Capítulo 33.

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Emma


Entrei na suíte principal, sendo recebida pelo silêncio e pelo perfume de Benjamin. Sozinha, pude soltar os ombros, liberando toda a tensão que parecia ter feito acampamento bem ali em cima. Alonguei o pescoço, fazendo com que cada bendito osso estralasse em agradecimento.

As cortinas ainda estavam abertas, escancarando a visão impressionante da cidade brilhando sobre a noite escura. O vidro antirruído não permitia que som algum invadisse o quarto, mas eu sabia que o barulho do outro lado era frenético. Do lado de cá, o único timbre que parecia ressoar pelo aposento era o compasso acelerado do meu coração.

Se eu achava que a parte mais difícil era simular na frente dos meus pais, eu estava enganada. Ali, embora difícil, mostrou-se viável. Mesmo que Benjamin estivesse disposto a se aproveitar do fato de que poderia me tocar como e quando bem entendesse, parecia existir uma barreira de vidro invisível que continha todos os sentimentos inflamáveis de alguma forma. Além disso, eu tinha a desculpa perfeita para todas as respostas inadequadas que meu corpo por ventura pudesse dar: era tudo parte de uma grande mentira, de uma grande encenação. Agora, no privado? Tudo parecia ser imprevisível e inseguro.

Ter que conviver com seu cheiro, com seus olhos, com tudo o que havia me feito pairando sobre as nossas cabeças como uma tempestade prestes a desabar; com a tensão sexual insuportável que parecia querer nublar toda a minha visão entre quatro paredes parecia muito ruim. Fazia uma expectativa excruciante crescer no meu peito desproporcionalmente a cada segundo como se fosse uma espécie de balão de festa prestes a estourar.

Abanei a cabeça, obstinada a enfrentar mais aquela. Deixei meu celular em cima da mesa de cabeceira e segui direto ao closet para trocar de roupa, desesperada para me enfiar naquela cama e terminar de uma vez com aquela noite. O plano era bem simples: dormir rapidamente, de preferência antes mesmo que ele viesse para o quarto, para que aquela situação bizarra não se prolongasse mais do que deveria.

Peguei um conjunto de moletom habitual, mas antes que pudesse começar a vesti-lo, fui seduzida e atraída por uma das gavetas do armário dele ligeiramente entreaberta. Enganchei minha roupa embaixo do braço esquerdo e, com a mão livre, segui para fechá-la.

Eu sabia o que tinha naquela segunda gaveta, mas a curiosidade por abri-la me atingiu como se fosse uma coceira inconveniente, daquelas que precisam ser saciadas a qualquer custo. Talvez, no fundo, eu só precisasse constatar que, apesar de tudo ter mudado tão drasticamente, havia ali ainda algo de imutável.

Eu deveria simplesmente empurrar o repartimento e seguir em frente, mas o abri, encontrando uma porção de camisetas pretas organizadas impecavelmente em um sistema de quem tinha à disposição quem sempre o arrumasse. As dezenas de camisetas estavam ali como sempre junto com a minha vontade insana de pegar qualquer uma delas para vestir como eu já havia feito tantas outras vezes.

Que loucura.

Fechei o repartimento, tentando engavetar as camisetas e aquele desejo descabido. Troquei-me rapidamente e voltei para o quarto.

Olhei para a enorme cama, e só então a pergunta estourou como uma bomba: onde o infeliz iria dormir?

Se não estivesse tão ansiosa, teria rido daquele clichê ridículo.

Compartilhá-la estava fora de cogitação. Ele não era confiável. Meu corpo estúpido parecia também não ser. E, por alguma questão cósmica, eu merecia dormir nela e ele não.

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora