, certo? Não foi o que aconteceu, no entanto... Viver dentro daquela constante ansiedade e expectativa de poder vê-lo a qualquer momento não era exatamente o tipo de paz pela qual eu ansiava.

     No dia seguinte, meu plantão começava um pouco mais tarde. Charlotte chamou-me gentilmente para comer alguma coisa antes de ir trabalhar, e eu já desci preparada para encontrar inevitavelmente com ele. 

     Respirei fundo, enxuguei a palma das mãos mais de duas vezes na calça jeans e ergui a cabeça fingindo ser bastante corajosa. Entretanto, fui surpreendida com a notícia que ele não estava em casa, que havia saído já há algum tempo. 

     Peguei-me paralisada, por alguns instantes, estranhando verdadeiramente aquela situação. Havia algo insólito acontecendo, eu podia sentir. Benjamin não havia forjado nenhum encontro a semana inteira, não havia me encaminhado nenhuma mensagem no hospital e havia saído de casa, sabendo que eu ainda estava ali. Subiu-me um arrepio ruim, como se o universo estivesse sussurrando-me um aviso. 

     Um pouco mais tarde, ao chegar no hospital, todas aquelas sensações se concretizaram. O clima por lá também estava nitidamente diferente. Os funcionários cochichavam entre si como se a fofoca do ano estivesse correndo à solta pelas paredes daquele lugar. Foi o tempo de guardar as minhas coisas no vestiário e trocar de roupa que uma enfermeira me avisou que eu precisava ir à sala da coordenação. 

     Segui até a sala com o corpo inteiro gelado, tentando pensar em possíveis cenários catastróficos.

     Eu seria expulsa do programa?

     Eu teria que ser transferida?

     Eu tinha feito algo errado?

     Benjamin havia se envolvido mais uma vez com o hospital? 

     Aquela sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer se multiplicou rapidamente no meu peito. A coordenadora me recebeu educadamente, mas com nítida consternação e pressa. Começou a falar sobre uma nova política do hospital em relação às horas extras. Segunda ela, o departamento pessoal do hospital não estava nada satisfeito com o excesso de horas que os residentes vinham acumulando nos últimos tempos e que deveríamos ficar afastados até normalizar as horas exigidas pelo currículo.  

     Entendi claramente o conteúdo de sua fala, visto que compartilhávamos a mesma língua, mas demorei um pouco para conseguir processar o que exatamente ela queria dizer com aquilo tudo.

     Como assim ficar afastada? Parecia uma piada de mau gosto que de uma hora para outra o hospital começasse a se importar com as condições trabalhistas de meros residentes!

     A minha quantidade absurda de horas trabalhadas faria com que eu ficasse afastada por muito tempo...

     Ficasse em casa por muito tempo.

     Ficasse em casa com Benjamin por muito tempo.

     Aquela sensação horrorosa de estar sendo engolida por um redemoinho gélido voltou com força. 

     Ela ainda justificou a posição do hospital, alegando que tal procedimento deveria ser adotado por todos os residentes para evitar um eventual processo trabalhista. Francamente, naquele momento, ela poderia falar que era por ordem do presidente da república que pouco me importava. O ponto é que eu estava perdendo o único colete salva-vidas que impedia de me afogar no meio de todo o caos. Ela finalizou, dizendo que mandaria todas as informações em relação ao meu afastamento por e-mail. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora