Capítulo 34.

428 22 21
                                    


Emma

- Saímos em cinco mi... - A voz rouca e autoritária de Benjamin invadiu o quarto, iniciando um comando que nunca chegou a ser concluído.
Eu estava de costas para a porta, brigando com fecho da delicada gargantilha que já deveria estar no meu pescoço há uns bons minutos, mas podia sentir sua energia me envolver completamente.
Respirei fundo, tentando acalmar aquele frenesi descabido de estar sozinha com ele pela primeira vez no dia.
Ao menos ele estaria vestido, sussurrou minha consciência, tentando - sem sucesso - oferecer algum tipo de acalento, mas me arrastando para aquele buraco de autoflagelação no qual eu havia me enfiado o dia inteiro.
O reconhecimento absoluto de que aquela atração era recíproca, crescente é inevitável amanheceu em mim de um jeito ruim, envolto a uma poça suja de culpa e vergonha. Eu estava olhando nos olhos dos meus pais e sustentando uma mentira, eu estava omitindo uma traição e uma coerção. E ainda assim, a primeira coisa que chegou a minha mente quando acordei naquela manhã foi a imagem do infeliz usando apenas aquela toalha branca.
Limpei a garganta, tentando manter minimamente o controle e lhe perguntei:
- Papai e mamãe?
- Saíram há uns vinte minutos, com sua mãe dizendo que precisava ser a primeira a atestar a qualidade do buffet.
Sorri, conseguindo imaginar aquilo com propriedade. Se, porventura, a comida fosse ruim, Nathaniel ouviria sobre aquilo até o natal do ano que vem.
Benjamin havia arranjado um carro e um motorista exclusivamente para eles, a fim de deixá-los à vontade para irem e virem quando e bem entendessem, não apenas para a festa, mas enquanto estivessem na cidade. Mamãe havia apreciado imensamente a atitude do genro do ano.
- Espero que Nate tenha escolhido bem o cardápio então. - Murmurei o pensamento em voz alta.
Ele soltou uma risadinha leve de concordância, fazendo meu coração pular de alegria.
Pare. Pare de rir. Pare de fazer com que eu me sinta estranhamente viva só de ouvir esse som!
Como em uma espécie de encantamento, subiu pela minha espinha a vontade incontrolável de me virar para poder olhá-lo, porque melhor do que ouvir aquilo era poder vivenciar a experiência completa.
Virei-me. E não sei quem pareceu sugar a alma do outro primeiro. Não nego a possibilidade de ter sido eu. Ele estava... impressionante em um conjunto de gala todo preto. Encarei com atenção cada mísero detalhe: a calça preta social, sob medida, modelando cada uma das melhores partes da suas coxas; a camisa branca perfeita agarrando seus braços com uma perfeição quase injusta; a gravata preta sofisticada; a porcaria do colete que ia por cima e parecia dar o toque final para que aquela roupa ganhasse como a mais sexy do mundo, caso estivesse concorrendo em alguma categoria.
Estava segurando o paletó na mão direita, e eu podia apostar que, no final da noite, estaria com apenas a camisa branca meio aberta, meio amarrotada, com as mangas levantadas como uma presságio de que aquela imagem poderia ficar ainda melhor.
Deus do céu, por que tão bonito se tão cafajeste?
Ele sequer pareceu perceber a minha averiguação descarada, porque estava muito ocupado em sua própria inspeção. Seu olhar faminto pareceu aprovar totalmente o vestido preto que Jessyca havia me arrumado com aquela estilista. Era longo, preto, com apenas uma manga comprida no braço esquerdo e com uma fenda enorme na perna oposta. Dependendo do movimento, expunha a minha coxa de uma maneira sensual e ao mesmo tempo elegante.
- Oh, minha nossa, baby... - Gemeu em um sussurro rouco, molhando o lábio inferior, enquanto subia e descia um olhar de pura adoração por toda a minha extensão - Você parece a porra de um sonho. Tão maravilhosa.
Deus.
Troquei o peso do pé esquerdo para o direito, um tanto desconfortável com a intensidade que aquela interação pífia parecia causar dentro da minha barriga.
- Pode me ajudar com isso? - Pedi com a voz visivelmente instável, levantando o colar teimoso e delicado que estava sobre minha mão direita.
Provavelmente, eu nem deveria estar pedindo o que quer que fosse para ele, mas pareceu vital tomar qualquer atitude antes que ele falasse qualquer outra coisa intensa demais que fizesse os meus órgãos se dissolverem completamente.
Deixou o paletó em cima da cama e se aproximou bem devagar, caminhando em uma firmeza absoluta enquanto me olhava com veemência, como se pudesse me olhar por dentro e ter acesso a todos os medos que pulsavam no meu peito naquele instante.
Estendeu a mão, pedindo silenciosamente pela gargantilha. Estava tão próximo, encarando-me do alto de toda aquela magnificência, roubando totalmente meu ar. Entreguei-lhe, engolindo seco e virei-me, dando acesso completo às minhas costas.
A sua presença parecia ferver atrás de mim. Nem sequer estava encostando em mim, mas parecia emanar uma energia ardente que atravessava os meus ossos. Afastou com delicadeza os meus cabelos para o lado, fazendo com que uma corrente de arrepio percorresse de ponta a ponta pelos meus ombros.
Estendeu o colar gelado pelo meu pescoço, fazendo-me soltar o ar em meio a um barulho agudo e deplorável de surpresa e satisfação. Embora não estivesse vendo, eu tinha certeza de que ele estava sorrindo.
Enquanto trabalhava no fecho, as costas de seus dedos roçavam pela minha nuca, fazendo explodir uma porção de arrepios potentes. Ele iria me matar, eventualmente. Fechei os olhos com força, implorando para que aquilo acabasse de uma vez, antes que saísse qualquer outro som inapropriado da minha boca.
Quando concluiu, aproximou-se da minha orelha e suspirou:
- Nunca vi casal mais bonito. Gosto quando estamos combinando.
Ah, eu também gostava. Gostava muito, no pretérito imperfeito.
- Você só está esquecendo que não somos um casal de verdade. - Retruquei com a voz ridiculamente fraca.
Eu deveria ter me afastado, é claro. Se as minhas funções cerebrais estivessem em seu perfeito funcionamento, eu teria me afastado com urgência; mas havia uma espécie de magia que parecia ter pregado os meus pés no chão.
- Detalhes, baby. - Falou baixinho. - Mas quer saber o que é mesmo de verdade?
Não respondi, muito ocupada, preocupando-me com a porcaria da minha frequência cardíaca.
- O jeito que a sua pele reage ao meu toque? - Continuou sussurrando com aquele timbre único e arrasador. - Isso é de verdade. O jeito que você amolece com a minha voz? Também é de verdade.
Um ultraje pareceu brotar no meu peito e graças a ele consegui sair daquela espécie de transe quente e infernal.
- Ah, claro, senhor presunçoso. - Afastei-me, balançando os braços em uma ansiedade que revelavam mais do que eu queria que revelasse. - É impossível não ser afetada por toda a sua perfeição.
Riu levemente, não sei se da minha ironia ou do meu nervosismo latente.
- E, por acaso, eu menti? - Perguntou divertido, fazendo com que eu me sentisse mortificada.
Já não era ruim o suficiente ter que lidar internamente com o fato de que sim o meu corpo reagia vergonhosamente a ele? O infeliz ainda precisava ter consciência disso e esfregar na minha cara?
- Sim! - Respondi um tanto desesperada, com a voz saindo ligeiramente mais alta do que deveria. - Não estou e não estarei afetada pela porcaria do seu toque ou da sua voz.
Quanta mentira. Eu, provavelmente, estaria muito afetada para o resto da vida. Completa e redondamente afetada.
- Ah, não? - Cruzou os braços no peito e arqueou a sobrancelha, mostrando-se bastante relaxado e bem-humorado com aquela conversa ridícula. - Esse me parece um bom desafio, Emma.
Não, não, não.
Aquela não era uma briga que eu queria comprar, eu já havia aprendido a escolher as minhas batalhas nessa vida.
- Nem perde o seu tempo. - Tentei desestimulá-lo, simulando tédio e indiferença por fora enquanto por dentro meu coração parecia gritar por socorro.
Pelo brilho deleitoso de seus olhos azuis, eu não havia conseguido.
- E vamos embora de uma vez, - Emendei impaciente, pegando a minha bolsa ansiosa para encerrar aquela interação - porque, ao invés de ficar aqui debatendo qualquer besteira com o seu ego, eu preciso ir para essa festa fingir que tenho um casamento normal.
Aquele era o foco, certo?
Eu deveria estar é me preocupando com o fato de ser uma filha mentirosa e não com a maneira como eu respondia a Benjamin ou não.
E então saímos. Se não fosse pelo trânsito caótico, teríamos chegado bem rápido. A festa aconteceria em um hotel relativamente novo no sul da ilha que mantinha um toque preciso de elegância e opulência.
Nathaniel queria uma festa mais intimista, mais simples; já Danny, que havia sido moldado durante uma vida inteira para o jogo das aparências, insistiu em uma festa mais requintada. "O que importa é a mensagem que se passa, Nathaniel. E nós vamos inaugurar como se fôssemos grandes, mesmo que só tenhamos a porra de três contas pra cuidar." E assim foi feito.
O motorista seguiu com o carro para uma fila de veículos abaixo de um pórtico lindíssimo, enfeitado por colunas gregas. Ao estacionar, Benjamin estendeu a mão esquerda em minha direção, oferecendo ajuda para sair do carro.
- Seja razoável, por favor. - Pedi, sabendo que ele não costumava se portar bem diante daquela circunstância em específico.
Haveria imprensa especializada, e ele sempre se comportava de forma detestável com os fotógrafos e jornalistas, porque sabia que eu não era grande fã de toda aquela atenção.
- Eu posso tentar. - Prometeu com um sorrisinho discreto e charmoso que não passava um pingo de credibilidade.
Eu aceitei sua mão, admitindo, sem melindre algum, a minha falta de habilidade em me sustentar em cima de salto alto e lidar com aquela avalanche de luz e confusão ao mesmo tempo.
Descemos, e o esperado aconteceu. As luzes vieram. O barulho das pessoas falando ao mesmo tempo, pedindo por qualquer tipo de declaração que ele pudesse ter sobre a agência. Benjamin não lhes deu nem uma migalha. Nada. Não olhou para ninguém, não respondeu a ninguém. Não parou para tirar qualquer foto que fosse. Enganchou perfeitamente sua mão na minha cintura, e me guiou com uma maestria de quem tinha anos de prática para dentro do ambiente.
Aquele era ele tentando ser razoável. E tendo em vista o que já vi acontecendo? Quase havia sido bem sucedido.
- Uma foto não iria nos matar, sabe? - Resmunguei com discrição, detestando a sensação de ser mal-educada com alguém.
Ele tombou a cabeça em minha direção e respondeu:
- Sério? Achei que fui bastante razoável. - Caçoou fazendo cada pelinho do meu corpo se eriçar em resposta. - Eu queria mesmo era mandar todos eles se foderem. Essa noite é sobre seu irmão e Danny. Não tenho o porquê ficar posando para foto na frente do evento dos outros.
Olhei-o com atenção, especialmente tentada a analisar aquela resposta. Não cheguei a fazê-lo porque o formigamento que nos atinge quando estamos sendo observados por um número considerável de pessoas me desconcentrou.
A grande maioria dos presentes próximos à entrada estava nos encarando. E então, entendi que, ao menos naquele momento, a relevância de sua presença não tinha nada a ver com o fato de ter um sobrenome importante. Embora parecesse não querer o crédito para si, todos pareciam ter ciência de que tudo aquilo só estava acontecendo por causa dele.
E aquela constatação me atingiu como uma marola quente e intensa mais do que nunca. Benjamin havia proporcionado aquilo aos meninos. E não estou falando apenas de dinheiro. Ele era o grande responsável pela maior realização profissional de Nate; ele era o grande responsável pela liberdade de Danny. E, caramba... entender aquilo fez um nó instantâneo se formar no meio da minha garganta.
Abri a boca para balbuciar qualquer coisa nesse sentido, experimentando uma enorme necessidade de lhe mostrar que eu entendia a proporção gigantesca do que ele havia feito, mas fui saudada por cabelos ondulados, braços abertos e pelo sorriso único e escancarado de Danny.
Tão bonito e tão adulto. Senti meu peito se encher de um orgulho doce e morno.
- Você é a mulher mais bonita da minha vida, eu já te disse isso hoje? - Tombou a cabeça graciosamente, cumprimentando-me com aquele sorriso bonachão capaz de fazer qualquer ser humano retribuir a gentileza só para deixá-lo feliz.
Benjamin bufou ruidosamente antes de resmungar:
- Quero ver continuar falando isso quando perder todos os dentes da boca.
Revirei os olhos e Danny soltou uma risadinha.
- Uh, veja quem quem está de mau-humor hoje.
- Hoje? - Questionei sarcástica - Benjamin deve ter nascido de mau-humor.
- Provavelmente. - Arregalou os olhos em uma concordância divertida.
- Eu estou muito feliz por você, Danny. - Puxei-o para um abraço - E tão tão tão orgulhosa.
- Obrigado, Emma banana. - Apertou minha cintura com força. - Obrigado por estar aqui hoje. Sei o quanto está te custando, e significa muito pra mim e tenho certeza de que pro Nate também. Você é parte de tudo isso.
Soltei-o com aquela satisfação adocicada de ver um amigo feliz ainda pulsando no meu peito. Ele voltou-se para Benjamin, e eles ficaram se encarando por alguns segundos, dando-me a impressão de que estavam tendo uma conversa significativa e silenciosa. Então Danny deu um passo à frente e o puxou para um abraço muito bonito carregado de gratidão. Dawson retribuiu prontamente. Compartilharam algumas batidinhas nas costas e algumas palavras que não pude ouvir.
Ali, nada do que Benjamin havia me feito parecia importar. Aquilo era sobre eles, e fiquei contente em saber que haveria um caminho para que retomassem aquela relação eventualmente.
Quando se afastaram, a atenção de Danny pareceu ter sido absorvida por uma linda moça que entrava no ambiente parecendo um pouco perdida.
- Aproveitem a noite. - Desejou como um bom anfitrião, já se retirando para ir recebê-la. - E, ah, Emma! Se você pudesse checar Jessa seria bom, ela está um pouco... afiada.
Ele retorceu a boca em uma careta divertida, e tive certeza de que era um eufemismo.
Jessyca deveria estar indomável.
Acenei positivamente, lançando-lhe um olhar tranquilizador. Eu não queria que ele se preocupasse com o que quer que fosse naquela noite, e, bem, checar Jessyca era uma das especialidades da minha vida.
Ele se afastou e finalmente pude observar o ambiente com um pouco mais de atenção. Era um salão relativamente grande, iluminado por dezenas de lustres elegantes e tomado por mesas redondas. Na extremidade esquerda havia um palco e na extremidade oposta havia um enorme bar. Passei os olhos por cada um daqueles grupos de pessoas elegantes em busca dos cabelos loiros de Jessyca, mas não a encontrei.
Benjamin apoiou a mão na base da minha coluna com aquela delicadeza que fazia a pele formigar e quase implorar por um toque mais vigoroso. Fingi uma serenidade impecável, como se nem tivesse me dado conta de que ele estava com suas mãos em mim. Olhava-me com atenção, como se estivesse analisando, bem de perto, cada uma das minhas reações e estivesse pronto para apontar qualquer deslize.
A pele de quem está reagindo explicitamente agora, querido?
Antes que ele cogitasse levar aquele jogo para uma nova fase, um homem baixinho, careca, de meia idade nos interceptou.
- Ah, se não é o nosso investidor mais ousado de Manhattan. - Soltou uma risada estranhamente escandalosa.
Havia uma pitada de complacência na maneira como havia falado o adjetivo "ousado" que não me agradara.
- Peterson. - Cumprimentou o homem com apenas um aceno de cabeça e um timbre tedioso que faria qualquer um se sentir imediatamente desconfortável.
- Ah, garoto... - Continuou, ignorando bem os sinais negativos que, obviamente, estava recebendo de seu interlocutor mal-humorado. - Você deixou seu pai de cabelos em pé com esse investimento, hein?
Ai. Não consegui esconder a careta que se formou no meu rosto. Fiquei à espera da resposta extremamente grosseira que viria, envolvendo verbos de descaso e palavrões.
Benjamin até soltou um barulho de desdém com a boca , mas apenas respondeu:
- E essa não é a principal função dos filhos? - Embora parecesse uma resposta divertida na superfície, veio atrelada a uma frieza desconcertante.
- Vá procurar Jessyca. - Virou o rosto em minha direção, ignorando placidamente o homenzinho impertinente.
- Tudo bem. - Concordei aliviada por poder escapar daquele diálogo tão desagradável.
Tombou em minha direção, assoprando perto do meu ouvido:
- Eu te alcanço em poucos minutos. Vou ficar daqui olhando o quanto sua bunda está espetacular nesse vestido no tempo que escuto esse idiota falar qualquer outra merda que ele tenha pra falar.
Estremeci visivelmente. Nem se eu quisesse disfarçar, teria conseguido. Ele tinha razão, afinal: aquela voz falando qualquer absurdo era mesmo o meu fim. Meu rosto deve ter ganhado uma coloração avermelhada de imediato, porque senti meu pescoço e as minhas bochechas arderem.
Essa era eu não sendo afetada por ele. Patética.
Retirei-me, balançando a cabeça em uma negativa resignada. Misturei-me por entre as pessoas, não voltando o olhar nem uma única vez para conferir se realmente estava encarando a minha bunda. Mas se eu precisasse apostar? Diria que sim, porque eu reconhecia aquela sensação de ser devorada por ele a distância.
Segui em direção ao bar, porque minha intuição dizia que Jessa estaria por lá e porque eu precisava de uma taça de qualquer coisa que pudesse esfriar aquela sensação abrasadora que ele plantara na minha barriga.
Bingo. Lá estava ela, inclinando todo o seu decote no balcão, com os cotovelos apoiados no mármore, flertando descaradamente com o atendente. Pobre rapaz... parecia extremamente afetado pelo feitiço dela.
- Jessyca! - Repreendi-a como se fosse uma garotinha travessa.
Ela tinha me escutado, mas não virou para me encarar logo de cara. Passou as mãos pelo cabelo impecável, trocando-o de lado, ainda encenando aquele show de sedução. Chamou o homem com o indicador e sussurrou qualquer safadeza que o deixasse instantaneamente desconcertado.
Só quando terminou, sem pressa, arrumou a postura e virou para me encarar com a cara de pau mais linda desse mundo.
- Acho que eu já transei com esse cara em algum outro momento. - Sussurrou como se estivesse compartilhando um segredo muito interessante, apontando discretamente com a cabeça para o rapaz.
- Ah, jura? Não seria muito inesperado, não é mesmo?
- Não mesmo. - Divertiu-se.
- Por que não apareceu lá em casa hoje? - Perguntei sem rodeios, vendo nitidamente qualquer resquício de divertimento escorrer da sua postura como água.
- Não tive coragem. - Admitiu, mas com aquela jogadinha de ombro que, para quem não a conhecia, soaria apenas como um gesto irritante de soberba.
Ela havia organizado e mandado lá para casa uma verdadeira tropa para nos arrumar para a festa. Durante a tarde, a sala de estar havia se tornado um verdadeiro salão de beleza. O combinado era que ela viria para se arrumar comigo e com mamãe, mas não foi o que aconteceu, porque ela simplesmente não havia aparecido.
Não precisava completar a sentença para que eu entendesse que não teve coragem de encarar a minha mãe depois que ela havia conhecido Cloe oficialmente. É claro que Dona Lilian não faria qualquer tipo de comportamento ou julgamento nesse sentido, continuaria tratando Jessyca exatamente como uma filha do coração como sempre havia feito, mas - infelizmente - Jessa ainda não aprendeu a confiar no apreço que as pessoas podem ter por ela gratuitamente.
- Não estou nos meus melhores dias, amiga. - Os seus lábios bem delineados curvaram-se em um bico insatisfeito - Eu deveria ter ao menos avisado que não iria.
Caraca. Se aquela era ela em uma versão ruim, imagine você como ela ficava nos seus melhores dias. Estava completamente deslumbrante em um vestido tomara que caia vermelho. O corpete modulava com uma perfeição injusta seu busto e a sua cintura, e a saia de tule caía em camadas discretas até o chão de um jeito tão estiloso que a deixava parecendo a porcaria de uma modelo. Não vou nem comentar sobre a fenda ousada e maravilhosa que abria na sua perna direita ou do scarpin altíssimo de cetim combinando com a cor do vestido. Vá ser bonita assim lá em outro lugar.
- Está tudo bem. - Tranquilizei-a, porque realmente entendia.
- Não está. Seu irmão e o terno azul ridículo dele me deixam muito... desorientada. - Revirou os olhos teatralmente - Azul, Emma. Sério? Você poderia ter sido uma boa irmã e ter impedido esse desastre.
Nate ficava muito bem de azul, todos sabíamos disso.
- E, ah, detesto a simpatia excessiva da primeira dama. - Completou sem dar qualquer espaço para minha réplica. - Ela acha que está concorrendo para a vaga da pessoa mais agradável de Nova Iorque? Me poupe.
Virei a cabeça sobre os ombros para ter acesso para onde ela estava lançando aquele olhar de pura antipatia. Meus pais, Nate, Cloe e mais algumas pessoas, que eu não conhecia, estavam em um círculo de conversa aparentemente animada. E claro que ela estava falando de Cloe.
- Ah, para, Jessyca. - Estalei a língua, voltando-me para encará-la - Ela é uma garota muito legal.
- Sim, é exatamente esse o ponto. Você não ouviu o que eu disse?
- Então pare de dar uma de Regina George para cima dela. O nosso ódio deve sempre ser direcionado aos homens, lembra? - Usei meu melhor tom conciliador, tentando fazê-la voltar à racionalidade.
- Você tem razão. - Suspirou resignada. - Eu não te disse que aquela roupa horrorosa me deixa completamente perturbada? Não sei nem o que eu estou falando direito. Vou perder a minha carteirinha feminista por causa dele.
Peguei brevemente no seu antebraço, fazendo um carinho singelo, querendo lhe mostrar fisicamente que eu compreendia.
- A sua carteirinha vai ficar bem, amiga.
Respirou fundo, como se estivesse muito exausta emocionalmente.
- Vamos parar de falar desse meu surto e focar no que importa. Como você está? - Seus olhos azuis expressivos dançaram até mim com certa dose de preocupação.
- Uma confusão ambulante. - Soltei uma risadinha autodepreciativa, optando pela sinceridade. - Mas vou ficar bem. Tudo deu certo, meus pais não esboçaram nem um pingo de desconfiança.
Agora, se eu iria ficar bem com Benjamin tentando provocar que meu corpo era uma piada de mau gosto? Provavelmente, não. Mas aquela não era uma verdade que eu estava disposta a compartilhar.
- Ah, Emma... - Suspirou com um olhar de consternação. - Que situação de merda essa que você foi se meter.
Soltei uma risada, porque resumia perfeitamente o meu cenário.
- Tequila ou espumante? - Questionou-me, levantando as sobrancelhas perfeitamente desenhadas em um movimento sugestivo.
Oh, sim. Aquela seria uma noite que precisaria ser enfrentada a base de bebida alcoólica.
- Espumante.









▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️▪️

OLÁ, MARAVILHOSAS! ✨✨

Como vocês estão?
Por aqui tem sido uma delícia trabalhar nessa sequência de capítulos 🔥❤️🔥❤️

Não esquece de me contar TUDO o que está achando e dar a estrelinha?? Significa muito pra mim. ✨

Vem ficar mais pertinho lá no instagram: @he.lloclio

Mil beijos, ❤️

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora