Capítulo 14.

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Emma

     — Alguém morreu, Emma? — Jessyca atendeu a minha chamada de vídeo com a voz completamente embargada de sono.

     Não consegui ver seu rosto, porque, onde quer que ela estivesse, estava um breu. 

     — São quase três da tarde, Jessyca!

     Ela soltou um grunhido seguido de um bocejo exagerado. 

     — Para quem foi dormir às seis da manhã ainda é cedo, muito cedo, queridinha.

      Finalmente, acendeu uma das arandelas, que ficava em cima de sua cama, e pude vê-la e constatar que estava segura em casa. 

     Seus olhos manchados de maquiagem fizeram um esforço sobre-humano para se acostumarem com a claridade. Os cabelos estavam uma bagunça embaraçada, delatando que a filha da mãe deveria ter tomado todas e mais um pouco na noite passada. 

     Com o quarto iluminado, pude constatar que ela não estava sozinha na cama. Havia um cara enorme enrolado entre seu edredom branco. 

     — Você sabe que tem um cara na sua cama, né? — Questionei-lhe, mudando completamente meu tom de voz para um sussurro, a fim de não acordar o rapaz.  

     Ela olhou um pouco surpresa por cima do ombro, como se nem ao menos se lembrasse daquele pequeno detalhe. Quando a sua memória pareceu voltar a funcionar, ela sorriu maliciosamente. 

     — Jon? Ou seria Joseph? — Soltou uma risadinha, levantando-se da cama com uma falta de equilíbrio patética — Nunca saberemos. 

    — Você tem se protegido, né? — Questionei-lhe verdadeiramente preocupada, ainda em um sussurro.

     Podem me julgar à vontade, mas o meu lado "profissional da saúde" nunca tira um segundo de descanso. 

     — Ah, Emma... — Soltou um gemido teatral, rolando os olhos, como se estivesse sendo torturada ao falar de sexo com os pais pela primeira vez na vida — Você quer que eu pegue outra banana?

     Ela estava zombando da minha cara, é claro. Limitei-me a lançar-lhe um olhar de desagrado. Ela nunca me deixaria esquecer do dia em que coloquei um preservativo em uma banana para garantir que ela estava fazendo o uso corretamente. Em um primeiro momento, fingiu estar interessada em minha aula estúpida até que começou a gargalhar compulsivamente. 

    — A sua aparência está ótima, amiga — Zombei carinhosamente.

    — O nosso amigo aqui pareceu ter gostado, viu? — Apontou com o polegar para o Jon/Joseph — Aliás, você quer dar uma espiadinha nele?

     Ameaçou voltar para cama e levantar o edredom que cobria todas as partes do rapaz.

     — Jessyca Shields! — Recriminei-a veementemente.

     Eu a amo, decerto. No entanto, às vezes, sua capacidade de decidir entre o que era certo e o que era errado ficava um pouco comprometida. 

     — Estou brincando... — Soltou uma risadinha sacana.

     Ela caminhou até o banheiro, fechando a porta atrás de si, dando privacidade a nós e ao moço. 

     — Preciso da sua ajuda! — Sentenciei sem esconder qualquer toque de desespero na voz.

     Ao se olhar no espelho, fez uma careta exagerada. A situação estava feia mesmo. 

     — Claro que sim, por qual outro motivo me acordaria tão cedo? — Provocou-me em meio a um bocejo. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora