Capítulo 31.

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Emma

Quando alcancei o topo da escada, escutei a risada escandalosa e calorosa da minha mãe. Sorri, sendo invadida por aquele quentinho no coração inerente à sua presença e pela certeza de que a mentira valeria a pena se aquele som permanecesse exatamente no lugar que deveria estar. 

Desci as escadas na ponta dos pés, encontrando algumas malas no hall de entrada. E antes que eu pudesse seguir as vozes até a sala de estar, detive-me alguns instantes para ouvir a interação entre eles.

— Não estava, nem um pouquinho, com saudades de Nova Iorque, Lilian? — Benjamin provocou, com divertimento escorrendo da voz rouca. 

Não tardou para que a resposta enérgica viesse.

— De jeito nenhum! Só se eu estivesse doida de pedra pra sentir falta desse barulho e desse trânsito, né? Tirando vocês, não tem nadica que me faça falta aqui.

Eu poderia apostar que o fato da minha mãe incluí-lo na equação não havia passado despercebido. Ela sempre fazia isso. Embora tenham se oposto ao meu casamento no início, depois que havia acontecido, tinham acolhido Benjamin como parte integrante da família.

— Ah, e a pizza do Sottocasa? — Instigou meu pai. 

Sorri outra vez. Ela era apaixonada pela pizza daquele restaurante italiano do Brooklyn. 

— Ok, Mike. Sinto falta das crianças e da pizza do Sottocasa. E só. 

Crianças

Respirei fundo e atravessei o vão da sala de estar, encontrando-os sentados no sofá.  

— Oh, querida! — Minha mãe levantou-se em um pulo, colocando os cabelos loiros e finos atrás da orelha em um gesto tão característico, abrindo os braços para me receber com todo seu afeto. 

Enfiei-me entre seus braços, respirando e me abastecendo do seu cheiro único. No vão do seu pescoço, na mistura do seu perfume com o amaciante que havia usado uma vida inteira na roupa era como estar em casa novamente. 

— Que saudade. — Sussurrei uma lamentação quase que manhosa.

— Por Deus, nem me fale! — Dramatizou, afrouxando o abraço e me segurando com as duas mãos pelos ombros. — Você está tão linda. Esse cabelo ficou um espetáculo!

Analisou-me por alguns instantes com aquele olhar de adoração pela cria que sempre lançava a mim ou a Nate. Ali, subiu-me um arrepio gelado de medo. Será que se olhasse demais, se olhasse com atenção, descobriria que eu estava apenas fingindo?

Sou uma mentirosa, mamãe. Me perdoe.

Não sei como, mas ela não pareceu enxergar nada de atípico que fosse digno de nota. Pelo contrário. Encontrou qualquer coisa para elogiar!

— Inclusive, acho que esse período de folga lhe fez muito bem. — Desceu as mãos pelos meus braços e os olhos por toda a minha extensão em uma averiguação.

— Ah — Soltei uma risada engolfada e desesperada — Eu não poderia discordar mais disso. 

— Besteira. — Soltou um estalo com a língua — Eu acho que fez sim, e sempre tenho razão, sabe bem disso.

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora