Parte de mim

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Me olhei no espelho do banheiro e só escutava a voz de Mark no eco, perante o silêncio da sala ao lado, arrumei meu cabelo e logo fui direto ao bar, onde haviam 3 garçons sentados conversando, sorri e pedi uma água com gás.

- Aproveitando o evento? – um deles sorriu ao encher meu copo.

- De verdade? – soltei uma risadinha, ele sorriu novamente, tomei um gole da água e limpei a garganta.

Olhei em volta e era apenas eu e alguns funcionários no salão, caminhei em volta prestando atenção nos detalhes do lugar, ainda um pouco surpresa com o pé direito alto e repleto de janelas, andei até a porta e fui até a parte de fora. Senti o vento fresco bater no meu rosto e braços e senti um leve calafrio, e tão estranho o quanto a vida de duas pessoas toma um rumo tão diferente e mesmo assim acabam de cruzando uma hora ou outra, por certo lado seria uma ótima reflexão sobre o motivo disso tudo, se é que existe.

E se eu realmente eu soltasse o que tem dentro de mim, corresse em direção ao que meu coração pede e resolva abrir mão de qualquer pudor ou sentimento de culpa, medo ou apreensão, e outra... Qual seria o resultado? Mesmo sabendo que eu segui a minha vida, sem nunca me esquecer de várias experiencias, Mark era parte disso, parte do meu passado, parte de várias coisas que eu vivi pela primeira vez e nunca consegui sentir novamente. Sempre duvidei do amor verdadeiro, do que deixa a gente sem ar por anos e anos, porque no final a realidade não é assim, porém a maneira em que eu ''abri'' mão de algumas coisas da minha vida, foram atos de desespero, para justamente lutar contra qualquer ansiedade futura, sem ver lado bom ou ruim, não esperar para ver o desenrolar.

O que mais me enlouquece e me deixa confusa, é que o homem que Mark se tornou, ao menos visualmente, é algo impossível de não admirar, eu conheço ele, mas ele continua despertando uma certa curiosidade. O que mudou? O que evoluiu? Qual foram as escolhas dele? Ele conseguiu o que desejava na vida? Eu queria sentar e conversar com ele abertamente, sem medo, como era antes, porque eu posso esconder, brincar, mas não consigo mentir para mim mesma que ainda sou completamente atraída por ele, querer estar ao lado dele, abraçar ele, ser amada novamente do jeito que ele me amou, me cuidou, me protegeu...

Toquei a palma da minha mão na minha testa e olhei os carros em volta, distraída pelos pensamentos, que faziam meu coração acelerar e ao mesmo tempo se fechar novamente, ele vai se casar... Ouvi passos e conversar vindas de dentro da porta e uma música calma tocando, lembrei que havia deixado Mitchell sozinha e logo entrei novamente, olhei em volta e o avistei também me procurando.

- Como foi? – tomei novamente um gole da minha água ao chegar perto dele, que segurou minha mão.

- Achei que você tinha passado mau – ele tocou no peito, sorri e balancei a cabeça – está gelada. – ele falou olhando para minha mão e mantendo ela entre as dele.

- Eu fui tomar um ar, está fresco – andei até o bar e devolvi o copo antes que tudo ficasse lotado de novo – quer ir embora?

- Não sei, o principal já fizemos presença, mas você nunca sai.

- Ah, necessariamente um evento do trabalho não é ''sair'' – rimos – vamos tomar um ar.

- Espera.. – ele andou até o bar e voltou com duas doses de alguma bebida, me entregou e andamos até a rua – está frio mesmo, lá dentro está um forno. – ele bufou e andamos até o carro dele, nos encostamos e eu tirei meus saltos, estávamos a certa de 100 metros da entrada.

- Meus pés já estão doendo-lhe. - olhei para o céu enquanto tomava um gole da bebida, Mitchell olhou para meus pés.

- Mas eles são lindos, então vale a pena. – ele levantou um ombro e eu sorri – quer ir para algum lugar diferente?

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora