Incompreensível. Intenso. Um sentimento que os consumia por dentro. Eram de mundos completamente diferentes e carregavam valores completamente diversos. Ele era egoísta, prepotente, manipulador e obsceno. Ela era doce, carinhosa, equilibrada e justa...
Não vi Emma pelo resto do dia. Saí para uma reunião, voltando pouco depois da hora do almoço. Charlotte disse que ela não havia saído do quarto nem para comer. Provavelmente, havia dormido o dia todo, recuperando-se do plantão noturno, por isso não a incomodei, deixando-a descansar.
Aquela clara displicência com a alimentação, poderia, sem dúvidas, ser uma consequência emocional de tudo o que havia passado nos últimos meses, mas também começava a me parecer sobretudo uma consequência de uma vida desregrada e fundada em excessivas horas de trabalho. Deixava de comer muito mais pela rotina atarefada do que por pura deliberação, como temia Nathaniel. No entanto, eu cuidaria daquilo. Tínhamos planos para essa noite, inclusive.
Tratei de acalmá-lo or mensagens, visto que ela havia tomado o café da manhã e, certamente, jantaria comigo à noite.
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Enfurnei-me no escritório pelo resto da tarde com uma sensação estranha, e embora concisa, de contentamento. Mesmo sem colocar meus olhos sobre ela, eu sabia que ela estava ali, dividindo o mesmo teto que o meu, e aquilo fazia pequenas marolas ondularem pelo meu corpo em alívio. Depois de tanto tempo recebendo tsunamis infernais, parecia que eu poderia começar a pensar em respirar novamente.
Lá pelas cinco da tarde, joguei o peso do corpo contra a cadeira confortável e me permiti encarar uma das fotos estampadas em um dos porta-retratos em cima da minha mesa. Emma estava na praia, olhando para mim de relance. Os fios do cabelo cheio e escuro, ainda úmidos, agarravam-se ao seu rosto delicado pela ação do vento. Seus olhos redondos e sempre tão expressivos estavam ligeiramente fechados, protegendo-se da claridade. E ela sorria. Com aquele tipo de sorriso completamente aberto e espontâneo de quem se sentia plenamente feliz e confortável em estar onde estava. Todas as vezes que sorria daquela maneira, seu nariz se enrrugava na altura dos olhos de uma maneira incrivelmente adorável e singular, e sinceramente? Naquele momento, não havia absolutamente nada nesse mundo que ela me pedisse e que eu não estaria disposto a lhe dar.
E eu, toda maldita vez, que olhava aquela foto, sentia uma pitada de esperança. Se ela já fora capaz de me olhar daquela maneira, de sorrir daquela maneira, significa que existia, em algum nível e em algum lugar, alguma coisa em mim que valia à pena. Sentia-me na obrigação de fazê-la feliz novamente.
Escutei, ao longe, um tilintar bem específico contra o piso de mármore do hall de entrada, fazendo com que minhas divagações se dissipassem. Eu só conhecia uma pessoa capaz de andar em cima de saltos tão altos e finos com tanta segurança. O som foi se aproximando, e segundos depois, confirmando as minhas suspeitas, Jessyca invadiu o meu escritório como um furacão que anuncia uma tempestade.
Assim como Danny havia tomado todas as dores de Emma, Jessyca também havia feito o mesmo, de maneira ainda mais dramática e performática, gritando para quem quisesse ouvir que estávamos de relações cortadas, porque eu era um imbecil.