Capítulo 26.

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Emma


Quando levantei a mão para chamar a atenção do atendente, uma voz melodiosa e extremamente feminina dirigiu-se a Benjamin.

- O que acha de me pagar uma bebida, querido?

Meu pescoço virou tal qual a personagem do exorcista. Rápido demais. Afetada demais. Interessada demais em verificar o que estava prestes a acontecer ali.

A postura corporal dele ficou visivelmente tensa. Desapoiou os cotovelos que estavam confortavelmente apoiados no bar; esticou a coluna em posição de alerta; apertou a tampinha da garrafa com uma intensidade exagerada, mesmo que ela já estivesse obviamente fechada.

Não sei se outra pessoa ao redor era capaz de sentir, mas a tensão, ao menos para mim, era imensa, pesada, quase que tangível. Todo o meu ar pareceu ficar preso, enjaulado em uma expectativa pulsante.

Para piorar toda a situação, ele demorou alguns segundos constrangedores para encará-la, deixando explícito seu suposto desinteresse. Quando tombou minimamente a cabeça para a moça, olhou-a do alto de sua torre de marfim e prepotência, medindo-a brevemente com um certo desdém evidente.

A moça era simplesmente deslumbrante. Era impossível que ele não estivesse pensando exatamente isso, embora externasse aquela reação de desdém. Tinha longos cabelos que caiam até a sua cintura fina em cachos lindos e brilhosos; e o tom de caramelo da sua pele era simplesmente inacreditável!

Um sentimento azedo de insegurança caiu como um balde de água gelada sobre a minha cabeça. De imediato, senti que meu quadril não era estreito o suficiente, meu cabelo não era deslumbrante o suficiente e que o tom da minha pele não era, em definitivo, bronzeado o suficiente.

Junto a isso, algo adormecido pareceu despertar e urrar de dor e descontentamento no meu peito. Eu nunca admitiria em voz alta para quem quer que fosse, mas - inegavelmente - pulsava em cada batida do meu coração um ciúmes descabido, mas extremamente dolorido e real.

- Não. - Rosnou grosseiramente a mísera sílaba, como se não estivesse disposto a lhe oferecer sequer mais do que uma palavra.

Ela retrocedeu alguns centímetros, surpresa pela recepção tão negativa. Evidentemente, não estava acostumada a ser mal recebida por ninguém.

- Ok... - Soltou uma risadinha sem graça - E se eu pagar uma bebida pra você?

- Eu não estou interessado.

Aquela interação me doía. Verdadeiramente. Transportava-me para aquela bendita noite, para aquele bendito quarto de hotel, para o bendito instante em que ele havia despedaçado o meu coração.

- Nem um pouquinho? - Fez charme.

O fundo dos meus olhos começou a arder, e me senti patética por sentir a mínima vontade que fosse de chorar. Eu estava ali para me divertir, santo Deus! E aquilo não era nem de longe parecido com diversão. Antes que a situação ficasse insuportável, tomei impulso para sair dali, mas ele segurou delicadamente minha mão - completamente atento à minha presença - impedindo-me.

- Não.

- Ah, eu posso tentar te convencer...

Caramba, moça.

Benjamin soltou um suspiro impaciente antes de lhe responder.

- Não sei se minha mulher vai gostar se você tentar me convencer do que quer que seja. - Apontou a garrafinha em minha direção, fazendo- a olhar para mim pela primeira vez.

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora