Capítulo 15.

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Emma 

     No momento em que o carro saiu pela garagem e ganhou a cidade, desejei estar vestindo o meu moletom quentinho mais do que nunca. Ele, definitivamente, havia se tornado um grande símbolo de segurança; era reconfortante poder me esconder embaixo do tecido grosso, como se aquilo — ainda que alegoricamente — pudesse me resguardar em algum nível. 

     Sem ele, a sensação de vulnerabilidade era aterrorizante. Estava uma noite aberta, porém gelada. Tentei ignorar o peso do meu desconforto e da energia bizarramente carregada de dentro do carro enquanto olhava o movimento da cidade passar por meus olhos como um borrão colorido incapaz de penetrar as barreiras daquele carro. Dentro, éramos apenas branco e preto: irreconciliáveis, heterogêneos, opostos.

     Benjamin estava sentado ao meu lado esquerdo com o corpo apoiado na porta, posicionando propositalmente de frente para mim. Encarando-me. Fixamente. Veementemente. Daquele jeito que faz a pele inteira pinicar, daquele jeito que me fazia completamente consciente do meu próprio corpo e da sua presença e que fazia, portanto, toda a minha energia querer se canalizar inevitavelmente em si. 

     Pesquei o celular dentro da bolsa com o objetivo de conseguir me concentrar em qualquer outra coisa que não fosse seus olhos hipnotizantes, visto que a paisagem noturna não estava me ajudando em nada. Rolei meu feed do instagram em busca de qualquer distração. 

     — Você já sabe quando os seus pais chegam a Nova Iorque? — Questionou-me, fingindo uma despretensão que em nada lhe caia bem. 

     — O que você tem a ver com isso? — Devolvi a pergunta na defensiva, sem encará-lo, dando toda a minha atenção ao aparelho celular.

     Não olhe para ele, Emma.

     Não olhe. 

     — Providenciarei que os busquem no aeroporto.

     — Oh, sim! — Soltei uma meia risada irônica — Você é um genro muito atencioso, Dawson.

     — Faça o meu melhor, baby

     Argh. Meus olhos dançaram inevitavelmente pela órbita. 

     — Já que está tão interessado, quando chegarem, providencie que os deixem na casa de Nathaniel. — Sentenciei decida. 

     Ele me tomava como uma grande idiota além de tudo? Claramente, seria interessante para seu joguinho que meus pais ficassem conosco. E, claramente, para a minha sanidade mental era melhor que não ficassem. Já pensou fingir que somos um casal o tempo inteiro? Nathaniel nem sabia da minha resolução, mas tenho certeza de que lidaria com qualquer coisa que eu lhe pedisse. 

     — Por que raios eles ficariam mal instalados no apartamento de solteiro do seu irmão se poderiam ficar infinitamente melhor em nossa casa? — Perguntou de forma exageradamente didática para provar racionalmente que eu estava sendo estúpida. 

     Não olhe para ele, Emma. 

     — Não existe isso de "nossa casa". A casa é sua, eu estou só de passagem. 

      Limitei-me a retrucar sem responder efetivamente sua pergunta. Eu sabia o porquê eles deveriam ficar com Nate e ele também sabia, minha humilhação não precisava ser explícita, né?

     — Eu até poderia dizer que essa sua postura negacionista não me agrada muito, baby. Mas seria mentira. Não existe algo em você que me desagrade. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora