Capítulo 28.

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Benjamin 

     Não posso afirmar se aceitou minha oferta por si mesma, querendo verdadeiramente meu cuidado; ou se foi apenas mais um gesto de compaixão de quem sabia que eu precisava muito daquilo. Seja pelo motivo que fosse, fui invadido por uma felicidade quase desconhecida; das grandes, genuína, do tipo que entra fazendo barulho e bagunça, espantando com autoridade o caos que havia feito morada ali há poucos instantes. 

     Apertei levemente seus dedos finos, trazendo-os até meus lábios, beijando-os breve e delicadamente enquanto a fitava. Tão linda, mesmo enquadrada dentro de toda aquela bagunça. A intenção era apenas lhe agradecer, mostrar-lhe o quanto eu apreciava o gesto; mas qualquer contato da minha boca em qualquer parte do seu corpo era material altamente inflamável. Eu senti a explosão ameaçar explodir, e ela também. 

     — Se comporte... — Censurou-me, recolhendo os dedos para si.

     Havia, no entanto, bem ao fundo, uma pitada de bom humor em sua voz.

     — Quando eu não me comporto? — Tombei a cabeça, permitindo-me entrar naquele universo estranho e descontraído que ela estava me oferecendo. 

     Ela estava bem, estava inteira, estava ali comigo. Eu poderia, ao menos, tentar ignorar a avalanche emocional que aquela situação me acarretava. A Dra. Ted teria material pra caralho com o qual trabalhar na próxima consulta, sem dúvidas; mas, no momento, eu só queria colocar tudo aquilo debaixo do tapete e aproveitar a oportunidade que ela estava me oferecendo.

     Soltou uma risadinha curta e irônica antes de me responder.

     — Basicamente, nunca, né? A pergunta certa é: quando você se comporta, Benjamin?

     Subiu o ombro direito com displicência, mas seus olhos de cristais se apertaram levemente, revelando que ali também havia uma jovialidade que há tempos não aparecia.

     Meus lábios repuxaram para a esquerda em um sorriso discreto, incapaz de acreditar que estava sustentando uma conversa daquele tipo comigo. Era como se estivéssemos vivendo na porra de uma realidade paralela. 

     — Estou me comportando agora. Estava apenas oferecendo conforto... — Dei de ombros, forçando uma integridade que ambos sabíamos que eu não possuía.

     — Ok, então faça isso, mas sem os lábios. — Seus olhos desceram e fitaram, de forma indiscreta, minha boca. 

     Não era a primeira vez que fazia isso; e, ao mesmo tempo, que era bom pra cacete poder constatar que, mesmo não querendo, ainda nutria algum tipo de desejo por mim, era doloroso ter que reunir os poucos resquícios de dignidade que eu tinha para me manter afastado. 

     Nesta noite insana, parecia que qualquer detalhe tinha o poder de nos colocar dentro daquela bolha de excitação em que as condições de temperatura e pressão eram muito diferentes do mundo real. Ali dentro, só existia ela e eu, e o clima insuportavelmente quente parecia escalar - em uma velocidade assustadora - para o auge de uma excitação dolorosa, para o auge de uma fome que não podia ser saciada. 

     — Mantenha essa boca bem longe de mim. — Completou em uma espécie de recomendação que não parecia ser dirigida apenas a mim, mas a nós dois, como se também fosse capaz de sentir o quanto aquela bolha era perigosa. 

     Não contive um sorriso irônico, ao pensar em como eu poderia fazer um ótimo uso da boca caso ela permitisse. 

     — Posso me virar bem só com as mãos, baby.

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora