Hawaii

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    Eu mau podia esperar para conhecer as praias, as pessoas, as ruas, comer, dançar, mas eu estava em quase coma de sono então por hoje não havia mais o que fazer, minha barriga estava quase vazia e a última coisa que comi era um sanduíche vegetariano do voo a 5 horas atrás que me resultou em enjoo. Logo fizemos o mais lógico naquele momento, caímos duros na cama e dormimos até o dia seguinte, mesmo que bobo, dormir ao lado dele me trazia paz e eu tive uma das melhores noites de sono na minha vida naquele colchão maravilhoso e com um lençol quase fluorescente de tão branco.

- Parece que um caminhão passou por cima de mim. – Mark falou colocando mais uma porção de waffles com geleia de morango, soltei uma risadinha e tomei um gole de cappuccino.

Ele estava todo descabelado, sem camisa e vestindo apenas suas calças de pijama, toda manhã eu via ele levantar rápido e correr para se arrumar, ou dormir até o meio dia de cansado nos domingos, de certa maneira o trabalho estava tirando toda a energia que havia nele para fazer as coisas que ele mais amava.

- Você está bem? – falei largando meus garfos ao lado do prato, Mark me olhou e acenou com a cabeça – Mark, eu falo sério. – suspirei – a gente não conversou sobre o que aconteceu.

- Eu achei que isso eram férias. – ele tomou um gole de suco de laranja e assumiu a sua postura na cadeira, típico de quando ele ia conversar sobre algo sério para mim.

- E são, para nós dois e eu quero que a gente não volte para a mesma loucura em que estávamos. – falei olhando em seus olhos, sua boca estava reta em uma linha, sério.

Ele fechou os olhos por alguns segundos e suspirou, se arrastou até o chão e ficou de joelhos ao meu lado na cadeira, logo colocou suas mãos sobre minhas pernas e eu segurei seu rosto enquanto olhava fundo em seus olhos castanhos.

- Você é a mulher da minha vida, acredite em mim. – ele falou claro e mantendo sua expressão intacta, seus olhos explodiam em amor traçando cada detalhe do meu rosto – Se algum dia eu te perder, eu não sei o que vai ser de mim, e eu vou lutar para que isso nunca aconteça. – ele sorriu e me fez sorrir, eu sei que ele entendia tudo que eu falava, sem eu precisar me expressar tanto.

Mergulhei em seus braços e deitamos sobre o chão do quarto, ele sorriu para mim e até hoje meu coração se derretia com aquela expressão de felicidade, fechei meus olhos e o apertei contra mim. O sol entrando pela janela e passando pelas cortinas brancas da sacada eram muito convidativos, observei o vento calmo movimentar o tecido fino por qual raios de luz entravam e sumiam a cada momento, sempre que eu ficava longe de casa ou viaja por um certo período de tempo, sendo ele curto ou longo, todas minhas preocupações sumiam, ansiedades e desesperos, era como se eu me desse conta do quão simples era tudo e toda minha tempestade era literalmente por motivo nenhum.

Enquanto Mark tomava banho, me sentei na cama que ficava paralela à sacada, observei os lençóis em que dormimos e o quão bom era dormir em uma cama de hotel, me perdi um pouco apreciando cada detalhe sobre o meu ''presente''. Percebi o quão bom Mark havia sido em largar tudo por uma semana e oferecer pra mim esse paraíso, a forma que nos apaixonamos é tão divertida e o tanto que Mark havia se soltado para o mundo e o público era lindo de assistir, saber que eu e ele crescemos tanto um com o outro e juntos, era gratificante.

Eu me lembro que comentei uma vez com Mark sobre o Havaí, em uma janta familiar que me custou um nível alto de paciência com sua mãe e uma comida terrível que sua mãe nos fez, parece que tinha sido de propósito. O que parecia incrível era que isso já fazia mais de 1 ano e mesmo assim Mark lembrou que eu tinha falado sobre o assunto, é doce e atencioso, ver ele se declarando pra mim como se eu fosse a única mulher que ele gostaria de ter na vida dele me fez pensar sobre o que seria de mim se algum dia Mark resolvesse mudar de ideia e me deixar, se apaixonasse por outra pessoa ou simplesmente acabasse nossa paixão e digo, o que tínhamos entre nós obviamente não era comum.

Nós adaptamos o mundo ao nosso redor para que se encaixasse exatamente no que queríamos para ambos, sua mãe mesmo nos irritando agora fazia ele rir com a postura dela, ele se soltou em relação aos meus pais e pareciam melhores amigos quando se encontravam, como se tivessem a mesma idade.

- Mark, Emma! – meu pai falou alegre ao abrir a porta de casa, sorrimos e andei até seu abraço, não era de se espantar que meu pai chamasse seu nome primeiro, a atenção da família agora era ele.

- Olá pai, como andam as coisas? – sorri retirando meu casaco e pendurando no cabide ao lado da porta.

- Ótimas, eu acabei de encontrar as primeiras edições de Contos de Edgar Allan Poe, e digo, são o máximo! – meu pai citou animado e Mark riu.

- Aposto que as ilustrações gráficas sejam incríveis. – Mark sorriu sem mostrar os.

- Quando você ver, vai cair seu queixo! – meu pai sorriu, minha mãe olhou para ambos enquanto vinha em nossa direção secando as mãos em um pano de cozinha branco e antigo.

- Querida. – ela sorriu e beijou minha bochecha – vejo que não teremos ajuda na cozinha. – ela se virou para Mark e meu pai e eu sorri.

- Amor, eu preciso mostrar para Mark. – ele levantou as mãos abertas em frente ao seu peito em defesa e logo mudou sua direção para seu escritório – Vamos Mark, estou animado para lhe mostrar. – olhei para Mark e sorrimos um para o outro.

Minha mãe me olhou e soltou uma risadinha, sorri para ela também e caminhamos até a cozinha, eu ainda podia ouvir a voz de ambos falando sobre capítulos e datas, Mark apreciava tudo que meu pai tinha à oferecer, eles pareciam se completar em tantos aspectos estranhos e até naqueles que antes era eu que me encaixava, eu amava ambos com todo meu sangue.

Mark me fazia apreciar cada minuto da minha vida, ele me fazia participar de coisas que eu jamais teria coragem, como naquela tarde em que fomos nadas com os tubarões, raias e outros animais marinhos que me assustavam um pouco. Ver ele aproveitando e soltando-se da seriedade da vida cotidiana me fez tão feliz, ver ele beber sem que precisasse se preocupar e assistir ao por do sol na areia, não me largar nenhum segundo do dia e da noite, realmente ambos precisavam de toda aquela semana para se reconstruir.

Aproveitamos jantares, comidas de rua, passeios turísticos e festas, pois eu não conseguia viver sem dançar e Mark transformava uma simples dança em risadas que faziam minha barriga doer, ele era único, lindo, amoroso, era tudo que eu jamais achei que merecia e ainda me pergunto como eu consegui alguém como ele. Todas minhas previsões do futuro eram completamente diferentes do que ele me fez viver, vivemos 10 anos em 5, aproveitamos cada jornada que passávamos e mesmo as barreiras, de certa maneira conseguíamos disfarçar e seguir em frente. Igualmente, ambos sabíamos que havia uma sensação estranha, nós aproveitamos, brincamos mas haviam tantas coisas para consertar, além de palavras bonitas e o ''deixa no passado'', há certas coisas que precisam ser esclarecidas e mudanças que precisam acontecer para que realmente esses momentos tenham importância significativa.

Acho que Mark não estava lidando bem com esse afastamento, trabalho e nossos problemas, ele não queria encarar eles, não queria brigar, então optou pela solução material, mas ele sabia no fundo que quando voltássemos, eu não iria desistir de ir em busca do que é melhor para ambos.

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora