Capítulo 13.

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Emma

     Dormi na sala de descanso aquela noite. Dormi mal, é claro. O entra e sai de funcionários, a luz que se apaga e se acende uma porção de vezes... Acordei com um leve desconforto no pescoço que em nada foi aliviado pelo banho rápido e morno que tomei no banheiro dos funcionários. E, ainda assim, tudo era preferível a voltar para aquele apartamento e ter que enfrentá-lo. 

     Provavelmente, você pensa que eu sou uma covarde.

     E, provavelmente, você tem razão.

     Sou uma mulher de 26 anos que precisa se esconder no trabalho para não lidar com as adversidades do mundo real. Prazer, essa sou eu mesma. Em minha defesa, eu estava tão estafada emocionalmente que o universo parecia me dever o direito de me comportar de maneiras estúpidas de vez em quando. 

     Aquelas paredes eram as únicas em Manhattan capazes de freá-lo minimamente, por mais que tentasse se fazer de onipresente e onipotente. E era atrás delas que eu iria me refugiar, fazendo com que isso me conceda o título de covarde do ano ou não. 

     Não dei notícias a ninguém. Em algum momento do dia anterior, a bateria do meu celular havia acabado, e não fiz o menor esforço para tentar carregá-lo. Aproveitei-me daquele pouco tempo afastada do mundo real, mesmo sabendo que poderia deixar alguns rastros de preocupação para trás. Seria mentira se eu falasse que aquilo não deixava uma culpa crônica no meio do meu peito, mas, em um ato de rebeldia, não o carreguei mesmo assim. 

     Pronta para enfrentar mais um dia, decidi passar no quarto de Hanna - autointitulada como a minha paciente preferida em todo o mundo - para me despedir. Os papéis da alta estavam para sair a qualquer momento desta manhã, e ela, finalmente, poderia continuar o tratamento em casa, exatamente como desejava. 

     Cumprimentei alguns conhecidos pelo corredor enquanto me dirigia até o elevador. Quando virei a esquina e vi Adam aguardando o bendito elevador com uma colega, meu corpo paralisou no meio do caminho, fazendo com que o pobre coitado, que vinha logo atrás, esbarrasse inevitavelmente em mim. Pedi desculpas envergonha de maneira discreta para não chamar a atenção. 

     Claramente, eu ainda estava evitando Adam. Claramente, eu não estava pronta para ter a conversa que ele gostaria de ter. Claramente, eu não estava disposta a mentir quando ele me perguntasse se estava tudo bem. 

     Se alguém ainda tinha alguma dúvida em relação à minha covardia, agora meu destino estava completamente selado. Eu deveria mudar meu nome após o divórcio para Emma covarde Parker. Pediria à Jessyca para me fazer uma camiseta, provavelmente, ela aprovaria a ideia. 

     Por sorte, ele não me viu. Obviamente, havia acabado de chegar. Estava nitidamente descansado, com os cabelos arrumados e com o uniforme e o jaleco impecáveis. Eu poderia jurar que se eu me aproximasse, sentiria cheiro de sabão em pó fresco. 

     Conversava casualmente com uma colega de especialização, fazendo-a rir totalmente afetada por seu charme. Embora ele soubesse de seu encanto, era o tipo de cara que fingia elegantemente não perceber o efeito que causava nos outros.

     "Emma, eu serei um cardiologista! Se existe alguém na terra capaz de cuidar do seu coração, ah... esse alguém sou eu!" Com essa cantada horrível, eu havia topado sair com ele pela primeira vez. 

     Parecia outra vida, honestamente. 

     O elevador chegou e eu virei-me em meus calcanhares, retrocedendo pelo caminho que eu havia percorrido há pouco, para que ele não me notasse assim que o adentrasse.

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora