Memórias

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Tirei minhas botas e deitei na cama, resolvi esvaziar minha mente e logo acabei pegando no sono acordando ao som de Beth me chamando para o almoço. Lavei meu rosto e o dia continuou comum, como qualquer outro, eu e Beth trocamos fofocas, compartilhamos entre famílias diversos assuntos aleatórios, um típico dia de uma semana de feriado. Não tínhamos sinal de telefone, as atrações e entretenimento eram genuinamente familiares e sem drama, o peso da noite passada parecia não existir, além do mais a educação dos pais de Mark era impecável, o que diz respeito o modo de Mark ser e agir. Em alguns momentos reparei no olhar da mãe de Mark me olhar e não entendi exatamente o que se passava realmente na mente dela, acreditei apenas ser a maneira dela. Ela parecia simples, sempre bem arrumada como se fosse sair para algum evento, mas algo nela era frio, mesmo compartilhando brincadeiras e piadas, eu que sempre fui criada de uma maneira humilde e com pais que nem sempre foram bem remunerados, minha mãe se vestia de uma maneira simples e sempre com alegria no rosto, a diferença era bastante mesmo elas compartilhando quase a mesma idade, entre 50 e 55 anos.

    Beth decidiu ir ao evento, em busca de alguém para se divertir, tendo uma leve atração especialmente por franceses. Como eu estava quieta e pensativa, tenho certeza de que ela não mencionou em nenhum momento o fato de ficar em casa sozinha com Mark, o que por ela geraria milhões e milhões de piadas, pelo motivo de me deixar ansiosa e tornar algo mais do que era realmente. Por mais que pareça que tenho algum motivo romântico de ficar com Mark sozinha ou mais que isso, eu não tinha, a única verdade era que aproveitei muito o tempo com ele sozinha e seria reconfortante conhecer ele melhor. Até o momento de todos saírem, Mark estava dormindo, eram em torno de 20hrs e ele já estava dentro do quarto por 4 horas.

    Pensei em fazer algo para comer mas ao abrir a geladeira, havia as sobras do almoço e sinceramente, eu não tinha intenção nenhuma de cozinhar algo, então aqueci tudo no forno e me servi um prato, sentei no sofá e liguei a televisão fingindo que eu entenderia tudo que eles falavam. Ao terminar minha refeição, levei o prato para a cozinha e olhei pela janela enquanto lavava o prato, percebi pela luz da rua que estava chovendo mas ao aproximar meu rosto do vidro, vi que estava começando a nevar. Sequei minhas mãos em um pulo e corri para o cabide que ficava ao lado da porta, vesti meu casaco longo de inverno e sai porta afora.

- Emma! Entre em casa agora! – ouvi a voz de minha mãe e continuei correndo em voltas no quintal, sentindo minhas botas coloridas afundar na neve fresca que caia – Emma! – ouvi minha mãe novamente, dessa vez em minha direção segurando uma toca, minhas luvas cor de rosa e uma manta branca.

Ela me vestiu rápido enquanto eu tentava pegar a neve que caia do céu no meu rosto, o ar trancava na hora de entrar na minha garganta e eu só conseguia gritar e rir – Minha garotinha. – minha mãe riu me soltando novamente para correr.

    Fechei meus olhos ao chegar no quintal da frente e virei meu rosto na direção que o vento vinha, abri meus braços e senti o vento me gelar o rosto e as mãos. A neve batia contra meu rosto como a chuva mais macia, meus pés se torciam dentro do sapato enquanto eu sorria sozinha, ao abrir meus olhos encarei o céu escuro, o bairro vazio e a casa mais perto estava apagada pelo vento e pela visão da neve caindo.

    Passei minhas mãos pelo meu cabelo, já levemente molhado e congelado, a sensação era gratificante e por mais frio que estava, eu sentia minha alma se lavar junto com a grama e o telhado de madeira da casa. Ouvi a porta abrir e vi Mark, completamente de cinza, luvas, manta, sobretudo com exceção de suas calças e botar que eram negras. Ele carregava uma manta na mão e me olhou sorrindo sem mostrar os dentes, apertando o canto da boca em suas bochechas, era o sorriso mais lindo e confortante que eu poderia imaginar agora.

- Vi você pela janela e quis fazer companhia. – Mark disse ao chegar perto de mim e enrolou a manta, que ele havia trazido, em volta do meu pescoço, sorri agradecida – Você esta linda. – Mark falou olhando meu rosto com carinho, mesmo com todo o frio que estava eu acredito que minhas bochechas vermelhas eram visíveis.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora